A lente da periferia
Com uma câmera na mão, crianças da periferia registram a vida de uma grande cidade, brincando com potenciais perigos urbanos. A trama gira em torno das descobertas da personagem Bárbara diante das imagens inquietas das crianças e de personagens- fantasmas que espreitam o movimento das esquinas. Mas a verdadeira protagonista é a própria cidade de São Paulo, que abriga sonhos, segredos e medos daqueles para quem a rua é um lar.
O longa Ponto Org, dirigido por Patrícia Moran, estreou no final de setembro nas salas comerciais de São Paulo e Rio de Janeiro. O filme teve sua primeira exibição no Festival de Gramado de 2010, onde dividiu o prêmio de Melhor Trilha Sonora com Bróder.
Ponto Org conta a história de dois roteiristas, Diamantino (interpretado pelo rapper Renegado) e Bárbara (vivida por Erika Altemyer), que decidem ajudar três garotos de periferia, Agnaldinho, Sarney e Bigode, a registrar a vida de moradores de rua de São Paulo. Dona Izilda, interpretada pela atriz mineira Teuda Bara, é a principal personagem do filme que será realizado pelo trio de meninos. Patrícia Moran iniciou sua carreira em Minas Gerais na década de 80, produzindo curtas-metragens e vídeo clipes. Dirigiu os documentários Clandestinos, selecionado para a Mostra Panorama do Berlinale, do Festival Internacional de Cinema de Berlim, e Maldito Popular Brasileiro – Arnaldo Batista, que ganhou prêmios no Fórum BHZ Vídeo em 2001.
Conexão Brasil-África
Olhar nossas diferenças e semelhanças não como obstáculos ao desenvolvimento, mas sim como nutrientes de criatividade e resolução dos entraves sociais e econômicos. (mais África em Retrato, à página 30)
Começa a ganhar fôlego o programa entre o governo brasileiro e a Fundação Cultural Palmares para refazermos e recriarmos os laços Brasil-África.
O edital aberto no site do programa recebe inscrições de ideias que podem ser colocadas em prática nos países latinos e africanos. O objetivo principal é utilizar a experiência brasileira na construção de políticas públicas voltadas para o apoio e desenvolvimento de agentes da economia criativa como base para a construção de capacidades de agentes econômicos africanos e afrodescendentes. No continente latino-americano, segundo dados do Pnud, o número de afrodescendentes soma mais de 140 milhões.
A intenção do programa é aproveitar a economia criativa como estratégia de desenvolvimento, reconhecendo a criatividade como capital humano para o fomento de uma integração de objetivos sociais, culturais e econômicos, diante de um modelo de desenvolvimento global pós- industrial excludente, portanto insustentável. Prazo de inscrição de propostas: 30 de novembro.
As quebradas da Bienal
No meio da grande mostra oficial desta 30a Bienal de São Paulo, outras tramas podem ser conhecidas pelo visitante incauto. A Agência Popular Solano Trindade e diversos coletivos prepararam uma programação para o público, que inclui oficinas, saraus e atividades que trazem à tona questões emergentes da cidade, inspiradas pela frase de Solano Trindade: “Pesquisar na fonte de origem e devolver ao povo em forma de arte”. Solano foi poeta, pintor, folclorista e defensor da cultura negra.
Nesta programação estão previstas oficina de monotipia, postesia (fazer poemas e colá-los nos postes), correspondência poética com caixas de lixo, saraus com poetas e artistas plásticos e muita troca de ideias e experiências vindas dos artistas da periferia de São Paulo.
A Agência trabalha pela valorização da cultura popular, fomentando empreendimentos e ações culturais, e criou uma moeda própria para facilitar a troca de serviços culturais entre grupos e produtores locais (mais na reportagem “Em plena São Paulo S.A.”, edição 66).
A sede fica próxima à estação Capão Redondo do Metrô, em São Paulo, mas as atividades podem ser acompanhadas pelo site da Bienal e pelo blog.