A política não se encerra nos ritos oficiais das eleições diretas – conquista fundamental da democracia brasileira. Para além da urna de votação há um movimento difuso e aparentemente invisível, mas que se dá de forma bastante real na conformação da sociedade contemporânea, e merece ser objeto de estudos aprofundados.
Nesta modesta contribuição de Página22, identificamos manifestações culturais e de comportamento que transcendem o arcabouço institucional e revelam outras formas de fazer política, ou seja, de lidar com a “coisa” pública.
O antropólogo Roberto DaMatta, em entrevista nesta edição, chama atenção para a sociedade em rede, apoiada muito menos em uma fórmula única, mágica e personalista do “eleito”, e muito mais na percepção de que as saídas estão no trabalho conjunto, compartilhado e árduo. “Acabou a utopia”, diz. Trata-se de um avanço e tanto para uma democracia que no País é tão jovem, considerando-se a linha da História.
A tecnologia digital – que permite conectar indivíduos, tecer redes, difundir a mensagem sem atravessadores ou hierarquias e ainda monitorar de perto o trabalho do candidato eleito – contribui para promover uma liberdade de expressão sem precedentes e uma mudança no fazer política cuja dimensão talvez nem tenhamos nos dado conta.
Como mostra a reportagem de capa, há no pano de fundo uma transformação no eixo de poder. Quem dita as regras? Quem governa? Quem lança tendências?
Quando vozes que até então não eram ouvidas dizem: “Agora é o oprimido falando do opressor”, isso é política na veia.
Boa leitura!