Espaço é extensão da gente
A exposição O Espaço Que Guardamos em Nós é uma reflexão da nossa capacidade em produzir memórias e atribuir significados e poesia aos lugares que habitamos. Em cartaz no Museu da Imagem e do Som (MIS), em São Paulo, compõe-se de duas séries. Aluga-se, de Pedro David, com imagens de apartamentos desabitados, vazios, na iminência de que alguém restitua sentido àquele espaço. David retrata a ausência e o silêncio projetado na memória daqueles que habitam ou habitaram uma casa. Em Morar, do Coletivo Garapa, a investigação imagética é volumosa, híbrida em sua linguagem e antropológica em torno de questões sobre a existência e o desaparecimento de edifícios na paisagem urbana. “A fotografia é irredutível quando nos amplia olhares e sentimentos, mas é ainda mais indefectível quando faz da nossa imaginação a porta para a compreensão de nós mesmos com nossos espaços”, comenta Georgia Quintas, no texto de apresentação da exposição.
As canções da sua vida
Pedindo que as pessoas cantassem para uma câmera a canção de suas vidas, o documentarista Eduardo Coutinho constrói um filme sobre o amor. A relação das pessoas com o amor. As mulheres, sobremaneira, têm narrativas doídas de histórias amorosas, desilusões, mágoas, uma vida de memória que parece só existir na perspectiva do amor perdido. Exposição sem reservas.
Na sala do cinema, o magnetismo de Coutinho extraindo das pessoas o seu íntimo e o que nos confere de mais humano proporciona esse encontro do espectador com as histórias alheias, as suas próprias e os que se propuseram a passar pela experiência. Estes últimos parecem bastante aliviados/ satisfeitos com a catarse diante daquele ouvido/câmera gigante e generoso desse artista que é Eduardo Coutinho. Emocionante.
A construção da utopia
O longa Reidy, A Construção da Utopia, de Ana Maria Magalhães, aborda a trajetória do urbanista Affonso Eduardo Reidy, um dos pioneiros da arquitetura moderna, responsável pelo projeto e construção do Aterro ou Parque do Flamengo, no Rio de Janeiro. Textos do próprio arquiteto nos contam suas alegrias, decepções e vitórias, além da iluminada contribuição para a capital carioca. Sua obra é debatida em entrevistas, como a do urbanista Lucio Costa, para quem Reidy era o mais elegante e civilizado de sua geração.
Ao construir a paisagem urbana do Rio, Reidy promove a sua transformação em cidade moderna. A atualidade de sua obra permite abordar, entre outros temas, o problema da habitação: favelas, apartheid urbano, mas também a função social da arquitetura e a utopia que guia arquitetos-artistas.
Longe de onde
O segundo disco de Karina Buhr, Longe de Onde, confirma co mo a artista é craque em revirar palavras e expectativas de quem a ouve. A música de Karina tem o sim e o não, como diz Ronaldo Evangelista na apresentação do álbum. Karina faz cinco shows de lançamento em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife, Porto Alegre e Campinas neste fim de ano. Sua poesia passeia pelo amor, mas também pela morte; pela política, mas pelo banal do cotidiano. A sonoridade atravessa o punk e a baladinha; a surf music e o reggae. Vai te levando em surpresas e lirismo, dando um nó gostoso nas possibilidades, ideias, pensamentos, com assertivas absurdas e uma pá de sensações. Assim como em seu primeiro disco (Eu Menti Pra Você, janeiro de 2010), o novo foi produzido por Karina, ao lado de Bruno Buarque e Mau, que fazem parte da banda, junto com o tecladista André Lima e o trompetista Guizado. Completam a trupe neste lançamento a dupla de guitarristas Edgard Scandurra e Fernando Catatau. Ronaldo Evangelista resume, certeiro: “A vivência é única, e é justamente nessa coisa única que tudo se torna mais interessante. Falar muito é como explicar a piada: para fazer ideia, só ouvindo e pensando e sentindo”.