No último dia 08, o projeto Fronteiras do Pensamento trouxe à São Paulo a escritora britânica Karen Armstrong para uma conversa sobre religiões. Representando o GVces, tive a oportunidade de ouvi-la e gostaria de compartilhar um pouco dessa conversa.
Ela é estudiosa da histórias das religiões, das quais ela fala como uma forma de arte que, assim como a experiência de contemplação de uma obra, nos permite, através de momentos de reflexão individual (como a meditação), atingir o êxtase – sair de nós mesmos, ter uma experiência ampliada, fora do “eu”.
É muito legal quando ela fala que a nossa ideia de Papai Noel muda de acordo com o nosso amadurecimento, mas nossa ideia de Deus permanece a mesma, desde quando nos contam “quem ele é” quando somos crianças. Segundo Karen, o termo “acreditar em Deus” é equivocado: originalmente, na Bíblia, a palavra usada significava “dedicar”, ou seja, a religião está no ato, em nossas ações cotidianas, e não em uma crença.
A escritora bebe de todas as religiões e acredita que a violência do fundamentalismo religioso vem justamente do fato dos fieis se apegarem à verdade – ilusória, segundo ela – de sua religião em vez de compreenderem e aprenderem com as outras. É uma religiosidade meio anárquica, envolvida por um grande misticismo.
Ela acredita muito na compaixão como a base do relacionamento humano e da nossa vida cotidiana. Nesse sentido, Karen Armstrong organizou uma iniciativa chamada Charter for Compassion, dentro da qual tem um outro projeto bem banaca, a International Campaign for Compassionate Cities. Esta campanha vê a cidade como o espaço mais real de vivência para as pessoas e estimula as cidades a serem espaços que favorecem a compaixão entre os indivíduos.
Saí de lá pensando que este talvez seja o ponto mais desafiador; É difícil viver uma vida de compaixão se na maior parte do tempo nossas relações são intermediadas por instituições altamente desumanizadas (o mercado, as empresas, o governo, etc.), que limitam a nossa ação individual, a espontaneidade, a inovação, a empatia e, obviamente, a compaixão com os outros. Daí vem a importância da emergência do sujeito, algo trabalhado pelo FIS e que está em nossos objetivos.
Sugiro a todos que assistam à apresentação dela no site do TED.
Manuela Santos, GVces