Enquanto os brasileiros em geral se preparam para pôr o pé no acelerador no ano que “começa depois do Carnaval” e iniciar mais um ciclo de correria, esta edição convida a nossa sociedade dos excessos a se repensar. Será que o ritmo alucinado de trabalhar muito para consumir muito (e com isso também poluir muito) é o caminho mais sábio? Certamente, não. Como mostramos na edição anterior, não vivemos melhor só porque vivemos mais, há uma diferença importante entre quantidade e qualidade.
O número de horas trabalhadas, de itens consumidos, de resíduos gerados e de emissões de carbono não pressupõe uma vida melhor. Tantas vezes ocorre o contrário: na busca frenética por quantidade, que caracteriza a sociedade contemporânea medida por taxas de PIB e acelerada pela hiperconectividade, mal temos tempo de olhar para o sentido de cada ação e apenas respondemos passivamente ao que nos exige a engrenagem de um sistema. Com isso, acaba havendo uma inversão: trabalhamos basicamente para manter um sistema em funcionamento, em vez de criarmos um modo de organização social e econômica para nos servir e trazer bem-estar.
Pode parecer um despropósito falar em “menos” quando as economias do mundo todo buscam desesperadamente taxas de crescimento e haja tantas populações vivendo de forma precária. O crescimento ainda é necessário para gerar empregos e renda, mas antes de tudo é preciso qualificá-lo, eliminar distorções e desigualdades.
Isso significa dar sinais positivos a uma economia voltada para itens necessários, como uma produção mais limpa, mais educação, mais saúde, mais mobilidade, mais conhecimento, mais tempo livre. E, do outro lado, desincentivar a economia suja, o consumismo de bens supérfluos e o desperdício de tempo e de recursos. Isso exige reavaliações: o que de fato tem valor e merece o suor de nosso trabalho?
A sociedade dos excessos, perdulária e voraz, não cabe neste pequeno mundo finito. Para que tenhamos mais do que realmente importa, basta nos espelhar nas faxinas que costumamos fazer em casa no fim de ano: desapegamos de tudo aquilo que não faz falta para abrir espaço ao novo e imprescindível.
Boa leitura!