Os gases HCFs, recomendado pelo Protocolo de Montreal, se mostraram tão poluentes quanto o CFCs – até então, vilões da camada de ozônio
O mais bem-sucedido tratado ambiental da ONU enfrenta talvez seu mais difícil momento desde que foi adotado 25 anos atrás, em setembro de 1987. Ratificado por 197 países – adesão universal, portanto, a maior já obtida por um tratado de meio ambiente –, o Protocolo de Montreal conseguiu reduzir em 98% o consumo global de substâncias que danificam a camada de ozônio existente na estratosfera (CFCs, por exemplo).
Entretanto, o sucesso foi parcialmente alcançado pela substituição de HCFCs (hidroclorofluorcarbonos) por HFCs (hidrofluorcarbonos), recomendada pelo próprio acordo ambiental. Acontece que os HFCs possuem potencial de aquecimento atmosférico muitas vezes, em alguns casos milhares de vezes, superior ao CO2.
Além de uma avaliação sobre os 25 anos de existência de Montreal, a proposta de emenda para incluir os HFCs entre as substâncias controladas do tratado foi o assunto mais quente da 24a Conferência das Partes do Protocolo de Montreal (COP-24), realizada em Genebra, na Suíça, entre 12 e 16 de novembro.
A emenda foi defendida por um bloco de países liderados por Estados Unidos, Canadá, México e Federação dos Estados da Micronésia. No lado oposto, em uma espécie de apoio à Índia, que teme por perdas econômicas com o fim da produção de HFCs, estiveram Brasil, China e África do Sul. Ao fim do encontro, a emenda não obteve consenso e continuará na mesa de negociações do Protocolo de Montreal.
A questão não é trivial, colocando as mudanças climáticas no centro das discussões em torno do futuro do acordo sobre ozônio. Para o grupo liderado pelos Estados Unidos, cabe ao protocolo fechar a válvula de escape que o tratado abriu lá atrás ao recomendar o uso de HFCs no lugar de gases destruidores da camada de ozônio. Os opositores à emenda contra-argumentam que temas climáticos devem ser negociados no âmbito da Convenção sobre Mudanças Climáticas.