Entrevista com Susana Kahn, subsecretária de Economia Verde do Estado do Rio de Janeiro
A primeira Bolsa Verde do Brasil começará a funcionar na capital fluminense em 20 de junho, o primeiro dos três dias da Rio+20, inicialmente com negociações no mercado voluntário. Até o fim do ano, devem ter início as transações no mercado regulado. Créditos de cinco ativos ambientais serão negociados na Bolsa Verde – carbono, efluentes industriais, recomposição da reserva legal, reposição de supressão de vegetação nativa e logística reversa e reciclagem. O projeto é desenvolvido conjuntamente pelas secretarias estadual do Ambiente e municipal da Fazenda do Rio de Janeiro e a BVRio, uma associação civil sem fins lucrativos. Nesta entrevista, a subsecretária de Economia Verde do Estado do Rio de Janeiro, Suzana Kahn, dá mais detalhes sobre a proposta.
É mais fácil fazer a empresa cumprir suas obrigações ambientais negociando créditos na bolsa?
Em caso de simplesmente se criar uma política de taxação, não se estimula a redução nos custos (de cumprimento da lei), porque se taxa da mesma forma os que têm o maior e o menor custo. No ambiente da Bolsa, estimula- se que se vá migrando para um outro tipo de desenvolvimento. Em termos mais amplos, nosso objetivo maior é fazer uma transição e promover a inovação tecnológica. E o melhor incentivo para isso é realmente diminuir o custo. Na Bolsa, a empresa poderá cumprir suas responsabilidades legais comprando créditos de quem pode cumpri-las com menos gastos e mais rapidamente.
Como se explica o Rio sair na frente de São Paulo, que é o centro financeiro do País?
Há sempre uma conexão do Rio com a questão ambiental e a cidade tem muita visibilidade. O custo de operar na BM&FBovespa há de ser muito maior que no mercado de ativos ambientais que estamos implantando agora no Rio. Muitas vezes, aquilo que é menor tem mais agilidade e flexibilidade do que um mercado mais estruturado, com movimentações diárias em um volume enorme e equipamentos muito mais sofisticados.
Sendo bem-sucedida, a experiência do rio poderá inspirar outros estados a criar bolsas verdes similares à do Rio?
A Bolsa Verde será um espaço seguro de negociação de ativos ambientais. Outros estados que queiram transacionar na nossa plataforma aqui no Rio serão muito bem-vindos. Estamos em contato com os ministérios do Meio Ambiente e da Fazenda, de tal forma que nossa iniciativa seja um piloto que vá crescendo e agregando outros estados, até que se torne algo em escala nacional. O que acho mais interessante para o governo federal é aproveitar a complementaridade entre os estados. Por exemplo, os estados do Sudeste são mais demandantes de créditos de carbono. Já os do Norte são mais ofertantes (devido ao sequestro de carbono pelas florestas).
Que ativo ambiental vai inaugurar as negociações no mercado regulado?
Tenho a impressão de que o mercado de carbono seja o primeiro; mas logística reversa, supressão de vegetação e reposição florestal com reserva legal virão em seguida. Isso tudo já tem lei, é apenas uma questão de regulamentar.
Não é demasiadamente ousado implantar uma bolsa com tantos ativos ambientais, algo inédito no mundo?
Isso não atrapalha, ao contrário, dá escala, porque todos esses mercados usarão a mesma plataforma de negociação. É importante ter escala. Sem volume, não se consegue bancar a estrutura dessa Bolsa. Além disso, são mercados independentes entre si, não competem um com o outro.