Em geral, as reuniões do G20 – o grupo das 20 maiores economias do mundo – envolvem os ministros das finanças e os presidentes dos bancos centrais dos países membros, inclusive o Brasil. Mas no dia 22 e 23 de junho, pela primeira vez, estarão reunidos em Paris os ministros da agricultura dessas nações. Assunto, com certeza, é o que não vai faltar. O mais recente alerta sobre o cenário de oferta, demanda e preços dos alimentos soou na última terça-feira quando a Food and Agriculture Organization (FAO) publicou a edição de 2011 de seu relatório bianual Food Outlook.
O índice calculado pela FAO indica que, na média global, os preços dos alimentos quase dobraram de 2004 a 2008 e continuam altos desde então. Atualmente, diz o Food Outlook, os estoques estão baixos e houve apenas aumentos “modestos” nas safras mais importantes. Os próximos meses serão cruciais para determinar a produção global desse ano, mas o relatório antecipa que a tendência é de volatilidade e preços altos em 2011 e 2012. No começo de 2011, o índice ultrapassou o pico registrado durante que a FAO chama de “crise dos alimentos” em 2007 e 2008, quando houve protestos e conflitos em vários países devido ao alto custo da comida.
A previsão é que o custo das importações de alimentos globalmente bata o recorde esse ano e encoste em US$ 1,3 trilhão, 21% a mais do que no ano passado. A conta com certeza vai ser mais pesada para os países mais pobres. Tanto que no Quênia uma associação de consumidores responsabiliza o governo pela alta dos preços de alimentos e combustíveis e decidiu apelar à Justiça.
Na agenda da reunião dos ministros da agricultura do G20 estará a criação de um sistema de informações sobre o mercado de commodities agrícolas, uma tentativa de reduzir a volatilidade nos preços. Para a Oxfam, uma rede de entidades não governamentais que trabalha para combater a pobreza, é preciso muito mais. Segundo o relatório Growing a Better Future, lançado dias atrás pela entidade, o sistema internacional de produção de alimentos está “quebrado” e, para consertá-lo, é preciso mudar as políticas de subsídios agrícolas, promover técnicas de agricultura sustentáveis e cercear os especuladores que atuam no mercado internacional de alimentos.
A Oxfam lembra que há intensa competição entre a produção de alimentos, de biocombustíveis – segundo a entidade, 15% do milho produzido no mundo vai parar em motores de veículos – e de ração para atender ao aumento na demanda por carne. Ao mesmo tempo, a capacidade de produzir vem diminuindo devido a problemas ambientais como a falta de água e as mudanças climáticas. Serão elas, as mudanças do clima, as responsáveis por até metade do aumento de até 180% nos preços médios de safras básicas previsto para até 2030, segundo a Oxfam.
O cenário global da produção de alimentos é um daqueles problemas tão grandes e complexos que acabam levando o cidadão comum ou a ignorá-lo ou a se sentir deprimido. Mas, além de votar conscientemente e pressionar seus representantes eleitos para que adotem políticas sensatas em relação à produção agrícola e o meio ambiente, há uma medida simples que todos podemos adotar: evitar o desperdício. Um estudo publicado em maio pela FAO, apontando que um terço dos alimentos produzidos anualmente acaba perdido ou desperdiçado, mostra que há muito espaço para agir.