Com o salto na produção de commodities no Brasil, o aumento no consumo de fertilizantes gera mais desafios ambientais no campo
O consumo de fertilizantes químicos continua a crescer e, em tempos de aquecimento global, isso não é uma boa notícia. Desde a Revolução Verde, nos anos 50 [1], o consumo desses insumos é um componente central da economia de qualquer país com vocação agrícola. Não é à toa que, em 60 anos, o uso de adubos em todo o mundo mais do que decuplicou, passando de 14 milhões de toneladas em 1950 para 163 milhões de toneladas em 2010 [2].
[1] Momento a partir do qual o uso de tecnologia permitiu o aumento exponencial da produção de alimentos.
Mas essa elevação do consumo, embora represente ganhos de produtividade agrícola, foi acompanhada por uma série de problemas ambientais. O fósforo, por exemplo, quando carregado pelas chuvas, aumenta quantidade de matéria orgânica em rios e mares e causa a proliferação de algas, a chamada eutrofização. Adubos nitrogenados podem contaminar lençóis freáticos ou ainda contribuir para danificar a camada de ozônio, além de agravar o efeito estufa.
[2] Dados compilados pelo Earth Policy Institute. Acesse aqui.
Os fertilizantes nitrogenados, quando aplicados ao solo desprendem nitrogênio na atmosfera. O gás, combinado ao oxigênio origina o óxido nitroso (N2O) – um dos principais gases de efeito estufa, com potencial de retenção do calor na atmosfera 298 vezes superior ao do CO2.
Hoje, as emissões globais do setor agropecuário representam 13,5% em termos de CO2 equivalente [3].
[3] IPCC, Quarto Relatório, 2007. Disponível aqui.
Cerca de 45% deste total deve-se às emissões de N2O [4].
[4] Working Paper – Greenhouse Gas Emissions 2005, World Resources Institute 2009. Disponível aqui.
No Brasil, embora os nutrientes mais consumidos sejam o potássio e o fósforo, que podem ser considerados menos nocivos, o uso de adubos nitrogenados tem aumentado.
De acordo com a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), o consumo de fertilizantes à base de nitrogênio cresceu 15% no primeiro trimestre deste ano em comparação com o mesmo período de 2010. De acordo com o diretor executivo da Anda, David Roquetti, o salto no consumo deve-se à expansão das lavouras de cana, milho e café no Brasil, culturas que, ao contrário da soja, do feijão, do amendoim e algumas variedades de pastagens, dependem de mais de aplicações de nitrogênio. Esse aumento contraria as diretrizes da Política Nacional de Mudanças Climáticas, que prevê a redução de nitrogênio na lavoura como uma das principais ações para a mitigação das emissões de gases estufa. De acordo com o último inventário do Ministério da Ciência e Tecnologia, lançado no fim do ano passado com base nos dados de 2005, as emissões de óxido nitroso cresceram 43% desde 1994.
Esse cenário não deve mudar a curto prazo, avalia Roquetti, pois as alternativas para a substituição aos fertilizantes convencionais ainda não estão disponíveis em larga escala. Uma saída já adotada no Brasil, principalmente na cultura da soja, é o emprego da fixação biológica de nitrogênio. A técnica, que foi desenvolvida pela Embrapa, consiste, em termos simplificados, na inoculação de bactérias que vivem nas raízes das leguminosas e garantem a absorção de nitrogênio que está na atmosfera pelas plantas, em um processo de simbiose.
Roquetti observa, entretanto, que, enquanto novas tecnologias para a absorção do nutriente não ganham escala, a melhor política para evitar danos ambientais é a eficiência na aplicação dos adubos. “Tudo se resume à sigla BPUEF – Boas Práticas para a Utilização Eficiente de Fertilizantes”, diz o executivo.
A projeção da Anda é de que 2011 seja o ano de maior volume de vendas na história do setor: 26 milhões de toneladas, de acordo com medições feitas desde 1992. Da mesma forma, o faturamento deve continuar crescendo. Em 2010, os ganhos chegaram a R$ 11,2 bilhões, ante os R$ 9,7 bilhões do ano anterior.[:en]Com o salto na produção de commodities no Brasil, o aumento no consumo de fertilizantes gera mais desafios ambientais no campo
O consumo de fertilizantes químicos continua a crescer e, em tempos de aquecimento global, isso não é uma boa notícia. Desde a Revolução Verde, nos anos 50 [1], o consumo desses insumos é um componente central da economia de qualquer país com vocação agrícola. Não é à toa que, em 60 anos, o uso de adubos em todo o mundo mais do que decuplicou, passando de 14 milhões de toneladas em 1950 para 163 milhões de toneladas em 2010 [2].
[1] Momento a partir do qual o uso de tecnologia permitiu o aumento exponencial da produção de alimentos.
Mas essa elevação do consumo, embora represente ganhos de produtividade agrícola, foi acompanhada por uma série de problemas ambientais. O fósforo, por exemplo, quando carregado pelas chuvas, aumenta quantidade de matéria orgânica em rios e mares e causa a proliferação de algas, a chamada eutrofização. Adubos nitrogenados podem contaminar lençóis freáticos ou ainda contribuir para danificar a camada de ozônio, além de agravar o efeito estufa.
[2] Dados compilados pelo Earth Policy Institute. Acesse aqui.
Os fertilizantes nitrogenados, quando aplicados ao solo desprendem nitrogênio na atmosfera. O gás, combinado ao oxigênio origina o óxido nitroso (N2O) – um dos principais gases de efeito estufa, com potencial de retenção do calor na atmosfera 298 vezes superior ao do CO2.
Hoje, as emissões globais do setor agropecuário representam 13,5% em termos de CO2 equivalente [3].
[3] IPCC, Quarto Relatório, 2007. Disponível aqui.
Cerca de 45% deste total deve-se às emissões de N2O [4].
[4] Working Paper – Greenhouse Gas Emissions 2005, World Resources Institute 2009. Disponível aqui.
No Brasil, embora os nutrientes mais consumidos sejam o potássio e o fósforo, que podem ser considerados menos nocivos, o uso de adubos nitrogenados tem aumentado.
De acordo com a Associação Nacional para Difusão de Adubos (Anda), o consumo de fertilizantes à base de nitrogênio cresceu 15% no primeiro trimestre deste ano em comparação com o mesmo período de 2010. De acordo com o diretor executivo da Anda, David Roquetti, o salto no consumo deve-se à expansão das lavouras de cana, milho e café no Brasil, culturas que, ao contrário da soja, do feijão, do amendoim e algumas variedades de pastagens, dependem de mais de aplicações de nitrogênio. Esse aumento contraria as diretrizes da Política Nacional de Mudanças Climáticas, que prevê a redução de nitrogênio na lavoura como uma das principais ações para a mitigação das emissões de gases estufa. De acordo com o último inventário do Ministério da Ciência e Tecnologia, lançado no fim do ano passado com base nos dados de 2005, as emissões de óxido nitroso cresceram 43% desde 1994.
Esse cenário não deve mudar a curto prazo, avalia Roquetti, pois as alternativas para a substituição aos fertilizantes convencionais ainda não estão disponíveis em larga escala. Uma saída já adotada no Brasil, principalmente na cultura da soja, é o emprego da fixação biológica de nitrogênio. A técnica, que foi desenvolvida pela Embrapa, consiste, em termos simplificados, na inoculação de bactérias que vivem nas raízes das leguminosas e garantem a absorção de nitrogênio que está na atmosfera pelas plantas, em um processo de simbiose.
Roquetti observa, entretanto, que, enquanto novas tecnologias para a absorção do nutriente não ganham escala, a melhor política para evitar danos ambientais é a eficiência na aplicação dos adubos. “Tudo se resume à sigla BPUEF – Boas Práticas para a Utilização Eficiente de Fertilizantes”, diz o executivo.
A projeção da Anda é de que 2011 seja o ano de maior volume de vendas na história do setor: 26 milhões de toneladas, de acordo com medições feitas desde 1992. Da mesma forma, o faturamento deve continuar crescendo. Em 2010, os ganhos chegaram a R$ 11,2 bilhões, ante os R$ 9,7 bilhões do ano anterior.