Lugar de sobra ao sol
O binômio Sol e fontes energéticas mais limpas vem sustentando o crescimento do setor de energia solar no País. De 2009 para 2010, o faturamento das mais de 200 empresas do segmento cresceu 20%, alcançando meio bilhão de dólares no ano passado. O cenário continua favorável à expansão do setor, segundo Marcelo Mesquita, gestor do departamento nacional de aquecimento solar (Dasol) da Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento (Abrava). Ele fala a Página22 sobre mercado, desafios tecnológicos e nichos que podem ser ocupados pelas empresas de aquecimento solar.
Quem são os grandes consumidores de energia solar no País?
No setor industrial, existem os hotéis, restaurantes e empresas com grandes cozinhas industriais. Os projetos de habitação social, como o Minha Casa, Minha Vida (do governo federal) e os da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano), do governo paulista, também são obrigados a investir nesse tipo de energia. A área residencial é igualmente importante. Casas de alto padrão e edifícios residenciais também usam equipamentos de energia solar. Como a tecnologia tem ficado mais barata, as residências a estão consumindo cada vez mais.
Várias cidades brasileiras, como São Paulo, criaram leis que, de certa forma, obrigam ao uso do aquecimento solar. Essa legislação está promovendo aumento nas vendas do setor?
No caso específico da cidade de São Paulo, muitas empresas do setor imobiliário resolveram antecipar seus lançamentos para antes da entrada em vigor da lei (em julho de 2008, obrigando ao uso da tecnologia em imóveis residenciais ou comerciais com quatro ou mais banheiros). Mas agora já estamos sentindo um movimento maior, devido a essa legislação. Os projetistas, por exemplo, têm trabalhado mais em empreendimentos que vão nascer equipados com energia solar. Ao todo, no Brasil, temos 25 leis municipais e 5 estaduais que estimulam o uso do aquecimento solar.
O crescimento do setor para os próximos anos esbarra em quais tipos de obstáculos?
A tecnologia brasileira é consolidada. O que se discute hoje é o aprofundamento da qualidade dos equipamentos. Coletores, por exemplo, que sejam mais eficientes, que possam captar cada vez mais energia. O grande problema é a instalação dos equipamentos. Não adianta comprar o coletor em uma loja e pedir para o encanador de confiança instalar. A orientação precisa ser correta, pois, dependendo da região do País, a angulação do coletor muda. A tubulação também precisar seguir um determinado arranjo, para que não ocorra formação de bolhas, de modo que a água circule de forma adequada.
No Brasil, país em grande parte tropical, pode existir algum problema de “matéria-prima” para o aquecimento solar?
A insolação aqui é fantástica. Mas, devido à facilidade de se obter hidreletricidade, sempre se optou mais em investir nessa segunda fonte, mas que está ficando mais cara. Santa Catarina é um estado que tem até 40% menos de horas de sol ao dia que outros lugares do País, como Pernambuco. Nesse caso, o projetista precisará programar a instalação de mais coletores (em regiões com menos insolação). Independentemente disso, a fonte solar não é 100% autossuficiente.Tem sempre de haver uma alternativa tradicional complementar.