Quem usa os serviços de empresas de carsharing como a Zipcar em geral não cuida do veículo como se fosse seu e, em alguns casos, assume mais riscos do que se estivesse dirigindo seu próprio carro. Não é de espantar, afinal o usuário não é proprietário e o veículo é compartilhado por vários motoristas, que dispõem do carro às vezes por apenas algumas horas.
A falta de cuidado com os carros da Zipcar foi detectada por pesquisadoras que entrevistaram 40 usuários da empresa na cidade de Boston – suas conclusões acabam de ser publicadas pelo Journal of Consumer Research. Um dos usuários admitiu que pára seu Zipcar em fila dupla ou tenta estacionar em vagas pequenas, arriscando uma batida. Muitos devolvem os carros sujos e com o tanque vazio, o que leva o motorista seguinte a cuidar ainda menos do carro.
A falta de confiança no serviço e nos demais usuários, como mostrou a pesquisa, ainda é o problema central do chamado “consumo colaborativo”, em que o consumidor faz uso de um serviço em vez de adquirir um objeto ou produto.
“Nosso estudo desafia a visão romantizada do acesso [a produtos] entendido como uma forma de consumo colaborativo e motivado pelo altruísmo”, escreveram as pesquisadoras Fleura Bardhi e Giana Eckhart.
De fato, uma pesquisa sobre atitudes dos consumidores divulgada em janeiro revelou que “confiança” é a principal preocupação em relação ao consumo compartilhado para 67% dos 400 entrevistados – 30% disseram temer que os produtos sejam roubados ou estragados por outros usuários, 23% afirmaram desconfiar de estranhos no geral e 14% se disseram preocupados com questões de privacidade.
Ainda assim, a mesma pesquisa indicou que 60% dos entrevistados consideram atraente o conceito de compartilhar o uso de determinados produtos ou objetos. E 71% dos que já experimentaram disseram que pretendem continuar. Não é à toa que o setor continua crescendo e não somente no compartilhamento de veículos.
O que os consumidores que já tiveram o gostinho de compartilhar apreciam é a flexibilidade e o senso de comunidade, e muitos dizem ter razões morais – no caso do carsharing, ambientais – para optar pelo acesso em vez da propriedade. A pesquisa de Bardhi e Eckhart mostrou que o senso de comunidade e a confiança são maiores quando o serviço é oferecido por outras pessoas em vez de uma empresa, como já ocorre nos Estados Unidos.