Grupos insatisfeitos mobilizam-se para transformar a política em algo mais alinhado com os desejos e as necessidades da sociedade. O que sairá disso ainda é uma grande incógnita
Mesmo sem acompanhar os trabalhos do Congresso, não há como negar que algo não vai bem na política brasileira. Os escândalos de corrupção são inúmeros. Há um descolamento entre o que se decide em Brasília e o que realmente precisa ser feito para o País inteiro. E é crescente o sentimento, de parte dos cidadãos, de que os políticos não os representam.
Com tantas demandas e insatisfações, surge um ambiente propício para que segmentos da sociedade se mobilizem. São movimentos que estão nas redes sociais, na frente do Congresso em dia de votação, nas ruas em passeatas contra a corrupção. A lei da Ficha Limpa [1] surgiu principalmente dessa pressão de insatisfeitos. Mas esses grupos são muito pulverizados e de difícil identificação. Há, por exemplo, um embrião de partido, que reúne pessoas que nunca tomaram parte na política, querendo colocar sua pauta no Congresso. Seu nome é Novo, mas o que este propõe de inovador não está tão claro.
[1] Proíbe que políticos condenados em decisões colegiadas de segunda instância possam se candidatar
Também há outras manifestações. Além da repulsa pela corrupção e da vontade de maior participação política, não foi colocada ainda a inserção da sustentabilidade do meio político. E, por isso, a partir de julho deste ano, algumas pessoas se reuniram em torno de Marina Silva (sem partido), ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente, para discutir uma maneira de fazer política que seja alternativa à tradicional.
Trata-se do Movimento por uma Nova Política, que reúne cidadãos apartidários, intelectuais e alguns políticos, como Alfredo Sirkis (PV), Cristovam Buarque (PDT), Pedro Taques (PDT), Walter Feldmann (ex-PSDB), Eduardo Suplicy (PT), Soninha Francine (PPS) e outros. Seu principal objetivo é debater novas formas de participação e representação política. Mas, justamente por reunir membros tão diferentes, suas pautas de discussão não estão bem definidas. A ideia é influenciar diferentes partidos e ampliar seu contato com cidadãos apartidários, com a finalidade de gerar propostas inovadoras.
“O movimento está muito no começo. Toda mudança tem desvios, precisamos observar o que deve prosperar entre as ideias e discussões levantadas”, explica Marina a Página22 (Leia a entrevista na íntegra). Nem mesmo o nome do movimento está consolidado. Uns pensam que não deve ser Nova Política, porque querem a retomada do que se perdeu, um espaço de discussão de qualidade. Outros já o consideram bastante inovador. “Se é velha ou nova, eu a chamo de política certa para o que queremos”, resume Marina.
O comum entre os membros do movimento são a sustentabilidade e a busca da ética na política. E, além de uma aproximação entre sociedade e parlamentares, o movimento também propõe a deliberação horizontal. Ou seja, querem representação efetiva dos políticos, mas também desejam ampliar a participação individual nas decisões e debater em rede. Afinal, uma democracia deveria permitir que todos os interessados contribuíssem no jogo político.
No entanto, a maneira de alcançar isso não está definida. Uma das dificuldades do grupo é como se organizar de maneira arejada e horizontal com o mínimo de hierarquia, aponta Mauricio Brusadin, ex-liderança do Partido Verde. Para Marina Silva, “ainda é cedo e pretensioso definir uma única cara para o movimento. Precisamos de tempo para refletir e pensar nas melhores formas de agir. O movimento não tem maturidade para achar soluções. Se começarmos a agir, será baseado no conhecimento da política estagnada que estamos querendo mudar. Nós não temos as respostas”.
Nesse grupo, não faltam perguntas e dilemas. O que é novo que difere da política tradicional? Como atuar nela? Como colocar as ideias em prática? Como garantir o comprometimento dos governantes com a sustentabilidade? Como discutir de forma horizontal e dar voz a todos em um grupo que reúne pessoas com muitos anos de vida política e jovens com pouca experiência de debate? Como extrair ideias para o coletivo em meio à divergência de interesses? Como trabalhar as questões globais, a exemplo do clima, sem tirar da pauta os temas locais? E como impedir que o movimento sucumba a políticos mal-intencionados?
Alguns elementos do grupo se definem como sonháticos. Para eles, é necessário recriar a política e abrir espaço para utopias. Marcela Moraes, advogada apartidária e integrante do movimento, explica que, pelo fato de ser abstrata e profunda, a discussão pode ser considerada menos séria. “Isso ocorre porque algumas pessoas não trazem para elas a responsabilidade desse trabalho de participação. É difícil rever suas posturas, seus valores e mudar o que está institucionalizado.”
SONHÁTICOS OU REALISTAS
O grupo indica um pouco de sua identidade na carta de princípios do movimento, disponível no site. São eles: 1. Não há separação real entre homem e natureza. O antropocentrismo é uma ilusão que pode ser superada; 2. Não há separação real entre “indivíduo” e “coletivo”, entre corpo e alma, trabalho manual e intelectual, sujeito e objeto. E isso é radical: cada pessoa está na humanidade e tem a humanidade inteira em si, as comunidades são apenas níveis de organização, os partidos e grupos são apenas partes do mesmo organismo; e 3. A disputa de poder pelo poder no Estado ou em qualquer pequena coletividade é um “pacto” de adoecimento coletivo que só reforça e agrava seus sintomas.
Apesar de próximo a Marina, José Eli da Veiga, professor da FEA-USP, discorda. “É uma visão totalmente ingênua, minha impressão é que isso foi escrito por pessoas muito imaturas. Não existe alma, isso é contestável. Eu oponho sonhático a realista. Não se pode deixar de ser realista.”
Já para Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da República, a utopia é necessária. “O sonho é importante, pois se ele ganha força em um determinado momento se cria o caminho novo. Mas não se pode viver só de sonho, senão este movimento de inquietação não leva a lugar algum”, afirma a Página22.
Com a proximidade de novo ano eleitoral, especula- se que essa agitação é o embrião de um futuro partido. Uma parcela de seus membros talvez um dia acabe migrando para essa proposta, mas ainda não há confirmação disso. “Não se cria partido para participar de eleição. A eleição é um dos momentos do jogo político, mas não o principal”, sustenta Marina.
POLÍTICA DOENTE
A corrupção sempre existiu, por que então há mais descontentamento na sociedade? Para o professor de filosofia política da Universidade de São Paulo (USP) Renato Janine Ribeiro, é difícil avaliar se ela realmente cresceu ou se agora é mais bem percebida, pois o grau de tolerância diminuiu.
“Embora o aumento da cobrança pela ética seja positivo, o problema é que a discussão política fica limitada apenas a ela. E está menos voltada para as questões de decisão do País. Geralmente tudo (de errado nas escolhas do governo) tem como motivo a corrupção. Nada se explica por escolhas, por linhas políticas ou por propostas econômicas já superadas. Isso faz com que a discussão política que ocorre no Brasil seja muito fraca.”
Fernando Henrique acrescenta: “O que estamos vivendo no Brasil é um processo mais complicado em que a corrupção torna-se condição para governabilidade. Aqui está começando a virar uma coisa aceita (entre os políticos).”
E, com isso, a política adoece. Isso porque o processo democrático iniciado no começo da década de 1980 está estagnado. A política, em sua essência, é o conjunto de condições pelas quais são tomadas decisões pelos outros. Mas hoje há um abismo entre os representantes do Poder Legislativo e seus representados.
“O Brasil tem muitos partidos que não são partidos. Deveriam ter uma proposta, uma visão, uma filosofia, uma posição diante da sociedade. Eles não têm compromisso com os valores. Alguns ainda têm. Mas são 20 ou mais. Eu nem sei o nome deles”, diz Fernando Henrique.
Eduardo Viola, professor titular do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, explica que a crise na política ocorre pela falta de independência dos parlamentares em relação ao poder econômico. No entanto, identificada esta crise política, que transformações são desejáveis?
A sociedade brasileira sabe quais reformas quer? Para o professor, não há solução perfeita nem entendimento absoluto do que é necessário transformar. Mas ele recomenda que se reduza expressivamente o número de cargos de confiança, que geram um sistema de clientela no serviço público. E propõe uma reforma eleitoral. Da forma que ocorrem hoje, as campanhas são muitos caras e sua sugestão é o voto distrital [2].
[2] Sistema em que cada membro do Parlamento é eleito individualmente nos limites geográficos de um distrito pela maioria dos votos
Outro defensor desse modelo é Fernando Henrique. “Por meio desse sistema, atinge-se um eleitorado menor e cada partido tem um só candidato naquela circunscrição. Isso barateia a eleição.” Para ele, diminuir custos de campanha é uma maneira de desestimular o desvio de dinheiro nos financiamentos. Apesar de aproximar representantes e representados, o voto distrital também recebe críticas por desfavorecer as correntes minoritárias no jogo político. Com o sistema, as minorias teriam mais dificuldade para obter um representante dentro do colégio, pois as correntes majoritárias têm mais força em uma eleição de maioria simples.
O fim do monopólio dos partidos nas candidaturas também é uma sugestão. É preciso pertencer a uma sigla para chegar ao Congresso. “As pessoas que estão na borda do poder não querem mais ser espectadores da política. Não querem mais só receber aquilo que os políticos estabelecem que vão fazer para eles e não com eles. Algumas pessoas querem ser protagonistas”, defende Marina Silva.
A MUDANÇA VAI ACONTECER?
Há uma inquietação política global. O mundo árabe e o europeu passam por profundas mudanças, mas provavelmente este não é um fenômeno que veremos por aqui, na visão de Fernando Henrique. “Somos uma sociedade dotada de mais dinamismo. E onde há mobilidade social é difícil que a sociedade estoure como em outros lugares. Mesmo que esteja próximo de sentir que o sistema político está ruim. Se há oportunidades, é pouco provável que isso resulte em um curto-circuito”, opina.
Com a expansão econômica e a ascensão social evidenciada no Brasil nos últimos anos, Viola acredita que as pessoas tendem a se mobilizar menos. “O jovem, que é fundamental para dar andamento a essas mudanças, nestas condições está mais preocupado em construir sua carreira do que com a política”, assinala.
Em meio à incerteza do andamento desses processos, Oded Grajew, coordenador-geral da rede Nossa São Paulo e apoiador de uma Nova Política, propôs que a sociedade obrigasse os próximos candidatos da eleição de 2012 a assinarem o documento se comprometendo com o Programa Cidades Sustentáveis. (mais em reportagem “Uma cidade para chamar de nossa“)
O que surgirá desses movimentos ainda é uma folha em branco. A vantagem é que assim dá para desenhar algo melhor do que aquilo que aí está[:en]Grupos insatisfeitos mobilizam-se para transformar a política em algo mais alinhado com os desejos e as necessidades da sociedade. O que sairá disso ainda é uma grande incógnita
Mesmo sem acompanhar os trabalhos do Congresso, não há como negar que algo não vai bem na política brasileira. Os escândalos de corrupção são inúmeros. Há um descolamento entre o que se decide em Brasília e o que realmente precisa ser feito para o País inteiro. E é crescente o sentimento, de parte dos cidadãos, de que os políticos não os representam.
Com tantas demandas e insatisfações, surge um ambiente propício para que segmentos da sociedade se mobilizem. São movimentos que estão nas redes sociais, na frente do Congresso em dia de votação, nas ruas em passeatas contra a corrupção. A lei da Ficha Limpa [1] surgiu principalmente dessa pressão de insatisfeitos. Mas esses grupos são muito pulverizados e de difícil identificação. Há, por exemplo, um embrião de partido, que reúne pessoas que nunca tomaram parte na política, querendo colocar sua pauta no Congresso. Seu nome é Novo, mas o que este propõe de inovador não está tão claro.
[1] Proíbe que políticos condenados em decisões colegiadas de segunda instância possam se candidatar
Também há outras manifestações. Além da repulsa pela corrupção e da vontade de maior participação política, não foi colocada ainda a inserção da sustentabilidade do meio político. E, por isso, a partir de julho deste ano, algumas pessoas se reuniram em torno de Marina Silva (sem partido), ex-senadora e ex-ministra do Meio Ambiente, para discutir uma maneira de fazer política que seja alternativa à tradicional.
Trata-se do Movimento por uma Nova Política, que reúne cidadãos apartidários, intelectuais e alguns políticos, como Alfredo Sirkis (PV), Cristovam Buarque (PDT), Pedro Taques (PDT), Walter Feldmann (ex-PSDB), Eduardo Suplicy (PT), Soninha Francine (PPS) e outros. Seu principal objetivo é debater novas formas de participação e representação política. Mas, justamente por reunir membros tão diferentes, suas pautas de discussão não estão bem definidas. A ideia é influenciar diferentes partidos e ampliar seu contato com cidadãos apartidários, com a finalidade de gerar propostas inovadoras.
“O movimento está muito no começo. Toda mudança tem desvios, precisamos observar o que deve prosperar entre as ideias e discussões levantadas”, explica Marina a Página22 (Leia a entrevista na íntegra). Nem mesmo o nome do movimento está consolidado. Uns pensam que não deve ser Nova Política, porque querem a retomada do que se perdeu, um espaço de discussão de qualidade. Outros já o consideram bastante inovador. “Se é velha ou nova, eu a chamo de política certa para o que queremos”, resume Marina.
O comum entre os membros do movimento são a sustentabilidade e a busca da ética na política. E, além de uma aproximação entre sociedade e parlamentares, o movimento também propõe a deliberação horizontal. Ou seja, querem representação efetiva dos políticos, mas também desejam ampliar a participação individual nas decisões e debater em rede. Afinal, uma democracia deveria permitir que todos os interessados contribuíssem no jogo político.
No entanto, a maneira de alcançar isso não está definida. Uma das dificuldades do grupo é como se organizar de maneira arejada e horizontal com o mínimo de hierarquia, aponta Mauricio Brusadin, ex-liderança do Partido Verde. Para Marina Silva, “ainda é cedo e pretensioso definir uma única cara para o movimento. Precisamos de tempo para refletir e pensar nas melhores formas de agir. O movimento não tem maturidade para achar soluções. Se começarmos a agir, será baseado no conhecimento da política estagnada que estamos querendo mudar. Nós não temos as respostas”.
Nesse grupo, não faltam perguntas e dilemas. O que é novo que difere da política tradicional? Como atuar nela? Como colocar as ideias em prática? Como garantir o comprometimento dos governantes com a sustentabilidade? Como discutir de forma horizontal e dar voz a todos em um grupo que reúne pessoas com muitos anos de vida política e jovens com pouca experiência de debate? Como extrair ideias para o coletivo em meio à divergência de interesses? Como trabalhar as questões globais, a exemplo do clima, sem tirar da pauta os temas locais? E como impedir que o movimento sucumba a políticos mal-intencionados?
Alguns elementos do grupo se definem como sonháticos. Para eles, é necessário recriar a política e abrir espaço para utopias. Marcela Moraes, advogada apartidária e integrante do movimento, explica que, pelo fato de ser abstrata e profunda, a discussão pode ser considerada menos séria. “Isso ocorre porque algumas pessoas não trazem para elas a responsabilidade desse trabalho de participação. É difícil rever suas posturas, seus valores e mudar o que está institucionalizado.”
SONHÁTICOS OU REALISTAS
O grupo indica um pouco de sua identidade na carta de princípios do movimento, disponível no site. São eles: 1. Não há separação real entre homem e natureza. O antropocentrismo é uma ilusão que pode ser superada; 2. Não há separação real entre “indivíduo” e “coletivo”, entre corpo e alma, trabalho manual e intelectual, sujeito e objeto. E isso é radical: cada pessoa está na humanidade e tem a humanidade inteira em si, as comunidades são apenas níveis de organização, os partidos e grupos são apenas partes do mesmo organismo; e 3. A disputa de poder pelo poder no Estado ou em qualquer pequena coletividade é um “pacto” de adoecimento coletivo que só reforça e agrava seus sintomas.
Apesar de próximo a Marina, José Eli da Veiga, professor da FEA-USP, discorda. “É uma visão totalmente ingênua, minha impressão é que isso foi escrito por pessoas muito imaturas. Não existe alma, isso é contestável. Eu oponho sonhático a realista. Não se pode deixar de ser realista.”
Já para Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da República, a utopia é necessária. “O sonho é importante, pois se ele ganha força em um determinado momento se cria o caminho novo. Mas não se pode viver só de sonho, senão este movimento de inquietação não leva a lugar algum”, afirma a Página22.
Com a proximidade de novo ano eleitoral, especula- se que essa agitação é o embrião de um futuro partido. Uma parcela de seus membros talvez um dia acabe migrando para essa proposta, mas ainda não há confirmação disso. “Não se cria partido para participar de eleição. A eleição é um dos momentos do jogo político, mas não o principal”, sustenta Marina.
POLÍTICA DOENTE
A corrupção sempre existiu, por que então há mais descontentamento na sociedade? Para o professor de filosofia política da Universidade de São Paulo (USP) Renato Janine Ribeiro, é difícil avaliar se ela realmente cresceu ou se agora é mais bem percebida, pois o grau de tolerância diminuiu.
“Embora o aumento da cobrança pela ética seja positivo, o problema é que a discussão política fica limitada apenas a ela. E está menos voltada para as questões de decisão do País. Geralmente tudo (de errado nas escolhas do governo) tem como motivo a corrupção. Nada se explica por escolhas, por linhas políticas ou por propostas econômicas já superadas. Isso faz com que a discussão política que ocorre no Brasil seja muito fraca.”
Fernando Henrique acrescenta: “O que estamos vivendo no Brasil é um processo mais complicado em que a corrupção torna-se condição para governabilidade. Aqui está começando a virar uma coisa aceita (entre os políticos).”
E, com isso, a política adoece. Isso porque o processo democrático iniciado no começo da década de 1980 está estagnado. A política, em sua essência, é o conjunto de condições pelas quais são tomadas decisões pelos outros. Mas hoje há um abismo entre os representantes do Poder Legislativo e seus representados.
“O Brasil tem muitos partidos que não são partidos. Deveriam ter uma proposta, uma visão, uma filosofia, uma posição diante da sociedade. Eles não têm compromisso com os valores. Alguns ainda têm. Mas são 20 ou mais. Eu nem sei o nome deles”, diz Fernando Henrique.
Eduardo Viola, professor titular do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília, explica que a crise na política ocorre pela falta de independência dos parlamentares em relação ao poder econômico. No entanto, identificada esta crise política, que transformações são desejáveis?
A sociedade brasileira sabe quais reformas quer? Para o professor, não há solução perfeita nem entendimento absoluto do que é necessário transformar. Mas ele recomenda que se reduza expressivamente o número de cargos de confiança, que geram um sistema de clientela no serviço público. E propõe uma reforma eleitoral. Da forma que ocorrem hoje, as campanhas são muitos caras e sua sugestão é o voto distrital [2].
[2] Sistema em que cada membro do Parlamento é eleito individualmente nos limites geográficos de um distrito pela maioria dos votos
Outro defensor desse modelo é Fernando Henrique. “Por meio desse sistema, atinge-se um eleitorado menor e cada partido tem um só candidato naquela circunscrição. Isso barateia a eleição.” Para ele, diminuir custos de campanha é uma maneira de desestimular o desvio de dinheiro nos financiamentos. Apesar de aproximar representantes e representados, o voto distrital também recebe críticas por desfavorecer as correntes minoritárias no jogo político. Com o sistema, as minorias teriam mais dificuldade para obter um representante dentro do colégio, pois as correntes majoritárias têm mais força em uma eleição de maioria simples.
O fim do monopólio dos partidos nas candidaturas também é uma sugestão. É preciso pertencer a uma sigla para chegar ao Congresso. “As pessoas que estão na borda do poder não querem mais ser espectadores da política. Não querem mais só receber aquilo que os políticos estabelecem que vão fazer para eles e não com eles. Algumas pessoas querem ser protagonistas”, defende Marina Silva.
A MUDANÇA VAI ACONTECER?
Há uma inquietação política global. O mundo árabe e o europeu passam por profundas mudanças, mas provavelmente este não é um fenômeno que veremos por aqui, na visão de Fernando Henrique. “Somos uma sociedade dotada de mais dinamismo. E onde há mobilidade social é difícil que a sociedade estoure como em outros lugares. Mesmo que esteja próximo de sentir que o sistema político está ruim. Se há oportunidades, é pouco provável que isso resulte em um curto-circuito”, opina.
Com a expansão econômica e a ascensão social evidenciada no Brasil nos últimos anos, Viola acredita que as pessoas tendem a se mobilizar menos. “O jovem, que é fundamental para dar andamento a essas mudanças, nestas condições está mais preocupado em construir sua carreira do que com a política”, assinala.
Em meio à incerteza do andamento desses processos, Oded Grajew, coordenador-geral da rede Nossa São Paulo e apoiador de uma Nova Política, propôs que a sociedade obrigasse os próximos candidatos da eleição de 2012 a assinarem o documento se comprometendo com o Programa Cidades Sustentáveis. (mais em reportagem “Uma cidade para chamar de nossa“)
O que surgirá desses movimentos ainda é uma folha em branco. A vantagem é que assim dá para desenhar algo melhor do que aquilo que aí está