“Queridos, nasceu a minha netinha Liz. Por favor, ajudem a preparar um mundo melhorzinho para ela. Abraço, Ladislau.” Doze horas depois de postar essa mensagem em seu Twitter, o economista, professor da PUC-SP e consultor do Unicef, Ladislau Dowbor, a repetia diante de palmas na Matilha Cultural. Ele participava do projeto Primaveras – Diálogos sobre ativismo, democracia e sustentabilidade, organizado por Página22, Escola de Ativismo, Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), Matilha Cultural e o ponto de cultura Outras Palavras.
Na primeira edição do evento, o tema foi “Crise e oportunidade: a dimensão política das crises civilizatórias e as saídas possíveis”. Também esteve no centro do debate Ricardo Abramovay, professor do Departamento de Economia e do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo. A mediação para uma plateia de aproximadamente cem pessoas ficou por conta de Alexandra Reschke, secretária-executiva do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS).
Ao detectarmos uma crise no mundo, Abramovay destacou três pontos em que há avanços: o combate à pobreza, o aumento da ecoeficiência na produção de mercadorias – que hoje consomem menos recursos naturais – e o aumento da responsabilidade socioambiental nas empresas. Ainda assim, apontou que reduzir a pobreza – algo que “já aprendemos a fazer” – não nos ajudou a combater as desigualdades. E em um mundo de recursos naturais finitos, este é o desafio.
“Uma solução para acabar com a pobreza é colocar o pé no acelerador, crescer, produzir e consumir mais. Para a desigualdade é preciso investir mais em educação, transporte público. Só que algumas coisas têm que ser feitas em ‘menos’: menos carros particulares nas ruas, menos emissão de gases de efeito estufa. Nós sabemos fazer mais, mas não sabemos fazer menos”, disse.
Dowbor exemplificou o quão antagônico é o processo de riqueza e desigualdade em nossa sociedade. Se dividirmos o valor PIB produzido no mundo hoje pelo número de habitantes, teremos uma renda de R$ 6 mil para uma família de até quatro pessoas. “Valor suficiente para se viver com dignidade”. Ele também afirmou que não há razão para que tantos indivíduos passem fome. “Ao dividirmos a produção de grãos pelos habitantes, cada pessoa teria direito a consumir 800 gramas de grãos por dia. E qualquer pessoa que já tenha feito uma panela de arroz na vida sabe o quanto isso pode render”, comentou, entre risos da plateia.
As dificuldades em sanar as desigualdades e a fome, segundo Dowbor, apresentam-se ainda mais complexas à medida que a governança se torna cada vez mais distante dessas realidades. Para o economista, esse é um paradoxo que aponta o individualismo como uma barreira ao investimento em bens e serviços públicos. “As soluções que as pessoas encontram são sempre individuais. Construo a minha casa, compro meu carro, Quando ganho mais dinheiro, pago logo escola e convênio particular para meus filhos. Se você olhar para o processo de democratização de países hoje desenvolvidos, verá que há um investimento pelos bens públicos e coletivos. Mas no Brasil vemos o oposto. Temos de aumentar a oferta desses bens para que as pessoas vivam melhor.”
Nessa discussão sobre o mundo que vamos deixar para a neta de Dowbor e para todos nós, ambos debatedores levantaram uma questão essencial de nossa existência: qual é a real utilidade do que estamos fazendo na sociedade?
Abramovay afirmou que estamos acostumados a medir o sucesso “pelo quanto se consegue arrancar da Terra”. Ele defendeu, contudo, o caminho da ética como meio para medir esse sucesso. Segundo o professor, devemos refletir sobre o nosso legado no planeta e trabalhar formas colaborativas de ação. “A questão a ser feita é: o quanto eu trouxe para o planeta? e não o que eu levei dele”.
Saiba mais sobre o primeiro encontro na página do Facebook do projeto. As próximas Primaveras já têm data marcada para acontecer. Confira a programação.
Leia mais: Parcela crescente do setor produtivo vê falhas no atual modelo econômico, dizem especialistas[:en]
“Queridos, nasceu a minha netinha Liz. Por favor, ajudem a preparar um mundo melhorzinho para ela. Abraço, Ladislau.” Doze horas depois de postar essa mensagem em seu Twitter, o economista, professor da PUC-SP e consultor do Unicef, Ladislau Dowbor, a repetia diante de palmas na Matilha Cultural. Ele participava do projeto Primaveras – Diálogos sobre ativismo, democracia e sustentabilidade, organizado por Página22, Escola de Ativismo, Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS), Matilha Cultural e o ponto de cultura Outras Palavras.
Na primeira edição do evento, o tema foi “Crise e oportunidade: a dimensão política das crises civilizatórias e as saídas possíveis”. Também esteve no centro do debate Ricardo Abramovay, professor do Departamento de Economia e do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de São Paulo. A mediação para uma plateia de aproximadamente cem pessoas ficou por conta de Alexandra Reschke, secretária-executiva do Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS).
Ao detectarmos uma crise no mundo, Abramovay destacou três pontos em que há avanços: o combate à pobreza, o aumento da ecoeficiência na produção de mercadorias – que hoje consomem menos recursos naturais – e o aumento da responsabilidade socioambiental nas empresas. Ainda assim, apontou que reduzir a pobreza – algo que “já aprendemos a fazer” – não nos ajudou a combater as desigualdades. E em um mundo de recursos naturais finitos, este é o desafio.
“Uma solução para acabar com a pobreza é colocar o pé no acelerador, crescer, produzir e consumir mais. Para a desigualdade é preciso investir mais em educação, transporte público. Só que algumas coisas têm que ser feitas em ‘menos’: menos carros particulares nas ruas, menos emissão de gases de efeito estufa. Nós sabemos fazer mais, mas não sabemos fazer menos”, disse.
Dowbor exemplificou o quão antagônico é o processo de riqueza e desigualdade em nossa sociedade. Se dividirmos o valor PIB produzido no mundo hoje pelo número de habitantes, teremos uma renda de R$ 6 mil para uma família de até quatro pessoas. “Valor suficiente para se viver com dignidade”. Ele também afirmou que não há razão para que tantos indivíduos passem fome. “Ao dividirmos a produção de grãos pelos habitantes, cada pessoa teria direito a consumir 800 gramas de grãos por dia. E qualquer pessoa que já tenha feito uma panela de arroz na vida sabe o quanto isso pode render”, comentou, entre risos da plateia.
As dificuldades em sanar as desigualdades e a fome, segundo Dowbor, apresentam-se ainda mais complexas à medida que a governança se torna cada vez mais distante dessas realidades. Para o economista, esse é um paradoxo que aponta o individualismo como uma barreira ao investimento em bens e serviços públicos. “As soluções que as pessoas encontram são sempre individuais. Construo a minha casa, compro meu carro, Quando ganho mais dinheiro, pago logo escola e convênio particular para meus filhos. Se você olhar para o processo de democratização de países hoje desenvolvidos, verá que há um investimento pelos bens públicos e coletivos. Mas no Brasil vemos o oposto. Temos de aumentar a oferta desses bens para que as pessoas vivam melhor.”
Nessa discussão sobre o mundo que vamos deixar para a neta de Dowbor e para todos nós, ambos debatedores levantaram uma questão essencial de nossa existência: qual é a real utilidade do que estamos fazendo na sociedade?
Abramovay afirmou que estamos acostumados a medir o sucesso “pelo quanto se consegue arrancar da Terra”. Ele defendeu, contudo, o caminho da ética como meio para medir esse sucesso. Segundo o professor, devemos refletir sobre o nosso legado no planeta e trabalhar formas colaborativas de ação. “A questão a ser feita é: o quanto eu trouxe para o planeta? e não o que eu levei dele”.
Saiba mais sobre o primeiro encontro na página do Facebook do projeto. As próximas Primaveras já têm data marcada para acontecer. Confira a programação.
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