O maior projeto do mundo de informação sobre emissões a investidores cobra metas mais ambiciosas das empresas
Como fazer com que os principais emissores de gases-estufa sejam mais ambiciosos em suas ações climáticas, independentemente de regulações globais e nacionais? Não é simples achar uma resposta para o dilema. Em um cenário econômico competitivo, e marcado desde 2008 por crises financeiras, particularmente nos países ricos, empresas tendem a ser mais conservadoras nos investimentos, inclusive os direcionados a melhorar a qualidade ambiental de seus processos produtivos.
Mas tais gastos também podem ser um diferencial competitivo, como mostra a versão 2012 do relatório do programa Carbon Action, publicado em novembro pelo Carbon Disclosure Project (CDP). De acordo com o relatório, grandes emissores que definiram metas de corte absoluto nas emissões conseguiram diminuí-las a uma taxa duas vezes superior à das empresas que não estabeleceram essas metas. Além do mais, suas margens de lucro foram 10% mais elevadas, em média.
“As grandes companhias não estão sendo suficientemente ambiciosas em suas ações climáticas”, disse Nigel Topping, diretor mundial de inovação do CDP, em entrevista concedida de Londres, via Skype. Foi o descontentamento com essa falta de ambição que levou um grupo de 35 investidores a aderir ao Carbon Action, iniciado em 2010, com seu primeiro relatório publicado em 2011 – na versão 2012 do relatório, 256 empresas responderam o questionário, com informações destinadas a 92 investidores com ativos totais de US$ 10 trilhões. O programa visa incentivar grandes emissores a aumentar a tornar públicas suas metas de redução e oferecer retorno positivo aos investimentos em projetos ambientais.
Além de maior ênfase nas metas, a estratégia do CDP para esta década inclui envolver mais empresas no relato das emissões nas cadeias de fornecedores (CDP Supply Chain), publicar o segundo relatório sobre água, previsto para 2014, e consolidar em 2013 sua fusão com o Forest Disclosure Project, que foi idealizado por outra organização, o Global Canopy Project (GDP). “O projeto é particularmente importante para países com porção substancial da economia relacionada às florestas, como o Brasil”, comenta o executivo.
Inicialmente, o projeto de florestas contemplará informações socioambientais sobre origem, processamento e distribuição de produtos das cadeias da soja, da palma, da madeira e da carne bovina. “Seremos a partir de 2013 a maior plataforma no mundo em disclosure sobre tópicos centrais do capital natural, como mudanças climáticas, água e florestas”, prevê Topping, lembrando que desde o fim de 2008 as informações do CDP também estão disponíveis no banco de dados da Bloomberg. “Disclosure” nesse contexto significa transparência nas informações sobre impactos socioambientais e ações para eliminá-los ou mitigá-los.
No Brasil, o CDP pretende avançar ao longo desta década na divulgação pública das informações das empresas, como ocorre no relatório mundial da organização, o Global 500 Climate Change Report.
Um primeiro passo foi dado neste ano com a inclusão no CDP Brasil 2012, publicado em outubro, das listas das dez empresas mais bem pontuadas, por ordem alfabética, nos índices de disclosure e performance. Também foram divulgados os nomes das companhias com nota mais alta – a Vale ganhou em disclosure e a Itaúsa Investimentos, em performance (ver nota abaixo).
Embora reconheça melhora significativa no nível de disclosure desde o lançamento do primeiro relatório no País, em 2006, a direção do CDP Brasil avalia que é necessário mais ousadia das empresas nos investimentos em eficiência energética e corte nas emissões. “Além da transparência, as empresas devem assumir compromissos mais ambiciosos, como o de crescer sem aumentar as emissões”, avalia Fernando Figueiredo, diretor do CDP Brasil. Para isso, explica, serão necessárias mudanças profundas nos processos produtivos, como a substituição de matérias-primas e novos desenhos logísticos.
Itaú incluirá clima no cálculo de risco
A participação da Itaúsa Investimentos nos relatórios do CDP, que começou em 2007, contribuiu substancialmente com a ampliação do escopo de sua gestão climática. “Essa exposição possibilita o engajamento dos públicos relacionados aos nossos negócios na nossa política climática, por meio da coleta de opiniões de especialistas, fornecedores e colaboradores para nortear as próximas ações da empresa”, assinala João Carlos Redondo, diretor gerente da Itaúsa Empreendimentos, integrante do conglomerado, que é formado por empresas como a Duratex e o Itaú Unibanco.
Tais informações serão essenciais para o Itaú Unibanco oferecer uma resposta positiva a uma cobrança recorrente de ambientalistas e especialistas em sustentabilidade – a inserção dos aspectos socioambientais na mensuração de riscos dos clientes das instituições financeiras.
Encontra-se em fase avançada de revisão a ferramenta de cálculo de riscos, que contemplará em sua metodologia aspectos associados à mudança climática, inspirada na experiência de organismos multilaterais com o assunto. “Ela inovará ao verificar o risco global da operação por meio de um modelo matemático baseado em variáveis sociais, ambientais e de mercado”, explica Geraldo Soares Leite Filho, superintendente de relações com investidores do Itaú Unibanco.