Suco de laranja mede pegada de carbono
Em março último, a Associação Nacional dos Exportadores de Sucos Cítricos (CitrusBR) divulgou que cada litro de suco concentrado de laranja brasileira emite 190 gramas de gás carbônico equivalente (CO2e).
O mapeamento das emissões do pomar até a entrega para engarrafadoras foi efetuado pelas quatro maiores exportadoras, reunidas na associação: Cutrale, Citrosuco, Citrovita e Louis Dreyfus.
Não há versão pública do estudo nem o mesmo foi disponibilizado à reportagem pelo presidente da CitrusBR, Christian Lohbauer, que falou sobre o trabalho à Página22.
Por que a CitrusBR decidiu calcular a pegada de carbono do setor de suco?
Há quase três anos a Citrosuco começou a fazer o seu estudo. De lá pra cá, cresceu a demanda dos clientes por informações sobre a sustentabilidade da cadeia, principalmente por parte dos europeus e grandes engarrafadores, como Coca-Cola e PepsiCo. Os europeus já haviam feito estimativas de emissões do pomar até o terminal para diversos produtos que só são engarrafados lá. Então, aproveitamos o que já tinha da Citrosuco e fizemos (o mapeamento) das outras três. Quando terminamos, vimos que nosso número é quase metade da estimativa feita pelos europeus. É difícil trabalhar o tema da sustentabilidade sem ser contaminado por questões econômicas e protecionistas.
Agora que vocês já sabem a pegada, qual a meta de redução das emissões?
Vemos riscos em estabelecer uma meta, porque não se tem ainda um parâmetro de comparação entre as cadeias. A cadeia brasileira (de suco de laranja) é única, porque compõe 85% do mercado (mundial). Então, pode-se dizer com mais segurança que a pegada é “tanto”. A cadeia (global) da maçã, por exemplo, apresentou sua pegada somente com a produção da Alemanha, Hungria e Polônia, e deixou a China de fora. A gente não quer ver maçã dizendo que é mais sustentável que laranja porque emite menos, pois aí o consumidor compara as embalagens e decide tomar mais suco de maçã. Falta muito acordo internacional e muita convergência técnica e metodológica para chegarmos ao ponto em que é possível fazer essa comparação.
Serão adotadas medidas para redução das emissões do transporte?
Há pouco espaço para isso. Nossos caminhões já utilizam o etanol, tanto os próprios quanto os dos terceirizados. Com os navios não há muito que fazer, é a Diesel mesmo. A cadeia da laranja já está muito avançada com relação a questões de sustentabilidade, porque 98% da nossa produção é exportada e, disso, 70% vai para a Europa, de onde vêm as maiores demandas.
Há mais de uma década nos adaptamos a essas exigências de sustentabilidade. A gente aprendeu que a maior parte emissora é a agrícola, e há espaço para redução tanto no pomar quanto na fábrica, com a intensificação do uso do bagaço da cana para peletização da casca da laranja, por exemplo.
Há planos para reduzir as emissões oriundas dos fertilizantes?
Não. Por enquanto vamos fazer as medições todos os anos. Deve haver uma série de mapeamentos para vermos a pegada dentro dessa série histórica, porque há muitas variações na natureza e no negócio.
Tem ano em que há quebra de 30% na colheita; tem ano em que se exporta mais um produto que outro. Não se pode pegar o número de um ano e traduzi-lo como o número do suco, ele é só a amostra de um dos anos. Também queremos medir o sequestro de carbono pelos pomares e fazer o balanço, mas ainda não será neste ano. Este ano vamos calcular também a nossa pegada hídrica.