Uma agenda ampla, difusa e transversal que tantas vezes se confunde com a do próprio desenvolvimento sustentável: é nos seus grandes desafios que reside a beleza do tema abordado nesta edição – a adaptação aos efeitos da mudança climática.
Adaptar-se é da natureza da matéria viva. A evolução da vida na Terra é uma épica história de adaptação contada em bilhões de anos. Entre as espécies mais resilientes está a humana, uma das poucas capazes de habitar qualquer bioma. Ao mesmo tempo, é a única a impor a todas as outras uma mudança radical no ambiente, em ritmo que ela mesma tem tido dificuldade de acompanhar.
Nos últimos 200 anos, o clima – bem provavelmente potencializado por causas antrópicas – mudou tanto e de modo tão brusco que seus efeitos serão sentidos por muito tempo. Ainda que se obtenham conquistas no campo da mitigação, com redução nas emissões de carbono, a necessidade de investimento em adaptação se impõe como nunca.
Mas, para colocar esta agenda em prática, deparamo-nos com um desafio inicial: como delimitar políticas objetivas que justifiquem captação de recursos adicionais, uma vez que qualquer agenda mais ampla de desenvolvimento – como educação, saúde e fortalecimento da economia – pode ser considerada forma de aumentar a resiliência de uma população diante de condições mais inóspitas do ambiente.
Outra questão é como desenhar planos de adaptação a múltiplas mãos, envolvendo atores variados como o poder público – nacional e regional –, organismos multilaterais, iniciativa privada e comunidade científica, todos trabalhando em cima de uma matéria de caráter tão transversal.
Não bastasse isso, são as camadas pobres, sobretudo em países em desenvolvimento, que mais terão de superar esses desafios, por serem justamente as mais vulneráveis. Por conta desses fatores, adaptação é um assunto que exige muita construção de conhecimento, debates, políticas e ações efetivas – agora e depois.
Boa leitura!