Na verdade, este é o início da transição entre o velho e o novo modelo. Seja de produção, seja de consumo, seja de governança. Guimarães Rosa mal podia imaginar que um fragmento de seu Grande Sertão: Veredas ilustraria tão bem tudo isso, na entrada do espaço Humanidade, montado no Forte de Copacabana: “O real não está na saída nem na chegada. Ele se dispõe para a gente é no meio da travessia”.
Nessa travessia, reafirma-se mais uma vez a limitação dos processos formais da ONU na governança global, jogando a bola para a sociedade civil – que, vale lembrar, inclui as empresas, e a cada dia demanda oportunidades de participação e de decisão, de forma mais democrática. Esse movimento, que corre o mundo e questiona o atual establishment, não podia deixar de se manifestar em um encontro como o da Rio+20. Tecer outros formatos de governança com tantos e variados atores é um dos maiores desafios na transição para uma nova economia.
Olhando bem o resultado do documento O Futuro Que Queremos, a lista de iniciativas voluntárias que surgiram no espaço autônomo, e as transformações que mal ou bem estão em curso no dia a dia, o tom deve ser de entusiasmo com o grande trabalho que todos temos pela frente.
A partir disso, organizamos as reportagens desta edição em uma estrutura que é válida tanto para a esfera global como a local. Existe um espaço de articulação ou governança dos diversos atores com diferentes graus de participação e de poder decisório. Esse espaço define a agenda da economia verde e inclusiva, a ser implementada pelos governos e a sociedade civil. Essa agenda, por sua vez, depende de recursos e fundos para se viabilizar, captados via instrumentos financeiros e econômicos, e seu desenvolvimento é medido pelas ferramentas de monitoramento.
Todo esse material jornalístico vem acompanhado de fotografias do Imagens do Povo, produzidas por meio do projeto Outros Olhares – parceria entre Observatório de Favelas, Página22 e Instituto Democracia e Sustentabilidade. Um olhar local do global que, se para alguns parte de um ponto que parece periférico, na realidade está no cerne de tudo o que o desenvolvimento sustentável se propõe a discutir.
Boa leitura!