O Japão fez um anúncio importante na área energética essa semana. Depois de anos de pesquisas, seus técnicos conseguiram produzir gás a partir de hidrato de metano localizado nas profundezas do oceano. O fato deixa os japoneses mais próximos de uma fonte energética gigantesca e o mundo à beira de um experimento com consequências climáticas imprevisíveis.
Com consistência de sorvete e encontrado em vastas quantidades nos sedimentos no fundo dos oceanos e no solo congelado das latitudes mais altas, o hidrato de metano consiste de moléculas de metano presas em água gelada – por pegar fogo facilmente, é chamado de “gelo inflamável”.
Principal componente do gás natural, o metano é um gás de efeito estufa e seu potencial de aquecimento é cerca de 20 vezes maior do que o CO2.
As atuais concentrações de metano na atmosfera superam em aproximadamente 200 vezes as de CO2, mas elas aumentaram cerca de 150% desde antes da Revolução Industrial, enquanto as concentrações de CO2 subiram 40% no mesmo período. O IPCC estima que as concentrações de metano na atmosfera da Terra não estiveram tão altas como hoje em pelo menos 420 mil anos.
A decomposição do hidrato de metano preso no fundo do mar é uma das hipóteses levantadas pelos cientistas para explicar o mecanismo de feedback que levou à brusca mudança do clima no fim da época geológica do Paleoceno, há 55,8 milhões de anos.
Hoje, as principais fontes de emissão de metano são áreas alagadas, gado, produção de combustíveis fósseis e cultivo de arroz. O IPCC calcula que apenas 1% das emissões de metano deve-se à decomposição de hidrato de metano, mas os próprios cientistas admitem que é difícil estimar com precisão.
A quantidade de hidrato de metano no mundo é intensamente debatida. Estimativas conservadoras dão conta de que o volume total é duas vezes maior do que a quantidade de carbono em todos os demais combustíveis fósseis conhecidos.
Altamente dependente de importações de combustíveis, o Japão começou a rever seus investimentos em energia nuclear depois que o tsunami de dois anos atrás causou o acidente nuclear em Fukushima. Se forem bem sucedidos em desenvolver tecnologia para extrair gás de hidrato de metano, os japoneses terão encontrado uma alternativa energética que pode dar conta da demanda do país pelo próximo século.
As autoridades japonesas dizem que o plano é começar a produzir em 2018. A complexidade e o custo de extrair e comercializar o gás levam alguns observadores do setor energético a prever que, ao contrário do que dizem os japoneses, as reservas ficarão onde estão por muito tempo.
O Serviço Geológico dos EUA diz que uma catástrofe climática causada pela decomposição do hidrato de metano devido ao aquecimento global – a temperatura mais alta da água contribui para a liberação do metano do fundo do mar, o que gera mais aquecimento e a realimenta o ciclo – é improvável. Segundo as pesquisas, a desestabilização das camadas de metano no fundo dos oceanos levaria milhares de anos.
Quanto ao impacto da extração do gás pelo homem, as consequências são desconhecidas. Ambientalistas receiam que a atividade possa ajudar a desestabilizar o metano estocado no fundo dos oceanos, além de causar acidentes de proporções e impactos gigantescos.
Uma coisa é certa. Se a tecnologia que o Japão agora desenvolve for bem sucedida, as chances de controlarmos nosso vício fóssil e, com isso, as emissões humanas de gases de efeito estufa, serão ceifadas radicalmente.