Energia solar viabiliza bombeamento de água para comunidades ribeirinhas
Os 131 moradores da Vila Alencar, no município de Uarini, no médio Solimões (a 600 Km de Manaus), não precisarão mais caminhar longas distâncias sob o sol a pino para buscar água no rio em época de seca. Um sistema movido a energia solar, recém-instalado, está bombeamento a água que é distribuída às casas de 25 famílias, após passar por um pré-tratamento. A iniciativa é parte do Programa Qualidade de Vida, do Instituto Mamirauá que, com ações semelhantes, beneficia cerca de mil moradores de doze comunidades ribeirinhas das Reservas de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá e Amanã, na região.
“Faz muita diferença ter água encanada em casa. A gente passa a viver melhor em todos os sentidos”, afirma Ednelza Martins da Silva. Ela conta que agora tem mais tempo para planejar as tarefas domésticas e chega menos cansada à pousada onde trabalha como gerente. Segundo relata, a dura rotina de dependência de água do rio, além de gerar grande desgaste físico, provoca todo tipo de estresse nas famílias, incluindo o medo de afogamento das crianças na época em que a região está alagada.
Já a pesquisadora do Instituto Mamirauá, Maria Cecília Gomes, ressalta os riscos de doenças veiculadas pela água. Exames parasitológicos realizados em cerca de 60 pessoas adultas na região, já revelaram, por exemplo, que cada uma delas tinha, pelo menos, um tipo de parasita. Por isso, paralelo à criação do sistema de bombeamento e às ações educativas, têm sido instalados hidrômetros para monitorar o nível de adesão dos moradores ao uso da água distribuída às residências. “A relação com o rio é muito forte, é uma questão cultural”, acrescenta.
Apesar da forte ligação da família com os rios da região, a chegada da água encanada com bombeamento a custo zero para as comunidades também foi comemorada na casa do agricultor Arissônio Carvalho e sua mulher, Liziane Carvalho. “Aqui a gente envelhece mais cedo de tanto carregar peso e as crianças adoecem muito”, diz ele. Além de considerar que a saúde de todos vai melhorar, o casal diz que ficará menos estressado com a redução dos tradicionais banhos de rio dos três filhos em áreas onde não faltam riscos, incluindo a presença de jacarés.
Otacílio Brito, tecnólogo social do Instituto Mamirauá, informa que no pico da seca, entre setembro e outubro, as caminhadas para a busca de água podem ser longas. “Durante a época de cheia, a água está debaixo do assoalho das casas da comunidade, mas na seca, pode estar a 300 metros ou mais”.
Brito considera que o mecanismo movido a energia solar é simples e viável para solucionar esse tipo de problema em áreas remotas do Brasil, a baixo custo (cada um custa cerca de R$ 30 mil). Os painéis fotovoltaicos são instalados em uma base de madeira flutuante que se desloca conforme as condições de cheia ou seca na região. “Entre maio e junho é o período mais chuvoso e a água de chuva pode ser usada como alternativa para abastecer as famílias. No resto do ano temos muito sol e o equipamento pode funcionar muito bem”.
Com o Programa Qualidade de Vida, o Instituto Mamirauá venceu o Prêmio Finep de Inovação 2012 na categoria Tecnologias Sociais da região Norte.