Dos protestos gerados pela reintegração de posse no bairro do Pinheirinho, em São José dos Campos (SP), à indignação contra a possível perda de liberdade na internet, o fio condutor é semântico. E toda semântica é passível de uso político. Enquanto invadir significa espoliar o direito do outro, ocupar implica o direito de estar lá, como bem lembra o cientista político Lúcio Kowarick (em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo). Pinheirinho é invasão ou ocupação? Wall Street foi invadida ou ocupada?
Occupy – a buzzword dos tempos atuais – parte basicamente da indignação, ou desencanto, com o atual estado do mundo. O sistema vigente não trouxe a prosperidade esperada, nem a segurança almejada, nem o equilíbrio necessário. Crises financeiras, ambientais, sociais e econômicas crônicas, entrelaçadas umas com as outras, sinalizam que as estruturas que suportam nossas formas de se organizar precisam ser revistas, modificadas, aprimoradas. Esse é um direito que temos, ou até mesmo um dever.
Encontrar as brechas nessas vigas e ocupá-las é o primeiro passo para melhorar os sistemas de funcionamento da sociedade e sustentar as transformações. É o que se chama de “proposta hacker”, objeto da reportagem de capa. Enquanto antigos arcabouços correm o risco de ruir, uma inteligência coletiva, alimentada pelo desencanto, cria sementes de outros espaços, propostas e articulações, em um movimento turbinado pelo espírito da inovação.
Pelas brechas a gente respira e se inspira. Boa leitura!