Foi lançada no Brasil a primeira plataforma digital que permite aos cidadãos serem fiscais do meio ambiente. Baseada em um modelo que já mostrou eficácia em outros países, precisa provar que os brasileiros estão aptos à função
O relato do corte de árvores em um parque municipal para dar acesso a carros, no Paraná. O alerta contra a poluição do Rio Pitimbu, no Rio Grande do Norte. E a denúncia de uma usina de reciclagem que, mesmo com dinheiro do BNDES, nunca funcionou, no Pará. Relatos assim, abrangendo todo o Brasil, estão no site revela.org.br, a primeira plataforma de ciberativismo ambiental criado com as informações enviadas por cidadãos por meio de mensagens de celular, Twitter ou e-mail.
A Revela foi lançada em novembro e já tem mais de 2.500 relatos, entre denúncias de danos ambientais e ações exemplares – como parques que protegem a nascente de rios. Toda informação enviada vai para um mapa nacional e, quando comprovada, ganha o selo de “verificada”. A checagem é feita com pesquisas na mídia, dados de órgãos públicos ou no caso de queimadas, com ajuda dos satélites do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), que faz o mapeamento.
A ideia foi criar um banco de dados sobre meio ambiente acessível à população – principalmente os mais jovens, que estão sempre conectados com tecnologia, mas às vezes não sabem onde denunciar ou encontrar soluções, como explica Maria Zulmira de Souza, jornalista e uma das idealizadoras do site.
Outro criador foi o diretor de filmes Gustavo Guimarães, que, indignado com os rumos da discussão do novo Código Florestal, buscava uma forma de atuação direta para a sociedade.
Por isso, na primeira etapa, o objetivo da Revela é destacar projetos de preservação e áreas que deveriam ser protegidas pela legislação brasileira. “A plataforma surgiu para tratar do Código e mostrar que não é só um código florestal, mas urbano também. As denúncias podem ser sobre áreas em florestas ou nas cidades, porque todas nos afetam”, afirma Maria Zulmira.
FERRAMENTA DE ATIVISMO
A Revela usou como base a plataforma de código aberto Ushahidi (“testemunho”, em suaíli, um dos idiomas do Quênia), que sempre esteve ligada à ajuda em situações emergenciais e se mostrou uma ferramenta eficaz de ativismo e cidadania.
Elaborada pelo queniano David Kobia, surgiu em 2008, durante ondas de violência no país depois das eleições presidenciais. Cerca de 45 mil pessoas enviaram informações sobre focos de brigas, saques, incêndios e também esforços de apaziguamento. Dois anos depois, a plataforma foi usada na assistência da população do Haiti durante os terremotos que assolaram o país. As regiões mais afetadas foram mapeadas e voluntários enviaram informações sobre pessoas desaparecidas, falta de água, pontes quebradas e postos de ajuda. No começo deste ano, a Organização das Nações Unidas indicaram o software para divulgar ondas de ações pró-democracia na Líbia.
O Ushahidi foi considerado uma das 26 tecnologias pioneiras pelo Fórum Econômico Mundial, em 2010, por ser um modelo que beneficia a vida das pessoas e a economia global. No mesmo ano, a revista Technology Review, do Massachusetts Institute of Technology, listou David Kobia entre as pessoas com menos de 35 anos mais inovadoras do mundo.
Os bons resultados da Ushahidi em prol de populações é um exemplo de como o chamado excedente cognitivo [1] pode ajudar o mundo, segundo Clay Shirky, professor universitário americano, escritor e pesquisador em internet e efeitos sociais. Na apresentação do TED “How cognitive surplus will change the world”, com uma visão otimista da generosidade humana, ele afirma que a plataforma provou que as pessoas estão aprendendo a usar o tempo livre para atividades construtivas, como o ciberativismo.
[1] Excedente cognitivo é a habilidade das pessoas de se engajarem em causas sociais. Resulta da disposição, do talento e das atuais ferramentas de colaboração, como a internet
Para ele, durante o século XX, a mídia só deu espaço para as pessoas consumirem, mas a internet é um campo de ação. “Não éramos ‘couch potatoes’ (expressão que se refere ao sedentarismo) porque gostávamos de ser, mas, sim, porque essa era a única opção. Nós também gostamos de criar e de compartilhar”, disse, no TED.
Maria Zulmira se diz animada com os primeiros resultados da Revela. Entre os próximos passos está a elaboração de relatórios com o Imaflora e o Imazon para entregar à mídia e órgãos públicos. “As informações não podem morrer no site, por isso é importante a replicação, inclusive nas redes sociais. Queremos que a Revela seja a ferramenta para que as pessoas sejam veículos de informação”, diz[:en]Foi lançada no Brasil a primeira plataforma digital que permite aos cidadãos serem fiscais do meio ambiente. Baseada em um modelo que já mostrou eficácia em outros países, precisa provar que os brasileiros estão aptos à função
O relato do corte de árvores em um parque municipal para dar acesso a carros, no Paraná. O alerta contra a poluição do Rio Pitimbu, no Rio Grande do Norte. E a denúncia de uma usina de reciclagem que, mesmo com dinheiro do BNDES, nunca funcionou, no Pará. Relatos assim, abrangendo todo o Brasil, estão no site revela.org.br, a primeira plataforma de ciberativismo ambiental criado com as informações enviadas por cidadãos por meio de mensagens de celular, Twitter ou e-mail.
A Revela foi lançada em novembro e já tem mais de 2.500 relatos, entre denúncias de danos ambientais e ações exemplares – como parques que protegem a nascente de rios. Toda informação enviada vai para um mapa nacional e, quando comprovada, ganha o selo de “verificada”. A checagem é feita com pesquisas na mídia, dados de órgãos públicos ou no caso de queimadas, com ajuda dos satélites do Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), que faz o mapeamento.
A ideia foi criar um banco de dados sobre meio ambiente acessível à população – principalmente os mais jovens, que estão sempre conectados com tecnologia, mas às vezes não sabem onde denunciar ou encontrar soluções, como explica Maria Zulmira de Souza, jornalista e uma das idealizadoras do site.
Outro criador foi o diretor de filmes Gustavo Guimarães, que, indignado com os rumos da discussão do novo Código Florestal, buscava uma forma de atuação direta para a sociedade.
Por isso, na primeira etapa, o objetivo da Revela é destacar projetos de preservação e áreas que deveriam ser protegidas pela legislação brasileira. “A plataforma surgiu para tratar do Código e mostrar que não é só um código florestal, mas urbano também. As denúncias podem ser sobre áreas em florestas ou nas cidades, porque todas nos afetam”, afirma Maria Zulmira.
FERRAMENTA DE ATIVISMO
A Revela usou como base a plataforma de código aberto Ushahidi (“testemunho”, em suaíli, um dos idiomas do Quênia), que sempre esteve ligada à ajuda em situações emergenciais e se mostrou uma ferramenta eficaz de ativismo e cidadania.
Elaborada pelo queniano David Kobia, surgiu em 2008, durante ondas de violência no país depois das eleições presidenciais. Cerca de 45 mil pessoas enviaram informações sobre focos de brigas, saques, incêndios e também esforços de apaziguamento. Dois anos depois, a plataforma foi usada na assistência da população do Haiti durante os terremotos que assolaram o país. As regiões mais afetadas foram mapeadas e voluntários enviaram informações sobre pessoas desaparecidas, falta de água, pontes quebradas e postos de ajuda. No começo deste ano, a Organização das Nações Unidas indicaram o software para divulgar ondas de ações pró-democracia na Líbia.
O Ushahidi foi considerado uma das 26 tecnologias pioneiras pelo Fórum Econômico Mundial, em 2010, por ser um modelo que beneficia a vida das pessoas e a economia global. No mesmo ano, a revista Technology Review, do Massachusetts Institute of Technology, listou David Kobia entre as pessoas com menos de 35 anos mais inovadoras do mundo.
Os bons resultados da Ushahidi em prol de populações é um exemplo de como o chamado excedente cognitivo [1] pode ajudar o mundo, segundo Clay Shirky, professor universitário americano, escritor e pesquisador em internet e efeitos sociais. Na apresentação do TED “How cognitive surplus will change the world”, com uma visão otimista da generosidade humana, ele afirma que a plataforma provou que as pessoas estão aprendendo a usar o tempo livre para atividades construtivas, como o ciberativismo.
[1] Excedente cognitivo é a habilidade das pessoas de se engajarem em causas sociais. Resulta da disposição, do talento e das atuais ferramentas de colaboração, como a internet
Para ele, durante o século XX, a mídia só deu espaço para as pessoas consumirem, mas a internet é um campo de ação. “Não éramos ‘couch potatoes’ (expressão que se refere ao sedentarismo) porque gostávamos de ser, mas, sim, porque essa era a única opção. Nós também gostamos de criar e de compartilhar”, disse, no TED.
Maria Zulmira se diz animada com os primeiros resultados da Revela. Entre os próximos passos está a elaboração de relatórios com o Imaflora e o Imazon para entregar à mídia e órgãos públicos. “As informações não podem morrer no site, por isso é importante a replicação, inclusive nas redes sociais. Queremos que a Revela seja a ferramenta para que as pessoas sejam veículos de informação”, diz