A falta de um acordo global com cortes ambiciosos nas emissões de carbono minou investimentos privados em projetos de Redd, visto cinco anos atrás como um dos mais promissores mecanismos do futuro regime climático. Até o momento, tem vindo de fontes públicas o grosso do dinheiro que financia projetos do mecanismo de Redução das Emissões do Desmatamento e da Degradação, incluindo a conservação dos estoques de carbono das florestas (Redd+). Ainda considerada uma ideia de sucesso, o Redd+, porém, enfrenta inúmeros desafios para deslanchar como instrumento efetivo de combate às mudanças climáticas. Alguns desses desafios são comentados na entrevista a seguir, concedida por Arild Angelsen logo após o evento paralelo realizado no dia 18 de junho pelo Centro Internacional de Pesquisa Florestal (Cifor) durante a Rio+20, no Riocentro. No evento, foi lançada a publicação Analysing Redd+: challenges and choices, editada por Angelsen, que é professor da Universidade das Ciências da Vida da Noruega e associado sênior do Cifor. O livro pode ser acessado nesse site.
Qual será o lugar do Redd nas políticas climáticas na falta de um acordo global ambicioso para reduzir emissões de carbono?
A maioria dos países apoiava a ideia de usar o Redd como mecanismo de compensação das emissões dos países desenvolvidos em 2007 e 2008. De lá para cá, como ainda não alcançamos um acordo global de redução das emissões, não obtivemos nenhum recurso importante para o Redd com o mercado de carbono. Talvez isso ocorra a partir de 2020, mas é irrealístico contar com grandes somas de dinheiro do mercado até lá. Portanto, o setor público precisa alocar mais recursos para os projetos de Redd, e é isso o que está acontecendo.
Sem o mercado tão presente, como tem sido o fluxo de recursos para financiar o mecanismo?
O fato de que não se podem usar os mecanismos de mercado significa que menos dinheiro tem sido mobilizado. Se houvesse o mecanismo de mercado, seria necessário um padrão mais uniforme para (os créditos gerados pelo Redd). Hoje, o Redd está relacionado à redução de emissões e da pobreza, proteção da biodiversidade e fortalecimento dos direitos indígenas. O Redd está sendo financiado principalmente por programas de ajuda ao desenvolvimento, o que o torna mais diversificado, para o bem e para o mal.
O Redd, então, ganhou um escopo mais amplo?
Redd não é uma receita para uma política específica. Trata-se de um guarda-chuva para tudo que se faz para diminuir emissões do desmatamento e da degradação florestal e conservar estoques de carbono, que é o Redd+. Em um sentido amplo do termo, o Redd compreende ações que visam reduzir as emissões.
Movimentos sociais e parte dos ambientalistas veem no Redd um instrumento de apropriação da floresta pelo capital. Como o senhor lida com tal questionamento?
Como economista, não temo tanto o mercado, porque o vejo como um instrumento. Se é bom ou não, isso depende de como o regulamos. Pode-se ter mercado para coisas boas, tais como o mercado de alimentos. Gera segurança possuir um mercado de alimentos funcionando bem, podendo salvar milhões de vidas. Contudo, se você tem mercado para armas nucleares, pode matar milhões.
Ambientalistas temem que o Redd inunde o mercado de carbono de créditos baratos, dispensando os países ricos de resolverem o problema dos combustíveis fósseis.
Usar o mecanismo de compensação das emissões (offsetting) é o meio para mobilizar a maior parte do financiamento para o Redd. Se não se faz isso, não se pode pensar realisticamente em grandes aportes financeiros para ele. Mesmo se não se está pronto ainda para lançar o Redd como um mecanismo de offsetting, ele pode ser incluído nos esquemas para cumprimento de metas de redução das emissões dos países desenvolvidos. Nesse caso, o Redd seria incluído, mas os cortes totais nas emissões precisariam ser mais ambiciosos.