Censo Maré revela nova cartografia na cidade do Rio de Janeiro. Trata-se de um projeto de desenvolvimento local que contribui para melhorar a qualidade de vida em um dos bairros mais populosos do município
O mais novo instrumento e primeiro produto do Censo Maré acaba de ser entregue à sociedade. No Guia de Ruas da Maré estão reunidas – de forma detalhada – mais de 700 ruas, travessas e becos das 16 favelas que formam o Complexo da Maré, na Zona Norte do Rio. “Trata-se de um ousado projeto de desenvolvimento local”, revela Dalcio Marinho, geógrafo e coordenador do Censo.
Esta é a primeira vez que a cartografia da área recebe um mapeamento completo de logradouros. A iniciativa visa contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos seus mais de 130 mil moradores. O conjunto de informações reunidas e sistematizadas ajudará a subsidiar as políticas públicas necessárias para garantir o desenvolvimento da região. “Isso faz diferença na forma de como os investimentos são direcionados para o local”, sinaliza o coordenador do Censo.
Entre 160 bairros do Rio de Janeiro, a Maré é o nono mais populoso, com um contingente de moradores tão expressivo quanto o de Copacabana ou da Barra da Tijuca. “No entanto, cabe a pergunta: quanto do orçamento vai para esses bairros e quanto vem para a Maré?”, pontua Marinho.
A existência de vieses decorrentes da estigmatização da favela como locus da violência, barbárie, carência e falta de higiene também afeta tanto a vida dos moradores como o direcionamento de recursos que supram as demandas públicas locais. “Garantir a visibilidade e o reconhecimento das favelas contribui para assegurar os direitos dos moradores e o desenvolvimento desses territórios”, destaca Jailson de Souza e Silva, professor da Universidade Federal Fluminense e diretor do Observatório de Favelas, um dos parceiros no Censo.
Marinho comenta, por exemplo, que na região não há um hospital equipado com um aparelho de raios X e que não há escolas de Ensino Fundamental suficientes para atender a população do bairro. “Os mais prejudicados são as pessoas e estamos mostrando
uma fotografia única do lugar. É revelador para todos, sem dúvida. E é óbvio que mapear nossa região sinalizará deficiência
e oportunidades para os investimentos públicos. Depois disso, os investimentos privados no local também crescerão.”
PRÓXIMOS PASSOS
O mapeamento da Maré foi a primeira etapa do Censo Maré, e estão sendo realizados, na sequência, o Censo de Empreendimentos Econômicos e o Censo Domiciliar da região.
Segundo o coordenador da pesquisa, Dalcio Marinho, a reação dos moradores da Maré tem sido positiva. O trabalho conta com o apoio das 16 associações de moradores locais, o que, segundo Marinho, é um feito relevante para mostrar o protagonismo das pessoas diretamente afetadas pelo trabalho. “Neste sentido, o Censo Maré é, antes de tudo, um meio de chegarmos aos moradores da Maré e discutirmos as razões de as favelas serem estigmatizadas e de serem negligenciados a seus habitantes direitos básicos reconhecidos em outras partes da cidade”, afirma.
SATÉLITES POSTOS
A atualização da base cartográfica da Maré foi feita a partir de aerofoto cedida pelo Instituto Pereira Passos (IPP), órgão da prefeitura e um dos parceiros no projeto. “Eles só tinham mapeadas as ruas principais. Tivemos de percorrer todos os quarteirões para fazer o levantamento cartográfico”, conta o geógrafo da UFRJ Felipe da Silva Alves, um dos pesquisadores do Censo.
Há cerca de quatro meses, o IPP iniciou o mesmo processo na Rocinha, Santa Marta, no Complexo do Alemão e no Morro do Salgueiro. No total, 22 comunidades pacificadas devem ser mapeadas. O Guia de Ruas da Maré pode ser retirado gratuitamente na Rede de Desenvolvimento da Maré e no Observatório de Favelas. Também está disponível neste link