Quando desembarcarem na capital fluminense para a Rio+20 dentro de alguns dias, a primeira-ministra australiana e seu ministro do Meio Ambiente trarão na bagagem a notícia da criação da maior rede de reservas marinhos do mundo. A gestão dos recursos marinhos é um dos pontos da agenda australiana para a Rio+20.
Depois de meses de consultas e estudos, o governo australiano anunciou ontem a criação de 44 reservas marinhas, cobrindo mais de 3 milhões de quilômetros quadrados ao redor de todos os estados e territórios australianos.
A rede terá reservas com diferentes níveis de proteção, desde parques nacionais que proíbem não só a pesca, mas também a exploração de petróleo e gás, até zonas multi-uso que permitem alguns tipos e pesca e alguma exploração. Entre as zonas mais importantes estão o Mar de Corais, situado na costa do estado de Queensland e que abriga a Grande Barreira de Corais, e a região de Margaret River, no sul do estado de Western Australia.
A maioria dos conservacionistas aplaudiu a medida. Segundo a Australian Conservation Foundation (ACF), quase todas as reservas criadas proíbem a pesca de arrastão, protegendo vários ecossistemas marinhos frágeis. “Cobrindo 40% das águas australianas, as reservas abrigam 45 das 78 espécies de baleiras e golfinhos do mundo, seis das sete espécies conhecidas de tartarugas marinhas e 4 mil espécies de peixes”, disse a ACF em comunicado.
A indústria da pesca, entretanto, disse que as reservas são um “pesadelo” para pesqueiros em Queensland e Western Australia, com perdas estimadas em até 30%. “As pessoas precisam reconhecer que os pesqueiros na Austrália são os mais sustentáveis do mundo”, disse Gary Ward, representante de uma associação comercial de pescadores. “Eu não consigo entender que o público em geral queira comer peixe importado”.
De acordo com a primeira-ministra Julia Gillard, as reservas afetarão apenas 1% das atividades pesqueiras comerciais, e o governo vai conceder 100 milhões de dólares em compensação à indústria.
Independente da controvérsia em casa, a Austrália deve aparecer bem na fita da Rio+20. Além da rede de reservas marinhas, o país chega à cúpula a apenas algumas semanas de instituir um preço para o carbono.
A cobrança começa em 1o. de julho, com os 500 maiores poluidores pagando 23 dólares australianos pela permissão para emitir uma tonelada de CO2. Em 2015, o preço fixo será substituído por um sistema de cap-and-trade.
A ideia, disse ontem em Perth o ministro para a Mudança Climática Greg Combet, é “estabelecer uma mudança gradual na economia ao longo dos próximos 8 anos para começar a reduzir a taxa de emissões do país”. A meta é cortar as emissões em pelo menos 5% até 2020 na comparação com o ano 2000. Combet reforçou que não se trata de um imposto, mas de precificar uma externalidade. “Não será mais possível poluir de graça”.