No início dos anos 1970, um experimento conduzido na Universidade de Stanford ofereceu a crianças uma dura escolha: elas poderiam deliciar-se com um marshmallow estrategicamente posicionado à sua frente, ou ganhar um segundo marshmallow se esperassem até que o pesquisador regressasse à sala, cerca de 15 minutos depois.
“Futuro”, para uma criança, é um conceito ainda mais abstrato que para nós, adultos, cujos anos adicionais de vida nos deram maior previsibilidade e melhor noção de causa/efeito (“se eu poupar agora, terei mais depois”). Em “economês”, pode-se dizer que a “taxa de desconto intertemporal” das crianças é muito mais alta, ou seja, elas valorizam muito mais o presente que o futuro.
A taxa de desconto intertemporal — na verdade, “intergeracional” — é um conceito-chave no campo da sustentabilidade, em que se discutem os efeitos e as consequências sobre as gerações futuras de decisões tomadas por nós no presente. No âmbito individual, são inúmeras as “sereias” cujos cantos nos seduzem e nos levam a tomar decisões no presente que comprometem nosso “eu futuro”. Para muitas crianças, o marshmallow é uma delas.
O estudo acima visava conhecer mais sobre como o mecanismo de autocontrole ou “gratificação adiada” se desenvolve nas crianças. Muitos anos depois, um dos pesquisadores originais, Walter Mischel, que manteve contato com as então crianças estudadas, percebeu que o sucesso que elas tiveram posteriormente poderia estar relacionado à sua capacidade de autocontrole: estudos conduzidos nas décadas de 1980 e 1990 mostraram que aquelas que conseguiram esperar e receber o segundo marshmallow anos antes tiveram melhor desempenho acadêmico e maior nota no SAT (o Enem americano). Estudos mais recentes associaram cada minuto adicional de espera com uma redução proporcional de seu índice de massa corporal (IMC) trinta anos depois.
Frank Partnoy, autor de Como fazer a escolha certa na hora certa (“Espere: a arte e ciência da postergação”, na tradução literal do título original), argumenta que a tecnologia e hábitos modernos vêm afetando nossa biologia e nos pressionando a tomar decisões cada vez mais apressadas, o que afeta a qualidade dessas decisões. Na verdade, estudo publicado na Psychological Science, citado no livro, observou que a mera exposição ao símbolo do McDonald’s afeta nosso processo cognitivo, e estaria associada ao aumento de 20% da nossa velocidade de leitura, à escolha de produtos que economizam nosso tempo (tornamo-nos impacientes) e à troca de ganhos maiores no futuro por retornos imediatos (confira o estudo).
William Powers, autor de O BlackBerry de Hamlet, concorda: nossa conexão permanente, sem tempo para pausas, nos priva de momentos para refletir sobre as experiências vividas (leia também “A vida wi-fi”, do blog De lá pra cá). Em O inverno de nossa desconexão, Susan Maushart descreve seu experimento familiar no qual ela e seus três filhos se “desplugaram” (inclusive de televisão e videogames) por seis meses, e o que ficou dessa experiência ao se “replugarem”.
Nos feriados de Réveillon e de Carnaval muitos buscam uma pausa momentânea para uma vida ligada nos 220 V. Para que tomemos melhores decisões para nosso futuro e o das próximas gerações, é importante que busquemos mais momentos de pausa e de reflexão no restante do ano, e que saibamos nos conectar de maneira mais sábia. Há mais marshmallows para aqueles que souberem esperar.
*Fabio F. Storino é coordenador de TI e Gestão do Conhecimento do Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces)[:en]
No início dos anos 1970, um experimento conduzido na Universidade de Stanford ofereceu a crianças uma dura escolha: elas poderiam deliciar-se com um marshmallow estrategicamente posicionado à sua frente, ou ganhar um segundo marshmallow se esperassem até que o pesquisador regressasse à sala, cerca de 15 minutos depois.
“Futuro”, para uma criança, é um conceito ainda mais abstrato que para nós, adultos, cujos anos adicionais de vida nos deram maior previsibilidade e melhor noção de causa/efeito (“se eu poupar agora, terei mais depois”). Em “economês”, pode-se dizer que a “taxa de desconto intertemporal” das crianças é muito mais alta, ou seja, elas valorizam muito mais o presente que o futuro.
A taxa de desconto intertemporal — na verdade, “intergeracional” — é um conceito-chave no campo da sustentabilidade, em que se discutem os efeitos e as consequências sobre as gerações futuras de decisões tomadas por nós no presente. No âmbito individual, são inúmeras as “sereias” cujos cantos nos seduzem e nos levam a tomar decisões no presente que comprometem nosso “eu futuro”. Para muitas crianças, o marshmallow é uma delas.
O estudo acima visava conhecer mais sobre como o mecanismo de autocontrole ou “gratificação adiada” se desenvolve nas crianças. Muitos anos depois, um dos pesquisadores originais, Walter Mischel, que manteve contato com as então crianças estudadas, percebeu que o sucesso que elas tiveram posteriormente poderia estar relacionado à sua capacidade de autocontrole: estudos conduzidos nas décadas de 1980 e 1990 mostraram que aquelas que conseguiram esperar e receber o segundo marshmallow anos antes tiveram melhor desempenho acadêmico e maior nota no SAT (o Enem americano). Estudos mais recentes associaram cada minuto adicional de espera com uma redução proporcional de seu índice de massa corporal (IMC) trinta anos depois.
Frank Partnoy, autor de Como fazer a escolha certa na hora certa (“Espere: a arte e ciência da postergação”, na tradução literal do título original), argumenta que a tecnologia e hábitos modernos vêm afetando nossa biologia e nos pressionando a tomar decisões cada vez mais apressadas, o que afeta a qualidade dessas decisões. Na verdade, estudo publicado na Psychological Science, citado no livro, observou que a mera exposição ao símbolo do McDonald’s afeta nosso processo cognitivo, e estaria associada ao aumento de 20% da nossa velocidade de leitura, à escolha de produtos que economizam nosso tempo (tornamo-nos impacientes) e à troca de ganhos maiores no futuro por retornos imediatos (confira o estudo).
William Powers, autor de O BlackBerry de Hamlet, concorda: nossa conexão permanente, sem tempo para pausas, nos priva de momentos para refletir sobre as experiências vividas (leia também “A vida wi-fi”, do blog De lá pra cá). Em O inverno de nossa desconexão, Susan Maushart descreve seu experimento familiar no qual ela e seus três filhos se “desplugaram” (inclusive de televisão e videogames) por seis meses, e o que ficou dessa experiência ao se “replugarem”.
Nos feriados de Réveillon e de Carnaval muitos buscam uma pausa momentânea para uma vida ligada nos 220 V. Para que tomemos melhores decisões para nosso futuro e o das próximas gerações, é importante que busquemos mais momentos de pausa e de reflexão no restante do ano, e que saibamos nos conectar de maneira mais sábia. Há mais marshmallows para aqueles que souberem esperar.
*Fabio F. Storino é coordenador de TI e Gestão do Conhecimento do Centro de Estudos em Sustentabilidade (GVces)