Projeto oferece passaportes de cidadania marinha para proteger os oceanos
Quem é o dono dos mares? Um professor de história clássica diria: “Netuno ou Poseidon”. Segundo o cenário político atual, no entanto, 64% das águas oceânicas do mundo não pertencem a ninguém, pois estão fora das jurisdições dos países.
O alto-mar, como é conhecido, é um bem comum e guarda um dos ecossistemas mais complexos e desconhecidos do planeta. Toda essa riqueza, contudo, não tem sido interpretada com zelo pelas nações. Ao contrário, uma vez que essa vastidão não tem dono, nenhum país investe o suficiente para oferecer a proteção que os oceanos e as criaturas que vivem dentro deles merecem.
Pensando em como chamar a atenção dos governantes para melhorar essa conta, uma coalizão de ONGs, cientistas e ativistas criaram o Projeto TerraMar (The TerraMar Project, em inglês) [1]. Lançada em julho, a ideia é estabelecer uma nova relação com o alto-mar, oferecendo a todos a oportunidade de se tornarem cidadãos de uma “nação aquática”.
Por transformar metaforicamente essas águas em um país tangível, os idealizadores do projeto esperam chamar a atenção do público para os ecossistemas marinhos negligenciados. Segundo o TerraMar, 90% das espécies predatórias (tubarões, peixe- espada, atum etc.) já estão extintas. E estima-se que 300 mil baleias e golfinhos sejam mortos ilegalmente por ano em todo o globo.
A pesca clandestina e a industrial também compõem índices preocupantes. Calcula-se que 80% das espécies de peixes já atingiram seu esgotamento. Segundo especialistas, os estoques marinhos usados para alimentação colapsarão em 2050. Outras questões, como mineração de fundos marinhos, poluição sonora, derrames de petróleo e a poluição crescente de plástico e outros resíduos também está em pauta.
“Só porque o alto-mar está fora de vista não significa que deve estar fora da mente. Uma parte importante do nosso planeta é negligenciada e não preservada para as gerações futuras”, diz a nota oficial da coalizão do TerraMar.
A meta inicial da iniciativa é arrecadar 1 milhão de assinaturas. Depois, por meio de doações e apoios, a coalizão espera desenvolver uma série de atividades de preservação, conservação e educação ambiental ao redor do mundo. Para estimular a adesão de pessoas na campanha, o grupo oferece, por exemplo, passaportes de cidadania marinha com números exclusivos. Quem quiser se comprometer ainda mais com um pedaço de água, há a possibilidade de se candidatar a uma vaga de “embaixador”, adotando uma espécie marinha específica.
Saúde delicada
Lançado recentemente, o Índice de Saúde dos Oceanos (OHI, na sigla em inglês) é a primeira medida abrangente indicadora da saúde dos ambientes marinhos, baseada no estudo de 171 regiões costeiras no mundo todo.
Condizentes com as preocupações do Projeto TerraMar, as primeiras conclusões do OHI não são das mais animadoras. Os dados revelaram uma pontuação global de 60, em um total de 100 pontos. Quanto menor a pontuação, pior a situação, mostrando que ou o homem não está aproveitando os benefícios fornecidos pelos oceanos ou não está utilizando esses benefícios de modo sustentável.
O Brasil ficou em 35o lugar, com 62 pontos. Já os países do oeste da África seguraram a lanterna, amargando a mais baixa pontuação no cálculo geral. Esses países também tiveram baixa classificação no Índice de Desenvolvimento Humano, sugerindo uma relação entre um bom governo, economias fortes e litoral saudável.
“A pontuação global de 60 é uma forte mensagem de que não estamos gerenciando o uso dos oceanos de maneira adequada”, afirma Bud Ris, presidente do New England Aquarium e coautor do estudo. “Há muita oportunidade para melhorias e nós esperamos que o OHI torne esse ponto bastante claro.”|
O OHI passa a ser uma importante ferramenta para políticos tomarem decisões sobre o futuro dos oceanos. As decisões de gerenciamento de recursos podem ser examinadas por grupo de metas, permitindo que os políticos avaliem a efetividade de seus compromissos.
Para Greg Stone, vice-presidente
sênior e cientista-chefe para os Oceanos
da Conservation International e um dos autores do estudo, essa é a primeira vez em que temos medidas abrangentes do que está acontecendo com os oceanos. “Com
a plataforma global poderemos avaliar as implicações ou omissões humanas”, diz.[:en]Projeto oferece passaportes de cidadania marinha para proteger os oceanos
Quem é o dono dos mares? Um professor de história clássica diria: “Netuno ou Poseidon”. Segundo o cenário político atual, no entanto, 64% das águas oceânicas do mundo não pertencem a ninguém, pois estão fora das jurisdições dos países.
O alto-mar, como é conhecido, é um bem comum e guarda um dos ecossistemas mais complexos e desconhecidos do planeta. Toda essa riqueza, contudo, não tem sido interpretada com zelo pelas nações. Ao contrário, uma vez que essa vastidão não tem dono, nenhum país investe o suficiente para oferecer a proteção que os oceanos e as criaturas que vivem dentro deles merecem.
Pensando em como chamar a atenção dos governantes para melhorar essa conta, uma coalizão de ONGs, cientistas e ativistas criaram o Projeto TerraMar (The TerraMar Project, em inglês) [1]. Lançada em julho, a ideia é estabelecer uma nova relação com o alto-mar, oferecendo a todos a oportunidade de se tornarem cidadãos de uma “nação aquática”.
Por transformar metaforicamente essas águas em um país tangível, os idealizadores do projeto esperam chamar a atenção do público para os ecossistemas marinhos negligenciados. Segundo o TerraMar, 90% das espécies predatórias (tubarões, peixe- espada, atum etc.) já estão extintas. E estima-se que 300 mil baleias e golfinhos sejam mortos ilegalmente por ano em todo o globo.
A pesca clandestina e a industrial também compõem índices preocupantes. Calcula-se que 80% das espécies de peixes já atingiram seu esgotamento. Segundo especialistas, os estoques marinhos usados para alimentação colapsarão em 2050. Outras questões, como mineração de fundos marinhos, poluição sonora, derrames de petróleo e a poluição crescente de plástico e outros resíduos também está em pauta.
“Só porque o alto-mar está fora de vista não significa que deve estar fora da mente. Uma parte importante do nosso planeta é negligenciada e não preservada para as gerações futuras”, diz a nota oficial da coalizão do TerraMar.
A meta inicial da iniciativa é arrecadar 1 milhão de assinaturas. Depois, por meio de doações e apoios, a coalizão espera desenvolver uma série de atividades de preservação, conservação e educação ambiental ao redor do mundo. Para estimular a adesão de pessoas na campanha, o grupo oferece, por exemplo, passaportes de cidadania marinha com números exclusivos. Quem quiser se comprometer ainda mais com um pedaço de água, há a possibilidade de se candidatar a uma vaga de “embaixador”, adotando uma espécie marinha específica.
Saúde delicada
Lançado recentemente, o Índice de Saúde dos Oceanos (OHI, na sigla em inglês) é a primeira medida abrangente indicadora da saúde dos ambientes marinhos, baseada no estudo de 171 regiões costeiras no mundo todo.
Condizentes com as preocupações do Projeto TerraMar, as primeiras conclusões do OHI não são das mais animadoras. Os dados revelaram uma pontuação global de 60, em um total de 100 pontos. Quanto menor a pontuação, pior a situação, mostrando que ou o homem não está aproveitando os benefícios fornecidos pelos oceanos ou não está utilizando esses benefícios de modo sustentável.
O Brasil ficou em 35o lugar, com 62 pontos. Já os países do oeste da África seguraram a lanterna, amargando a mais baixa pontuação no cálculo geral. Esses países também tiveram baixa classificação no Índice de Desenvolvimento Humano, sugerindo uma relação entre um bom governo, economias fortes e litoral saudável.
“A pontuação global de 60 é uma forte mensagem de que não estamos gerenciando o uso dos oceanos de maneira adequada”, afirma Bud Ris, presidente do New England Aquarium e coautor do estudo. “Há muita oportunidade para melhorias e nós esperamos que o OHI torne esse ponto bastante claro.”|
O OHI passa a ser uma importante ferramenta para políticos tomarem decisões sobre o futuro dos oceanos. As decisões de gerenciamento de recursos podem ser examinadas por grupo de metas, permitindo que os políticos avaliem a efetividade de seus compromissos.
Para Greg Stone, vice-presidente sênior e cientista-chefe para os Oceanos da Conservation International e um dos autores do estudo, essa é a primeira vez em que temos medidas abrangentes do que está acontecendo com os oceanos. “Com a plataforma global poderemos avaliar as implicações ou omissões humanas”, diz.