Uma linha do tempo que mostra como o futebol relaciona-se com a história social e política do País
1894 – O nascimento
Charles Miller, brasileiro, filho de escocês, retorna da Inglaterra, para onde foi estudar. Traz na bagagem uma bola e o gosto pelo esporte, que ensina aos amigos, ingleses e brasileiros filhos de europeus como ele. É considerado “pai do futebol brasileiro”. O futebol nasce como esporte de engenheiro e altos funcionários de companhias inglesas, como a São Paulo Railway Company.
1900-1910 – Esporte fino
O futebol cai no gosto dos jovens frequentadores dos clubes atléticos e de regatas recém-criados em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Bahia e Rio Grande do Sul. É um esporte da elite, como rugby, críquete, tênis e os náuticos, tanto no Brasil quanto no resto do mundo. Nascem também os primeiros campeonatos estaduais. É chamado pela imprensa de “violento esporte bretão”.
1900
Fundado o Sport Club Rio Grande (RS), considerado o primeiro clube de futebol do País.
1904
Criada a Fédération Internationale de Football Association (Fifa), na Suíça.
1910-1920 – Operários em campo
Operários das tecelagens e ferrovias apaixonam-se pelo esporte. Em 1910, nasce o Sport Club Corinthians Paulista, cujo primeiro presidente, Miguel Battaglia, era alfaiate. O futebol começa a perder seu caráter branco e elitista. Uma declaração atribuída ao diplomata Rui Barbosa por ocasião do I Campeonato Sul-Americano em 1916 mostra as tensões desse período: “Para mim, futebolista é sinônimo de vagabundo”.
1916
Criada a Confederação Brasileira de Desportos (CBD), precursora da CBF
1920-1930 – Pó de arroz
A participação de negros nos times é polêmica. Talentosos, tornam-se contratações importantes numa fase de mais profissionalização dos clubes, em que se multiplicam campeonatos e ligas. Alguns clubes proíbem. Outros, como o Fluminense, os pintam com pó de arroz antes de entrarem em campo. O Palmeiras contratou seu primeiro jogador negro somente em 1942 e o Grêmio, dez anos mais tarde.
1930-1950 – Esporte nacional
O futebol populariza-se no mundo todo e já faz parte dos Jogos Olímpicos. Em 1930, a Fifa realiza a primeira Copa no Uruguai, então campeão olímpico. Getulio Vargas vê no esporte um elemento crucial para forjar uma unidade nacional em um país multifacetado e pouco conectado econômica, cultural e fisicamente. A delegação brasileira de 1938 é a primeira a receber apoio do governo para ir à Copa da França.
1940
Getulio Vargas participa da inauguração do Estádio do Pacaembu, em São Paulo
1950 – O Maracanazo
Com a Europa destroçada pela guerra, não havia muitos candidatos a sediar a Copa. A CBD, que já havia oferecido o Brasil sem sucesso para a Copa de 1938, candidata o País novamente, agora com apoio do governo. Este promete construir o maior estádio do mundo e faz o Maracanã em apenas dois anos. Nessa época, o futebol já é o esporte das massas, que choram até hoje a perda do título para o Uruguai. O Brasil conquista seu primeiro título somente em 1958, ano em que apresenta ao mundo Pelé: jovem, negro, pobre e que veio a ser considerado o melhor jogador de todos os tempos.
1970 – 90 milhões em ação
O Brasil torna-se tricampeão no auge da repressão política e do milagre econômico da ditadura. Com astúcia, os militares capitalizam propaganda positiva sobre a paixão brasileira pelo futebol. E jogam duro com os clubes e a seleção. O treinador da Seleção de 70, João Saldanha, é considerado comunista e substituído por Zagallo, por ordem do general-presidente Médici. Em 1971 Afonsinho torna-se símbolo de resistência. Posto “na geladeira” do Botafogo por se recusar a abandonar o visual barbudo-cabeludo, outra imposição da ditadura, ganha na Justiça o poder sobre seu passe e muda a história dos jogadores profissionais.
1980-2000 – O grande negócio
Em 1981, a direção do Corinthians dá ouvidos a jogadores críticos e intelectuais como Sócrates e implanta a Democracia Corintiana, dando poder de voto para jogadores e funcionários e estampando nas camisetas frases de apoio às Diretas Já. Mas a inovação dura pouco. O futebol torna-se um negócio altamente profissionalizado, passa a adotar modelos de gestão europeus e vê nascer o Clube dos 13. O Brasil passa a ser exportador de craques, como Falcão, Zico, Junior, Cerezzo, Careca e Casagrande, tendência que chega ao ápice em 1998, quando Denilson Araújo vai para a Espanha por US$ 32 milhões – até aquele momento a transferência mais cara da História.
Hoje – A era das Arenas
Ir a um estádio está ficando cada vez mais caro. Na inauguração do Estádio Nacional de Brasília Mané Garrincha, em 26 de maio, o ingresso mais barato para ver Santos x Flamengo custava R$ 160. As camisas oficiais dos times custam perto de R$ 200. As massas serão expulsas dos estádios?
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