Os poucos dados disponíveis indicam que o turismo em áreas naturais reverte em pouco desenvolvimento para os lugares que explora. A construção de indicadores que monitorem a atividade está só começando, mas a percepção é de que a renda deixada pelo visitante mal chega ao visitado.
Para quem deseja passar férias em esplêndidos cenários naturais, o Brasil é o destino número 1, segundo o Índice de Competitividade do Turismo, do Fórum Econômico Mundial [1]. Entre os 139 países do ranking, ninguém tem mais biodiversidade e belezas naturais. Bonito por natureza, mas ameaçado pela falta de investimentos adequados, o Brasil tem no turismo um setor que oscila entre o predador das paisagens que vende e o indutor de desenvolvimento sustentável local [2].
[1] Consulte o ranking aqui.
Apesar de sermos o primeiro da lista em termos de atributos naturais, ocupamos a 29ª posição no que se refere a gestão e conservação desse patrimônio.
[2] O desenvolvimento local é um dos pressupostos do turismo sustentável. Leia mais em reportagem desta edição.
Vamos começar pelas áreas que, em tese, são as mais protegidas do País. Dados sobre o desempenho e o impacto das diferentes modalidades turísticas praticadas no País são escassos e pouco detalhados, mas um documento divulgado em maio pelo Ministério do Meio Ambiente estima que a visitação em Unidades de Conservação (UCs) [3] brasileiras movimentou R$ 460 milhões em 2009 na economia local onde estão situadas [4].
[3] A rigor, uma UC só pode abrir para visitação pública depois de aprovado seu plano de manejo. Isso, entre outros aspectos, definirá quais são os atrativos acessíveis e a quantidade de visitantes que pode ser recebida sem grandes danos ao ambiente.
Entretanto, a conta refere-se apenas aos 18 parques nacionais que oferecem visitação estruturada. Isso não significa que os outros 49 existentes não aceitem turistas. Muitos passam anos recebendo visitantes de forma irregular, como o Parque Nacional da Chapada Diamantina, na Bahia. Criado em 1985, até hoje ele não teve seu plano de manejo concluído e recebe intensa visitação sem qualquer controle.
[4] Disponível no site do MMA, na seção Biodiversidade e Florestas/Publicações.
Ernesto de Castro, coordenador-geral de Visitação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), diz que o órgão está fazendo um ordenamento emergencial nas unidades que recebem visitação regular, mas ainda não possuem plano de manejo, de forma a manter a movimentação turística com menos impacto. Ele cita como exemplo o Parque Nacional de Anavilhanas, no Amazonas, que até 2008 era uma estação ecológica e recebia visitantes de forma irregular.
Lá, o setor turístico apresentou uma lista de atrativos dentro do parque que gostaria de operar regularmente e o diálogo resultou na mudança de categoria para parque, que permite mais visitação. “Agora estamos definindo critérios e condutas mínimas de visitação, até que o plano de manejo seja concluído.”
Ajuda ou atrapalha?
De olho nos turistas que virão para a Copa em 2014, o ICMBio priorizará a conclusão dos planos de manejo e melhoria da infraestrutura de 26 Ucs próximas às cidades onde ocorrerão os jogos. “O turismo é uma oportunidade, mas também um risco. Se começar a levar muita gente sem bons instrumentos de controle, sem uma boa relação com os operadores, pode resultar em degradação”, afirma Castro.
Se dentro das áreas mais protegidas a contabilidade dos impactos e benefícios do turismo é frágil, em áreas naturais fora das Ucs ela praticamente inexiste.
“Um dos problemas muito discutidos atualmente é justamente a contabilidade ambiental”, afirma a professora de Turismo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Glória Maria Widmer. “Nós sabemos que os impactos existem, mas ainda não temos metodologia desenvolvida para analisá-los. Em muitos locais, o turismo se dá junto com outras atividades, é difícil determinar onde termina a responsabilidade de uma atividade e começa a de outra.”
A construção desses indicadores é uma das pautas na agenda do grupo de pesquisas coordenado pela professora da UFPE. Nathália Körössy Leite, uma das pesquisadoras participantes, está desenvolvendo uma metodologia baseada nos indicadores da Organização Mundial do Turismo. A ideia é estabelecer os critérios de avaliação e, depois, aplicar em um projeto piloto. Mas essa fase experimental ainda não tem previsão de início.
A preocupação com indicadores de monitoramento das atividades turísticas também chegou ao Terceiro Setor. O Instituto Peabiru, organização não mental que promove capacitações sobre ecoturismo no Pará desde 2000, começou a se preocupar com isso recentemente. Por meio de um projeto, em parceria com o Instituto Floresta Tropical, iniciado em março em Almeirim (PA), está definindo um marco zero baseado em dados sobre o ambiente e diagnóstico comunitário. A partir desses dados, será possível monitorar os impactos positivos e negativos das atividades, que, além do fomento ao turismo, visa melhorias na cadeia de produtos, como cacau e castanha.
Isso representa uma mudança na metodologia de trabalho da organização, que até então monitorava apenas alguns indicadores econômicos, como número de visitantes e receita gerada para a comunidade – como feito na Reserva Extrativista Mãe Grande de Curuçá, no litoral paraense.
A reserva, situada em uma área considerada como um dos maiores manguezais do planeta, vive da pesca artesanal e coleta de mariscos e caranguejos. O Peabiru chegou lá em 2006, oferecendo capacitação para jovens. Eles gostaram tanto da ideia que criaram o Instituto Tapiaim de Ecoturismo, e possuem parceria com duas agências, uma de Belém e outra de São Paulo. Entre 2008 e 2010, a comunidade recebeu 116 visitantes, que deixaram lá pouco mais de R$ 7,6 mil.
Embora promissor, esse resultado reflete outro aspecto crítico: o dinheiro que entra nas comunidades é inconstante e dificilmente pode sustentá-las sozinho. Não há informações precisas sobre o volume de recursos que fica nas pequenas comunidades onde os turistas circulam em busca contato com a natureza. De todo modo, estima-se que seja pouco.
Ana Gabriela Fontoura, coordenadora do projeto no Instituto Peabiru, diz que normalmente a economia local se limita à venda de artesanato e empregos de baixa remuneração, como motoristas e cozinheiras. “Não é o que acontece em Curuçá. Lá, a ideia é que eles não sejam apenas empregados, mas responsáveis pela própria gestão do turismo.”
A coordenadora diz que calcular a participação do turismo comunitário na renda de uma comunidade é difícil, porque a diversificação de fontes varia muito, e o objetivo é justamente conhecer essas outras atividades. “O turismo de base comunitária não substitui as atividades tradicionais que as comunidades fazem, e essa deve ser uma renda complementar.” O governo federal vê a modalidade da mesma forma, mas também não contabiliza o impacto na economia local.
Katia Silva, coordenadora-geral de Projetos Estruturantes do Ministério do Turismo, diz que o custo de implantação de instrumentos de monitoramento é maior do que a atividade econômica gerada. Por isso, o órgão monitora apenas se existe fluxo turístico e se o produto ou serviço é feito com segurança para o turista. “O que importa é que eles se insiram no mercado com uma atividade inédita, autêntica, sintonizada com a comunidade, e que crie um diferencial para aquele destino”, afirma. Em 2008, o Ministério do Turismo aprovou 50 projetos de apoio ao turismo de base comunitária, desde destinos até atividades correlatas, como grupos culturais e fornecedores de produtos e serviços [5]. A partir daí, o investimento médio nesse segmento de mercado tem sido de R$ 3,5 milhões por ano.
[5] A lista completa de projetos e o mapa dos destinos está disponível na seção de Publicações do site do Ministério do Turismo.
Negócio inovador
Se o turismo sustentável é um nicho de mercado jovem, os roteiros destinados a promover encontros culturais entre turistas e comunidades rurais, extrativistas ou de pescadores são praticamente recém-nascidos. Há poucas agências especializadas nesse tipo de pacote e, o público, ainda restrito. Ana Fontoura, do Peabiru, diz que as agências têm pé-atrás com esse tipo de passeio, receando que os pacotes sejam pouco lucrativos e que não haja qualidade e segurança no atendimento. “É um produto muito inovador. Os agentes têm dificuldade para transmitir ao cliente seu valor agregado”, analisa.
Encontrar a comunicação adequada para vender roteiros tão diferenciados é um dos desafios da Aoka, uma agência especializada em turismo sustentável. “Eu preciso passar para o cliente o valor que existe numa viagem dessas, sem que isso soe assistencialista ou hippie”, afirma Ricardo Gravina, sócio-fundador da Aoka. A empresa nasceu ligada ao Projeto Bagagem, uma das primeiras organizações a levantar a bandeira do turismo de base comunitária, e hoje ampliou sua atuação trabalhando em parceria com outras organizações.
Antes de incluir uma comunidade em seu portfólio, a agência realiza um diagnóstico socioambiental da comunidade e identifica lideranças e formas de organização locais. A partir disso, a caracterização do pacote, chamado de Experiência Aoka, é feita de maneira participativa, desde a definição do roteiro e capacidade de carga de trilhas até a tabela de preços dos produtos e serviços. Todo o processo de preparação de uma comunidade leva em torno de oito meses. Atualmente, a Aoka trabalha com 15 comunidades, em diferentes regiões do País [6].
[6] Um mapa interativo com as experiências está disponível aqui.
Gravina calcula que, do montante de recursos de campo de um pacote, que inclui logística, hospedagem e alimentação, cerca de 30% ficam para as comunidades. “Se tem uma atividade que pode realmente trazer desenvolvimento local sustentável e preservação ambiental, é o turismo. Mas não é o que vemos com o turismo convencional. Ao contrário, muitas vezes ele é totalmente prejudicial, deixa pouco dinheiro e inflaciona a vida das comunidades”, avalia.
Ele salienta que o trabalho não se limita à geração de renda, há também a preocupação de que ela se reverta em benefícios para toda a comunidade. Uma parte da renda gerada vai diretamente para as pessoas que trabalharam na recepção aos turistas, e outra, para as organizações locais, garantindo recursos para investir em equipamentos coletivos e estruturas, como centros comunitários.
A experiência levou à criação de um fundo para projetos de até R$ 10 mil. “A gente percebeu que existiam demandas grandes demais para que eles conseguissem resolver sozinhos, mas pequenas demais para poderem ser contempladas em editais.” A agência ajuda as comunidades a elaborar o projeto de captação, contribui com parte do faturamento de seus pacotes, e busca doadores para o restante.[:en]Os poucos dados disponíveis indicam que o turismo em áreas naturais reverte em pouco desenvolvimento para os lugares que explora. A construção de indicadores que monitorem a atividade está só começando, mas a percepção é de que a renda deixada pelo visitante mal chega ao visitado.
Para quem deseja passar férias em esplêndidos cenários naturais, o Brasil é o destino número 1, segundo o Índice de Competitividade do Turismo, do Fórum Econômico Mundial [1]. Entre os 139 países do ranking, ninguém tem mais biodiversidade e belezas naturais. Bonito por natureza, mas ameaçado pela falta de investimentos adequados, o Brasil tem no turismo um setor que oscila entre o predador das paisagens que vende e o indutor de desenvolvimento sustentável local [2].
[1] Consulte o ranking aqui.
Apesar de sermos o primeiro da lista em termos de atributos naturais, ocupamos a 29ª posição no que se refere a gestão e conservação desse patrimônio.
[2] O desenvolvimento local é um dos pressupostos do turismo sustentável. Leia mais em reportagem desta edição.
Vamos começar pelas áreas que, em tese, são as mais protegidas do País. Dados sobre o desempenho e o impacto das diferentes modalidades turísticas praticadas no País são escassos e pouco detalhados, mas um documento divulgado em maio pelo Ministério do Meio Ambiente estima que a visitação em Unidades de Conservação (UCs) [3] brasileiras movimentou R$ 460 milhões em 2009 na economia local onde estão situadas [4].
[3] A rigor, uma UC só pode abrir para visitação pública depois de aprovado seu plano de manejo. Isso, entre outros aspectos, definirá quais são os atrativos acessíveis e a quantidade de visitantes que pode ser recebida sem grandes danos ao ambiente.
Entretanto, a conta refere-se apenas aos 18 parques nacionais que oferecem visitação estruturada. Isso não significa que os outros 49 existentes não aceitem turistas. Muitos passam anos recebendo visitantes de forma irregular, como o Parque Nacional da Chapada Diamantina, na Bahia. Criado em 1985, até hoje ele não teve seu plano de manejo concluído e recebe intensa visitação sem qualquer controle.
[4] Disponível no site do MMA, na seção Biodiversidade e Florestas/Publicações.
Ernesto de Castro, coordenador-geral de Visitação do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), diz que o órgão está fazendo um ordenamento emergencial nas unidades que recebem visitação regular, mas ainda não possuem plano de manejo, de forma a manter a movimentação turística com menos impacto. Ele cita como exemplo o Parque Nacional de Anavilhanas, no Amazonas, que até 2008 era uma estação ecológica e recebia visitantes de forma irregular.
Lá, o setor turístico apresentou uma lista de atrativos dentro do parque que gostaria de operar regularmente e o diálogo resultou na mudança de categoria para parque, que permite mais visitação. “Agora estamos definindo critérios e condutas mínimas de visitação, até que o plano de manejo seja concluído.”
Ajuda ou atrapalha?
De olho nos turistas que virão para a Copa em 2014, o ICMBio priorizará a conclusão dos planos de manejo e melhoria da infraestrutura de 26 Ucs próximas às cidades onde ocorrerão os jogos. “O turismo é uma oportunidade, mas também um risco. Se começar a levar muita gente sem bons instrumentos de controle, sem uma boa relação com os operadores, pode resultar em degradação”, afirma Castro.
Se dentro das áreas mais protegidas a contabilidade dos impactos e benefícios do turismo é frágil, em áreas naturais fora das Ucs ela praticamente inexiste.
“Um dos problemas muito discutidos atualmente é justamente a contabilidade ambiental”, afirma a professora de Turismo da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) Glória Maria Widmer. “Nós sabemos que os impactos existem, mas ainda não temos metodologia desenvolvida para analisá-los. Em muitos locais, o turismo se dá junto com outras atividades, é difícil determinar onde termina a responsabilidade de uma atividade e começa a de outra.”
A construção desses indicadores é uma das pautas na agenda do grupo de pesquisas coordenado pela professora da UFPE. Nathália Körössy Leite, uma das pesquisadoras participantes, está desenvolvendo uma metodologia baseada nos indicadores da Organização Mundial do Turismo. A ideia é estabelecer os critérios de avaliação e, depois, aplicar em um projeto piloto. Mas essa fase experimental ainda não tem previsão de início.
A preocupação com indicadores de monitoramento das atividades turísticas também chegou ao Terceiro Setor. O Instituto Peabiru, organização não mental que promove capacitações sobre ecoturismo no Pará desde 2000, começou a se preocupar com isso recentemente. Por meio de um projeto, em parceria com o Instituto Floresta Tropical, iniciado em março em Almeirim (PA), está definindo um marco zero baseado em dados sobre o ambiente e diagnóstico comunitário. A partir desses dados, será possível monitorar os impactos positivos e negativos das atividades, que, além do fomento ao turismo, visa melhorias na cadeia de produtos, como cacau e castanha.
Isso representa uma mudança na metodologia de trabalho da organização, que até então monitorava apenas alguns indicadores econômicos, como número de visitantes e receita gerada para a comunidade – como feito na Reserva Extrativista Mãe Grande de Curuçá, no litoral paraense.
A reserva, situada em uma área considerada como um dos maiores manguezais do planeta, vive da pesca artesanal e coleta de mariscos e caranguejos. O Peabiru chegou lá em 2006, oferecendo capacitação para jovens. Eles gostaram tanto da ideia que criaram o Instituto Tapiaim de Ecoturismo, e possuem parceria com duas agências, uma de Belém e outra de São Paulo. Entre 2008 e 2010, a comunidade recebeu 116 visitantes, que deixaram lá pouco mais de R$ 7,6 mil.
Embora promissor, esse resultado reflete outro aspecto crítico: o dinheiro que entra nas comunidades é inconstante e dificilmente pode sustentá-las sozinho. Não há informações precisas sobre o volume de recursos que fica nas pequenas comunidades onde os turistas circulam em busca contato com a natureza. De todo modo, estima-se que seja pouco.
Ana Gabriela Fontoura, coordenadora do projeto no Instituto Peabiru, diz que normalmente a economia local se limita à venda de artesanato e empregos de baixa remuneração, como motoristas e cozinheiras. “Não é o que acontece em Curuçá. Lá, a ideia é que eles não sejam apenas empregados, mas responsáveis pela própria gestão do turismo.”
A coordenadora diz que calcular a participação do turismo comunitário na renda de uma comunidade é difícil, porque a diversificação de fontes varia muito, e o objetivo é justamente conhecer essas outras atividades. “O turismo de base comunitária não substitui as atividades tradicionais que as comunidades fazem, e essa deve ser uma renda complementar.” O governo federal vê a modalidade da mesma forma, mas também não contabiliza o impacto na economia local.
Katia Silva, coordenadora-geral de Projetos Estruturantes do Ministério do Turismo, diz que o custo de implantação de instrumentos de monitoramento é maior do que a atividade econômica gerada. Por isso, o órgão monitora apenas se existe fluxo turístico e se o produto ou serviço é feito com segurança para o turista. “O que importa é que eles se insiram no mercado com uma atividade inédita, autêntica, sintonizada com a comunidade, e que crie um diferencial para aquele destino”, afirma. Em 2008, o Ministério do Turismo aprovou 50 projetos de apoio ao turismo de base comunitária, desde destinos até atividades correlatas, como grupos culturais e fornecedores de produtos e serviços [5]. A partir daí, o investimento médio nesse segmento de mercado tem sido de R$ 3,5 milhões por ano.
[5] A lista completa de projetos e o mapa dos destinos está disponível na seção de Publicações do site do Ministério do Turismo.
Negócio inovador
Se o turismo sustentável é um nicho de mercado jovem, os roteiros destinados a promover encontros culturais entre turistas e comunidades rurais, extrativistas ou de pescadores são praticamente recém-nascidos. Há poucas agências especializadas nesse tipo de pacote e, o público, ainda restrito. Ana Fontoura, do Peabiru, diz que as agências têm pé-atrás com esse tipo de passeio, receando que os pacotes sejam pouco lucrativos e que não haja qualidade e segurança no atendimento. “É um produto muito inovador. Os agentes têm dificuldade para transmitir ao cliente seu valor agregado”, analisa.
Encontrar a comunicação adequada para vender roteiros tão diferenciados é um dos desafios da Aoka, uma agência especializada em turismo sustentável. “Eu preciso passar para o cliente o valor que existe numa viagem dessas, sem que isso soe assistencialista ou hippie”, afirma Ricardo Gravina, sócio-fundador da Aoka. A empresa nasceu ligada ao Projeto Bagagem, uma das primeiras organizações a levantar a bandeira do turismo de base comunitária, e hoje ampliou sua atuação trabalhando em parceria com outras organizações.
Antes de incluir uma comunidade em seu portfólio, a agência realiza um diagnóstico socioambiental da comunidade e identifica lideranças e formas de organização locais. A partir disso, a caracterização do pacote, chamado de Experiência Aoka, é feita de maneira participativa, desde a definição do roteiro e capacidade de carga de trilhas até a tabela de preços dos produtos e serviços. Todo o processo de preparação de uma comunidade leva em torno de oito meses. Atualmente, a Aoka trabalha com 15 comunidades, em diferentes regiões do País [6].
[6] Um mapa interativo com as experiências está disponível aqui.
Gravina calcula que, do montante de recursos de campo de um pacote, que inclui logística, hospedagem e alimentação, cerca de 30% ficam para as comunidades. “Se tem uma atividade que pode realmente trazer desenvolvimento local sustentável e preservação ambiental, é o turismo. Mas não é o que vemos com o turismo convencional. Ao contrário, muitas vezes ele é totalmente prejudicial, deixa pouco dinheiro e inflaciona a vida das comunidades”, avalia.
Ele salienta que o trabalho não se limita à geração de renda, há também a preocupação de que ela se reverta em benefícios para toda a comunidade. Uma parte da renda gerada vai diretamente para as pessoas que trabalharam na recepção aos turistas, e outra, para as organizações locais, garantindo recursos para investir em equipamentos coletivos e estruturas, como centros comunitários.
A experiência levou à criação de um fundo para projetos de até R$ 10 mil. “A gente percebeu que existiam demandas grandes demais para que eles conseguissem resolver sozinhos, mas pequenas demais para poderem ser contempladas em editais.” A agência ajuda as comunidades a elaborar o projeto de captação, contribui com parte do faturamento de seus pacotes, e busca doadores para o restante.