Energia interativa
A gestão inteligente de redes de energia, baseada na troca de informações entre consumidores e concessionárias, abre caminho para a eficiência e a transparência
Para o consumidor, maior controle e planejamento dos gastos de energia. Para as empresas concessionárias, o monitoramento preciso do fluxo, a localização dos defeitos e a possibilidade de reparos à distância. São as redes de energia elétrica do futuro.
O smart grid, como também é conhecido, funciona por meio de medidores inteligentes que fazem a comunicação instantânea entre quem recebe e quem oferta energia elétrica. O volume de informações proporciona ao mesmo tempo a interatividade e a autonomia dos atores envolvidos na distribuição de energia, transformando a relação entre eles.
As novas tecnologias vão permitir, por exemplo, a compra de uma quantidade específica de eletricidade com um cartão pré-pago – bastaria digitar o código para ter acesso aos quilowatts. Ou programar a máquina de lavar para funcionar de madrugada, horário em que o custo de energia é menor e a rede está sob menos demanda, evitando o risco de apagões.
Hoje em dia, as empresas ficam sabendo de alguma falha ou queda de energia quando acionadas pelas reclamações dos clientes, para então direcionar uma equipe às proximidades e localizar o ponto exato a ser reparado. Com o smart grid, sensores espalhados pela rede elétrica otimizariam o serviço. Além de diminuir o custo, a tecnologia pode aliviar os picos de demanda, minimizando o desgaste das redes e demandando menos energia das usinas geradoras.
A transição completa do modelo atual para o smart grid, no entanto, exige tempo e dinheiro. Segundo relatório recente do Instituto de Pesquisa em Energia Elétrica (Epri), o funcionamento pleno do smart grid nos EUA custará entre US$ 338 bilhões e US$ 476 bilhões. O valor é altíssimo, mas o instituto prevê um possível retorno sobre o investimento de US$ 1,3 trilhão a US$ 2 trilhões num prazo de 20 anos.
A implementação do smart grid em grande escala aconteceu pela primeira vez na Itália, em 2005, pela concessionária Enel. O custo foi de 2,1 bilhões de euros, mas segundo o americano National Energy Technology Laboratory (NETL), o projeto possibilitou a economia de 500 milhões de euros anuais ao país.
No Reino Unido, o governo anunciou um projeto de instalação de 53 milhões de medidores inteligentes de gás e eletricidade. O secretário do Departamento de Energia e Mudanças Climáticas britânico Chris Huhne declarou: “Os medidores inteligentes são parte fundamental ao nos dar controle sobre como utilizamos a energia em casa e no trabalho, ajudando a reduzir o desperdício e a economizar dinheiro”.
Brasil entra no páreo
A previsão é de que, até 2030, o Brasil será o sexto país do mundo em investimentos na área, segundo relatório do Innovation Observatory. De acordo com a coautora do relatório, Catherine Viola, o País espera instalar 63 milhões de medidores inteligentes até 2021.
Em novembro de 2010, a AES Eletropaulo anunciou um projeto-piloto no bairro do Ipiranga, em São Paulo, no qual seriam investidos de R$ 4 milhões a R$ 5 milhões. O projeto envolve 2 mil medidores eletrônicos monitorando o consumo de energia e pretende ainda automatizar a localização e a resolução à distância de falhas no fornecimento.
Outra possibilidade que o smart grid abre é a incorporação à rede de energia gerada por pequenos produtores, sejam eles domésticos, comerciais ou industriais. Nicolau Branco, vice-presidente de operações da Neoris Brasil, diz que a ação desses novos agentes vai contribuir para a redução dos gases de efeito estufa, ao viabilizar a integração de energia limpa e renovável – como a solar e eólica – proveniente de pequenos produtores.
Segundo Branco, há consenso entre vários analistas de mercado de que a partir de 2020 o Brasil terá capacidade técnica de operar sistemas inteligentes em escala nacional: “Até lá, várias barreiras precisam ser quebradas, e as mais complexas são de ordem fiscal e tributária. Veremos mercados mais maduros e regulados, grandes e pequenos investimentos, com a garantia de uma matriz energética mais sustentável”.
Para ele, este pode ser o legado da nossa geração, que vem usufruindo das riquezas e oportunidades geradas no século XX, mas sofre com os impactos sociais e ambientais da política do progresso a qualquer custo.