Competitividade é gargalo para a economia verde
No início de agosto, durante sua conferência anual, o Instituto Ethos iniciou um processo de consulta a seus associados sobre economia verde. O objetivo é discutir uma agenda de transição para um novo modelo econômico e colher subsídios para as discussões da Rio+20. O processo inclui consulta on-line e vários debates até maio de 2012, quando a conferência anual do Ethos será realizada às vésperas da Rio+20. Paulo Itacarambi, vicepresidente- executivo da organização, falou a Página22 sobre os desafios dessa transição.
Quais pautas o Ethos deverá apresentar para a comissão brasileira da Rio+20?
Ainda é cedo para falar disso, porque nosso processo de consulta está no início, mas duas já estão presentes. A primeira é como viabilizar essa economia verde sem perder competitividade, valorizando as vantagens comparativas do Brasil. Isso requer medidas de política nacional e global que transformem os experimentos das empresas em práticas rotineiras na economia. Quando se trata de pensar em competitividade, a sustentabilidade ainda está fora. Mudar isso requer um engajamento mais forte do sistema político e mecanismos de mercado que reconheçam valor real nos investimentos em sustentabilidade. A segunda diz respeito à governança. Há mecanismos de governança para a economia, para o ambiente, para questões sociais, para ética, mas todos tratados em ambientes separados. Para uma economia verde includente e responsável, é preciso reunir tudo isso em um único lugar.
Que resultados podem ser esperados da Rio+20?
A Rio+20 é um momento estratégico que poderá fortalecer a economia verde e acelerar seu estabelecimento. Se isso acontecer, será bom para a economia brasileira, para a sociedade e para as empresas que atuam no Brasil. Temos potencial para sermos um dos líderes desse processo, dado nosso capital natural, nossa sociodiversidade, o engajamento de diversos setores da sociedade em iniciativas sustentáveis. A sociedade está cobrando um comportamento mais íntegro de empresas, organizações da sociedade civil, órgãos públicos, e essa cobrança gera muitas iniciativas positivas. Além disso, há uma expectativa dos outros países com relação ao nosso posicionamento para exercer essa liderança.
O que mudou no setor empresarial desde a Rio 92?
Durante toda a década de 90, as empresas tinham uma ação mais reativa em relação aos temas sociais, ambientais e éticos. Exceção era aquela que tinha um comportamento ativo, propositivo. Hoje elas possuem iniciativas, estão formulando propostas, tentando enfrentar problemas e até liderado mudanças, como no caso da influência que tiveram na decisão do governo brasileiro de criar uma política nacional de mudanças climáticas. No Ethos, temos cinco grupos de trabalho assumindo compromissos e formulando propostas de políticas públicas. Agora, para dar o passo de um novo modelo real nos negócios, é preciso mudança na organização do mercado e das políticas econômicas de forma a colocar a sustentabilidade no centro dos negócios. Nenhuma empresa fará isso sozinha, é preciso tratar das questões que determinam o funcionamento do mercado e da macroeconomia.