O profissional com capacidade de fazer análise de conjuntura e de dados – com muita qualidade – parece ser o jornalista de amanhã, ou de daqui a pouco. Mas ainda falta as faculdades se prepararem.
Não faz tanto tempo, entrar na sala de um laboratório de redação em uma faculdade de jornalismo era encontrar sobre as mesas nostálgicas máquinas de escrever, que faziam muito barulho e exigiam aparatos como carbono, corretivo, tas de tinta e folhas de pauta. Vinte anos depois, os teclados dos computadores são mais silenciosos, mas a revolução que a era digital vem causando na comunicação é ensurdecedora e ainda está para ser assimilada. Mais do que trazer velocidade à produção de conteúdo e sua distribuição – facilitadas pelas redes e por gadgets cada vez mais acessíveis, como smartphones e câmeras digitais –, tem provocado mudanças profundas e provavelmente irreversíveis, desde o modelo de negócios até a definição do que é o jornalismo (mais em Entrevista).
A lógica cartesiana que norteou desde sempre a formação não dá conta dos dilemas e das transformações pelas quais o jornalismo, e por extensão o jornalista, vem passando mundo. No País, temos visto nos últimos anos demissões de profissionais, fechamento de jornais historicamente importantes – caso do Jornal da Tarde e da versão impressa do Jornal do Brasil – e diminuição do número de cadernos nos jornais impressos – casos da Folha de S.Paulo e de O Estado de S. Paulo (mais na reportagem “Imprensa sem Papel”). Se o próprio mercado ainda permanece à procura da lógica desse novo modelo, como os futuros jornalistas que buscam um diploma podem se preparar?
Há controvérsias, a começar pela proposta de Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Jornalismo [1], encaminhada em fevereiro ao Ministério da Educação. Para a Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós), “a proposta fragmenta e limita a formação jornalística, pois reflete pensamento tecnicista e disciplinar, enquanto no resto do mundo centros de pesquisa e pesquisadores tornam-se cada vez menos apegados a rótulos disciplinares e a objetos nitidamente recortados”.
[1]Definem as políticas, o processo pedagógico, o perfil técnico e a filosofia de formação dos cursos. Entre as alterações estão nomenclatura específica (Bacharelado em Jornalismo), carga horária total de 3.200 horas, instituição do estágio curricular obrigatório, distribuição de disciplinas de formação específica e atividades laboratoriais a partir do primeiro semestre do curso.
Do mesmo modo, a Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação (Enecos) vê na proposta a extinção da Comunicação Social como área de conhecimento, fragmentando a formação (acesse aqui ). Hoje nossas universidades formam bacharéis em Comunicação com habilitação em Jornalismo (documento na integra esperando homologação).
As diretrizes, que aguardam homologação, receberam o apoio da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor), da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ) (veja aqui).
A ênfase atual em teorias gerais da comunicação é tomada como positiva por um lado, na medida em que proporcionaria aos futuros jornalistas um olhar mais amplo sobre a sociedade. Por outro, os que defendem o bacharelado específico para jornalismo veem o atual modelo generalista como responsável por reduzir o espaço para discussões fundamentais à atividade profissional. O relatório da comissão de especialistas instituída pelo MEC aponta que a atual estrutura dos cursos oferecidos promoveu o desaparecimento de conteúdos como ética, deontologia (estudo dos deveres da profissão) e história do jornalismo, ou sua dissolução em conteúdos mais gerais, que não responderiam a questões específicas suscitadas pela prática profissional.
“Os cursos e as universidades não estão ainda prontos, uma vez que a mudança foi repentina e estrutural”, afirma o professor e coordenador do Centro de Pesquisa Internacional Atopos, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), Massimo Di Felice. “Mesmo as empresas de comunicação encontram-se despreparadas. Estamos no começo de uma nova forma de relação com as informações, sejam estas notícias, sejam conteúdos de qualquer tipo.” Segundo ele, a transformação do jornalismo remete ao advento de uma nova arquitetura da informação. A profissão será mais ligada ao trabalho de organização das informações e de aprofundamento da reflexão sobre temáticas específicas, duas atividades que requerem competências e conhecimentos teóricos.
Carlos Eduardo Lins da Silva, professor e jornalista com passagens pelos jornais Valor Econômico e Folha de S.Paulo (neste último, foi secretário de redação e ombudsman), avalia que a maior parte das escolas de jornalismo no Brasil não é de boa qualidade, embora admita que haja exceções. Como fatores que explicam em parte esse quadro, ele aponta a falta de recursos e de veículos de laboratório com a edição de produtos regulares, além da distância entre os que atuam na profissão e os professores.
“Nos Estados Unidos, instituições como o Tow Center for Digital Journalism [2], da Universidade Columbia, foram criadas para pensar criticamente o exercício do jornalismo, e no Brasil falta isso historicamente. Há pouca pesquisa, e muito do que é produzido não é empírico, mas bibliográfico. Esse é um caminho interessante para o ensino no futuro.”
[2]Responsável pelo estudo “Jornalismo Pós-Industrial – Adaptação aos novos tempos”, traduzido pela Revista de Jornalismo ESPM na edição do segundo trimestre de 2013
Embora temas como webjornalismo, deontologia do jornalismo digital, jornalismo on-line, notícias na web, ciberespaço, redes colaborativas e jornalismo digital em base de dados estejam entre os trabalhos apresentados na Compós, a análise da ótica de funcionamento das mídias tradicionais ainda é dominante. Mesmo no caso desses novos temas, parece não haver ainda massa pensante que possibilite uma reflexão holística do que poderá significar (e já está significando) o fazer jornalismo com o uso de todos esses recursos.
Tattiana Teixeira, professora da Universidade Federal de Santa Catarina e coordenadora do Grupo de Estudos em Jornalismo criado na Compós em 2000, avalia que “os pesquisadores estão atentos às transformações, seu efeitos e perspectivas. Os resultados dessas pesquisas são apresentados em diferentes eventos, como os encontros da própria Compós, da SBPJor, da Intercom e do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo”.
Como comprovação dessa sintonia, ela cita que, ainda em 2001, um ano após a criação do grupo, um dos estudos apresentados na Compós abordava jornalismo on-line e identidade profissional do jornalista. “A deontologia no jornalismo digital já era discutida em um trabalho de 2003; os sistemas automatizados de produção, em 2005; o jornalismo digital em base de dados, em 2006”, diz Tattiana (mais aqui).
À MODA ANTIGA
Curso novo em uma instituição que se caracteriza pela formação de publicitários e inovação, o Jornalismo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) formará sua primeira turma no próximo ano. Um dos alunos, Gabriel Garcia, que trabalha como estagiário há seis meses na Editora Abril, dá seu depoimento sobre o modelo educacional do curso: “Desde o início temos contato com plataformas móveis, portal, mas o curso ainda é voltado para o modelo de jornalismo antigo, porque não sabemos para onde vamos. As faculdades precisam contar com bons laboratórios e colocar o aluno para ter experiências antes de entrar numa redação”. O professor da ESPM Enio Moraes Júnior, também avalia que “o melhor caminho para formar jornalistas é articular, cada vez mais, o ensino da teoria com a prática laboratorial. É trazer os fatos para a sala de aula, valorizar a discussão e a elaboração da pauta como ponto de partida para a reportagem”.
Autor do livro Formação de Jornalistas: Elementos para uma pedagogia de ensino do interesse público (Annablume, 2013), Moraes pondera: “Em muitas escolas, em muitos grupos de pesquisa, estamos nos reinventando. Esse é um sintoma de que nos incomodamos com as mudanças. Penso que, do modelo tradicional, conservaremos, é claro, a essência do jornalismo: o cidadão, o interesse público. Entretanto, cada vez mais repensaremos seu modus operandi”.
O novo modelo vai acarretar uma mudança de perfil, na visão de Massimo Di Felice: “Se no contexto analógico o jornalista deveria saber um pouco de tudo, no contexto digital me parece que será mais importante e necessário ser especialista de áreas temáticas, conseguindo elaborar análises que proporcionarão um conhecimento e uma leitura mais criteriosa a leitores e comentaristas de áreas específicas”, diz.
As novas diretrizes curriculares a serem homologadas podem ser boa oportunidade para debater e inserir os sinais dos novos tempos na vida acadêmica de nossos futuros profissionais. Embora as mudanças em curso no jornalismo dos Estados Unidos não se repitam ipsis litteris no Brasil, tendemos a ter processos muito similares, uma vez que eles nos servem como modelo. Como aponta estudo do Tow Center, é importante recrutar e formar jornalistas (nas redações ou em faculdades de jornalismo) capazes de lidar com um estado permanente de mudança nesta era pós-industrial.
Ao que tudo indica, as habilidades do futuro jornalista deverão incluir conhecimentos de temas específicos, capacidade de acessar e analisar dados e lidar com fontes múltiplas, inclusive redes sociais. Mais: segundo o professor Urbano Nojosa, da PUC-SP, os jornalistas precisam ser empreendedores. “Havia uma estrutura de negócios dentro do mundo analógico, e ela está se reconfigurando. E essa nova estrutura abre novas áreas de atuação, novos negócios, torna o jornalista muitas vezes mais empreendedor.”
Jeff Jarvis, jornalista, autor do blog buzzmachine.com e um dos especialistas mais importantes nos EUA sobre a evolução da internet, cunhou a expressão “do what you do best and link the rest” (algo como “faça o que é seu forte e ponha links para o resto”). Bem, a escolha dos links é também fundamental. Esse exercício de análise e contextualização da informação, não mais apenas registro dos fatos, exigirá uma formação bem mais complexa de nossos estudantes de jornalismo para o exercício futuro de sua profissão.
Em terra de superdistribuição de conteúdo, quem souber fazer a curadoria dos links e a análise de conjuntura com qualidade será rei.
[:en]
O profissional com capacidade de fazer análise de conjuntura e de dados – com muita qualidade – parece ser o jornalista de amanhã, ou de daqui a pouco. Mas ainda falta as faculdades se prepararem.
Não faz tanto tempo, entrar na sala de um laboratório de redação em uma faculdade de jornalismo era encontrar sobre as mesas nostálgicas máquinas de escrever, que faziam muito barulho e exigiam aparatos como carbono, corretivo, tas de tinta e folhas de pauta. Vinte anos depois, os teclados dos computadores são mais silenciosos, mas a revolução que a era digital vem causando na comunicação é ensurdecedora e ainda está para ser assimilada. Mais do que trazer velocidade à produção de conteúdo e sua distribuição – facilitadas pelas redes e por gadgets cada vez mais acessíveis, como smartphones e câmeras digitais –, tem provocado mudanças profundas e provavelmente irreversíveis, desde o modelo de negócios até a definição do que é o jornalismo (mais em Entrevista).
A lógica cartesiana que norteou desde sempre a formação não dá conta dos dilemas e das transformações pelas quais o jornalismo, e por extensão o jornalista, vem passando mundo. No País, temos visto nos últimos anos demissões de profissionais, fechamento de jornais historicamente importantes – caso do Jornal da Tarde e da versão impressa do Jornal do Brasil – e diminuição do número de cadernos nos jornais impressos – casos da Folha de S.Paulo e de O Estado de S. Paulo (mais na reportagem “Imprensa sem Papel”). Se o próprio mercado ainda permanece à procura da lógica desse novo modelo, como os futuros jornalistas que buscam um diploma podem se preparar?
Há controvérsias, a começar pela proposta de Diretrizes Curriculares Nacionais para o Curso de Jornalismo [1], encaminhada em fevereiro ao Ministério da Educação. Para a Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Comunicação (Compós), “a proposta fragmenta e limita a formação jornalística, pois reflete pensamento tecnicista e disciplinar, enquanto no resto do mundo centros de pesquisa e pesquisadores tornam-se cada vez menos apegados a rótulos disciplinares e a objetos nitidamente recortados”.
[1]Definem as políticas, o processo pedagógico, o perfil técnico e a filosofia de formação dos cursos. Entre as alterações estão nomenclatura específica (Bacharelado em Jornalismo), carga horária total de 3.200 horas, instituição do estágio curricular obrigatório, distribuição de disciplinas de formação específica e atividades laboratoriais a partir do primeiro semestre do curso.
Do mesmo modo, a Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação (Enecos) vê na proposta a extinção da Comunicação Social como área de conhecimento, fragmentando a formação (acesse aqui ). Hoje nossas universidades formam bacharéis em Comunicação com habilitação em Jornalismo (documento na integra esperando homologação).
As diretrizes, que aguardam homologação, receberam o apoio da Associação Brasileira de Pesquisadores em Jornalismo (SBPJor), da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) e do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo (FNPJ) (veja aqui).
A ênfase atual em teorias gerais da comunicação é tomada como positiva por um lado, na medida em que proporcionaria aos futuros jornalistas um olhar mais amplo sobre a sociedade. Por outro, os que defendem o bacharelado específico para jornalismo veem o atual modelo generalista como responsável por reduzir o espaço para discussões fundamentais à atividade profissional. O relatório da comissão de especialistas instituída pelo MEC aponta que a atual estrutura dos cursos oferecidos promoveu o desaparecimento de conteúdos como ética, deontologia (estudo dos deveres da profissão) e história do jornalismo, ou sua dissolução em conteúdos mais gerais, que não responderiam a questões específicas suscitadas pela prática profissional.
“Os cursos e as universidades não estão ainda prontos, uma vez que a mudança foi repentina e estrutural”, afirma o professor e coordenador do Centro de Pesquisa Internacional Atopos, da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA-USP), Massimo Di Felice. “Mesmo as empresas de comunicação encontram-se despreparadas. Estamos no começo de uma nova forma de relação com as informações, sejam estas notícias, sejam conteúdos de qualquer tipo.” Segundo ele, a transformação do jornalismo remete ao advento de uma nova arquitetura da informação. A profissão será mais ligada ao trabalho de organização das informações e de aprofundamento da reflexão sobre temáticas específicas, duas atividades que requerem competências e conhecimentos teóricos.
Carlos Eduardo Lins da Silva, professor e jornalista com passagens pelos jornais Valor Econômico e Folha de S.Paulo (neste último, foi secretário de redação e ombudsman), avalia que a maior parte das escolas de jornalismo no Brasil não é de boa qualidade, embora admita que haja exceções. Como fatores que explicam em parte esse quadro, ele aponta a falta de recursos e de veículos de laboratório com a edição de produtos regulares, além da distância entre os que atuam na profissão e os professores.
“Nos Estados Unidos, instituições como o Tow Center for Digital Journalism [2], da Universidade Columbia, foram criadas para pensar criticamente o exercício do jornalismo, e no Brasil falta isso historicamente. Há pouca pesquisa, e muito do que é produzido não é empírico, mas bibliográfico. Esse é um caminho interessante para o ensino no futuro.”
[2]Responsável pelo estudo “Jornalismo Pós-Industrial – Adaptação aos novos tempos”, traduzido pela Revista de Jornalismo ESPM na edição do segundo trimestre de 2013
Embora temas como webjornalismo, deontologia do jornalismo digital, jornalismo on-line, notícias na web, ciberespaço, redes colaborativas e jornalismo digital em base de dados estejam entre os trabalhos apresentados na Compós, a análise da ótica de funcionamento das mídias tradicionais ainda é dominante. Mesmo no caso desses novos temas, parece não haver ainda massa pensante que possibilite uma reflexão holística do que poderá significar (e já está significando) o fazer jornalismo com o uso de todos esses recursos.
Tattiana Teixeira, professora da Universidade Federal de Santa Catarina e coordenadora do Grupo de Estudos em Jornalismo criado na Compós em 2000, avalia que “os pesquisadores estão atentos às transformações, seu efeitos e perspectivas. Os resultados dessas pesquisas são apresentados em diferentes eventos, como os encontros da própria Compós, da SBPJor, da Intercom e do Fórum Nacional de Professores de Jornalismo”.
Como comprovação dessa sintonia, ela cita que, ainda em 2001, um ano após a criação do grupo, um dos estudos apresentados na Compós abordava jornalismo on-line e identidade profissional do jornalista. “A deontologia no jornalismo digital já era discutida em um trabalho de 2003; os sistemas automatizados de produção, em 2005; o jornalismo digital em base de dados, em 2006”, diz Tattiana (mais aqui).
À MODA ANTIGA
Curso novo em uma instituição que se caracteriza pela formação de publicitários e inovação, o Jornalismo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) formará sua primeira turma no próximo ano. Um dos alunos, Gabriel Garcia, que trabalha como estagiário há seis meses na Editora Abril, dá seu depoimento sobre o modelo educacional do curso: “Desde o início temos contato com plataformas móveis, portal, mas o curso ainda é voltado para o modelo de jornalismo antigo, porque não sabemos para onde vamos. As faculdades precisam contar com bons laboratórios e colocar o aluno para ter experiências antes de entrar numa redação”. O professor da ESPM Enio Moraes Júnior, também avalia que “o melhor caminho para formar jornalistas é articular, cada vez mais, o ensino da teoria com a prática laboratorial. É trazer os fatos para a sala de aula, valorizar a discussão e a elaboração da pauta como ponto de partida para a reportagem”.
Autor do livro Formação de Jornalistas: Elementos para uma pedagogia de ensino do interesse público (Annablume, 2013), Moraes pondera: “Em muitas escolas, em muitos grupos de pesquisa, estamos nos reinventando. Esse é um sintoma de que nos incomodamos com as mudanças. Penso que, do modelo tradicional, conservaremos, é claro, a essência do jornalismo: o cidadão, o interesse público. Entretanto, cada vez mais repensaremos seu modus operandi”.
O novo modelo vai acarretar uma mudança de perfil, na visão de Massimo Di Felice: “Se no contexto analógico o jornalista deveria saber um pouco de tudo, no contexto digital me parece que será mais importante e necessário ser especialista de áreas temáticas, conseguindo elaborar análises que proporcionarão um conhecimento e uma leitura mais criteriosa a leitores e comentaristas de áreas específicas”, diz.
As novas diretrizes curriculares a serem homologadas podem ser boa oportunidade para debater e inserir os sinais dos novos tempos na vida acadêmica de nossos futuros profissionais. Embora as mudanças em curso no jornalismo dos Estados Unidos não se repitam ipsis litteris no Brasil, tendemos a ter processos muito similares, uma vez que eles nos servem como modelo. Como aponta estudo do Tow Center, é importante recrutar e formar jornalistas (nas redações ou em faculdades de jornalismo) capazes de lidar com um estado permanente de mudança nesta era pós-industrial.
Ao que tudo indica, as habilidades do futuro jornalista deverão incluir conhecimentos de temas específicos, capacidade de acessar e analisar dados e lidar com fontes múltiplas, inclusive redes sociais. Mais: segundo o professor Urbano Nojosa, da PUC-SP, os jornalistas precisam ser empreendedores. “Havia uma estrutura de negócios dentro do mundo analógico, e ela está se reconfigurando. E essa nova estrutura abre novas áreas de atuação, novos negócios, torna o jornalista muitas vezes mais empreendedor.”
Jeff Jarvis, jornalista, autor do blog buzzmachine.com e um dos especialistas mais importantes nos EUA sobre a evolução da internet, cunhou a expressão “do what you do best and link the rest” (algo como “faça o que é seu forte e ponha links para o resto”). Bem, a escolha dos links é também fundamental. Esse exercício de análise e contextualização da informação, não mais apenas registro dos fatos, exigirá uma formação bem mais complexa de nossos estudantes de jornalismo para o exercício futuro de sua profissão.
Em terra de superdistribuição de conteúdo, quem souber fazer a curadoria dos links e a análise de conjuntura com qualidade será rei.