O aleitamento materno exclusivo nos seis primeiros meses de vida, recomendado pela Organização Mundial da Saúde, é um dos fatores que a Access to Nutrition Index (ATNI) considera fundamentais para evitar tanto a desnutrição quanto a obesidade. E até nisso a indústria de alimentos tem sua responsabilidade, já que fabrica fórmulas infantis.
A preocupação da ATNI nesse quesito é evitar que os fabricantes adotem estratégias de marketing que promovam esse tipo de produto como nutricionalmente superior ao leite materno e entre mães que não precisam de substitutos, fato já ocorrido mais de uma vez e vetado pelo Código Internacional para o Marketing de Substitutos do Leite Materno, de 1981.
Segundo a nota de divulgação para a imprensa, embora demonstrem comprometimento com a nutrição de seus consumidores, foi por violar esse código que Danone e Nestlé, duas das maiores marcas de alimentos infantis, receberam nota abaixo de 7. Em resposta à PÁGINA22, a Danone ressalta sua dedicação a produzir alimentos nutritivos, considerando-se merecedora do topo do ranking. “Resultados como este refletem o quão inserido o tema da nutrição está dentro da empresa e confirmam que estamos no caminho certo”, diz Ana Tasca Del’Arco, gerente em saúde e nutrição da marca.
A questão que fica é se avaliações como essa podem de fato tornar as práticas no setor de alimentos mais responsáveis. Além de o relatório premiar esforços que as empresas mais endinheiradas já demonstram, como a publicação frequente de relatórios corporativos, críticos desconfiam do fato de a Gain ter Unilever, Pepsico, Coca-Cola e outras marcas como parceiras: seriam as próprias empresas indiretamente avaliando-se e aprovando a si mesmas?
Copresidente da International Baby Food Action Network (IBFAN), organização de proteção à alimentação adequada na infância, a britânica Patti Rundall teme que a ATNI seja, na verdade, um instrumento de endosso para as grandes marcas. “É uma tática esperta que premia empresas pelas realizações erradas, pois desvia nossa atenção do que é urgente: legislação forte com monitoramento independente.” Pelo menos, a iniciativa está gerando debate. Inócua não há de ser.
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O aleitamento materno exclusivo nos seis primeiros meses de vida, recomendado pela Organização Mundial da Saúde, é um dos fatores que a Access to Nutrition Index (ATNI) considera fundamentais para evitar tanto a desnutrição quanto a obesidade. E até nisso a indústria de alimentos tem sua responsabilidade, já que fabrica fórmulas infantis.
A preocupação da ATNI nesse quesito é evitar que os fabricantes adotem estratégias de marketing que promovam esse tipo de produto como nutricionalmente superior ao leite materno e entre mães que não precisam de substitutos, fato já ocorrido mais de uma vez e vetado pelo Código Internacional para o Marketing de Substitutos do Leite Materno, de 1981.
Segundo a nota de divulgação para a imprensa, embora demonstrem comprometimento com a nutrição de seus consumidores, foi por violar esse código que Danone e Nestlé, duas das maiores marcas de alimentos infantis, receberam nota abaixo de 7. Em resposta à PÁGINA22, a Danone ressalta sua dedicação a produzir alimentos nutritivos, considerando-se merecedora do topo do ranking. “Resultados como este refletem o quão inserido o tema da nutrição está dentro da empresa e confirmam que estamos no caminho certo”, diz Ana Tasca Del’Arco, gerente em saúde e nutrição da marca.
A questão que fica é se avaliações como essa podem de fato tornar as práticas no setor de alimentos mais responsáveis. Além de o relatório premiar esforços que as empresas mais endinheiradas já demonstram, como a publicação frequente de relatórios corporativos, críticos desconfiam do fato de a Gain ter Unilever, Pepsico, Coca-Cola e outras marcas como parceiras: seriam as próprias empresas indiretamente avaliando-se e aprovando a si mesmas?
Copresidente da International Baby Food Action Network (IBFAN), organização de proteção à alimentação adequada na infância, a britânica Patti Rundall teme que a ATNI seja, na verdade, um instrumento de endosso para as grandes marcas. “É uma tática esperta que premia empresas pelas realizações erradas, pois desvia nossa atenção do que é urgente: legislação forte com monitoramento independente.” Pelo menos, a iniciativa está gerando debate. Inócua não há de ser.