Conheça experiências de quem se desencantou dos grandes meios, nem os conheceu ou partiu direto para a prática quando o Brasil resolveu ocupar as ruas
A eclosão da “Primavera Brasileira” (ou Nosso Outono!) no último mês fez surgir junto um número de produtores de notícias e imagens levando a um pé de igualdade entre emissores e receptores na teoria da comunicação. Manifestantes e produtores de notícias se confundiram, pulverizando as informações das centenas de cidades em que ocorriam os protestos, e publicando-as em tempo real nos sites e redes sociais. A grande mídia, não raro, lançou apelos para que o leitor/espectador colaborasse com a cobertura dos movimentos, pavimentando o terreno dos jornalismos possíveis que estão a despontar: seremos todos jornalistas?
Um dos grupos que se vinham articulando fora dos holofotes e, diante da surpresa das marchas, decidiu mostrar e testar sua potência foi o Ninja – Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação. A página no Facebook rapidamente alcançou mais de 47 mil fãs (até o fechamento dessa edição) ávidos pela série de fotos inéditas de protestos tanto nas capitais como em cidades menores, em tempo real, onde a grande mídia ignorou ou chegou tarde demais. Textos telegráficos (ou “tuíticos”) acompanhavam as imagens com o reforço da cobertura da PosTV, a webtevê do grupo Fora do Eixo[1].
[1] Fora do Eixo é uma rede de coletivos culturais estabelecidos em 25 estados brasileiros que se sustenta a partir de atividades culturais e de educação independentes
Os “ninjas” – conforme relata um dos articuladores desse movimento e também do ExisteAmorEmSP, Bruno Torturra – aproveitaram a estrutura dos coletivos vinculados ao Fora do Eixo pelo Brasil e acionaram essa força-tarefa durante as manifestações. “Percebemos que os coletivos são potenciais sucursais do grupo de comunicação independente que estamos formando”, diz o jornalista, que trabalhou por 11 anos na revista Trip e como freelancer em diversos veículos nacionais “convencionais”.
Da sua experiência profissional e vivência com os colegas, Torturra publicou um texto-chave da crise do jornalismo em que anunciava os propósitos e o nascimento do Ninja. Em “O ficaralho”, ele alerta para a insatisfação e a sobrecarga de trabalho dos que ficam nas redações depois das demissões em massa promovidas pelos grandes grupos. Sofre quem sai, sofre quem fica e o que resta é um modelo comercial de jornalismo que não se sustenta mais.
“Creiam… não é necessariamente uma tragédia ter tantos, e bons, jornalistas na rua sem muita chance de voltar a um emprego formal tão cedo. Pode ser, ao contrário, uma excelente notícia. O ambiente perfeito, na ausência de gabinetes e editores, para o jornalismo se reencontrar na rede e nas ruas. Há o potencial de uma idade de ouro da reportagem hoje em dia”, afirma Torturra, em seu artigo.
O Ninja teve de se apresentar às pressas, pois a convocatória aberta aos jornalistas desempregados ou “a fim de se desempregar” acabou cancelada por conta da emergência dos protestos. E foi às ruas quem era ninja. O projeto da mídia independente nunca esteve tão aceso e coincidente com o processo histórico. Torturra avalia que as transformações políticas exigem mudanças nos meios de comunicação. É a chance de pensata e de ação em prol de um modelo que ofereça trabalho aos tantos que saem das faculdades de jornalismo e de um sistema social complexo, sedento por diferentes formas de articulação e de comunicação.
O grupo que se desenha a partir do Ninja quer embaralhar gerações de jornalistas: os experientes, menos plugados nas novas mídias e recém-afastados das redações, podem treinar e qualificar os jovens dos coletivos, craques das tecnologias, em uma lógica de retrocontaminação. O vírus do coletivo e as vozes da experiência juntos em ideais de compartilhamento, autogestão, copyleft (leia mais aqui), financiamento aberto, tudo isso conformando um modelo de comunicação distante da verticalidade dos organogramas vigentes.
INTERNET COM CREDIBILIDADE
Um grupo de 30 a 40 repórteres que já se vinha reunindo havia alguns meses também aproveitou o ensejo para dar forma ao projeto Repórter da Internet (RI). Com presença nas principais redes sociais, o grupo quis ser um contraponto à boataria que inunda as redes. “Durante os protestos nós nos dividimos, com alguns profissionais na rua e outros na central, e ali recebíamos as informações e as replicávamos. A intenção era fazer algo diferente da imprensa e ao mesmo tempo mais confiável do que os relatos na internet”, explicou um dos integrantes do RI ao Estado de S. Paulo, que acabou por publicar a história em suas páginas analíticas.
A dessacralização do repórter – em que cada um pode ser um produtor de notícia – seria mais uma característica dos novos tempos? Bruno Torturra pensa que sim. “As pessoas já apuram por conta própria. Na hora certa, ela pode ser repórter, qualificar essa capacidade de texto, fotografia. A gente acha que muda a lógica do jornalismo rapidamente”, afirma o articulador do Ninja, que no fim do mês passado lançou uma convocação nacional para correspondentes fotógrafos, repórteres de texto e cinegrafistas. Mais de 400 pessoas se ofereceram, informa o movimento na página do Facebook.
Então vem aquela pergunta que não quer calar: “Como pagar essa gente?” Ou: “Como os novos modelos vão se sustentar?”
Essa página da história é ainda um desafio para as experiências que estão surgindo. Os colaboradores ninjas na cobertura do protesto, por enquanto, vivem nas estruturas financiadas pelas atividades do Fora do Eixo. Moram em casas coletivas, compartilham carro, estruturas tecnológicas de trabalho e viajam pelo País para eventos e palestras se hospedando nas casas da rede. Torturra acredita que, quando as vozes disponíveis se apresentarem, surgirão modelos de financiamento e de suporte tecnológico para o que está por vir.
O crowdfunding tem se mostrado a melhor ferramenta até aqui. Vários projetos ligados a comunicação e jornalismo conseguiram viabilizar-se através do financiamento horizontal colaborativo. Um exemplo é o Cidades para Pessoas, projeto da jornalista Natália Garcia (foto abaixo), que também acredita tanto na mudança da figura do jornalista como na imagem do emprego.
“O emprego não é mais a resposta certa. Hoje eu defino como usar meu tempo e procuro conselheiros para fazer o que quero”, ou seja, Natália constrói projetos ouvindo e buscando experiências sobre os temas que interessam a ela.
Depois de passagens pelos grandes veículos e pela angústia que isso tem provocado especialmente para uma geração mais jovem, Natália colocou na plataforma Catarse, de financiamento colaborativo, o projeto de investigação de boas práticas urbanas ao redor do mundo. “Tinha R$ 2 mil no segundo dia. Não sabia o que esperar desse modelo que eu mal conhecia. Levantei R$ 25 mil na primeira fase, viajei durante seis meses por sete cidades europeias”, conta.
A partir daí surgiram convites para palestras, reportagens e um blog semanal sobre urbanismo. Na segunda etapa do crowdfunding, mais R$ 17 mil levaram Natália e a ilustradora Juliana Russo, que se juntou ao projeto, a cinco cidades dos EUA e do México para documentar as boas histórias de cidades sustentáveis para seus moradores.
O projeto agora pretende dar um novo passo, revela a jornalista. “Queremos nos transformar em uma espécie de agência de notícias, mas não no modelo tradicional. Criar uma rede de informações de conteúdo urbanístico, incluindo jornalismo, educação, palestras”, diz.
Uma das possibilidades é produzir conteúdo sob demanda da sociedade – iniciativa privada, governos, instituições, terceiro setor etc. Natália explica que cada conteúdo do Cidades para Pessoas será financiado de uma maneira diferente, mas com diretriz editorial sempre comandada por ela. “Muitas vezes, escolho um eixo de pesquisa e faço entrevistas por algum tempo, até saber que reportagens aquele assunto rende. Em seguida ofereço para veículos que podem se interessar.”
Com isso, ela se alimenta de repertório para dar palestras, cuja remuneração financia a produção de conteúdo desses eixos de pesquisa para o site do Cidades para Pessoas. “É como um círculo de alimentação do projeto, uma rede mesmo. Por isso não vejo como perder liberdade editorial ou capacidade de investigação [pelo fato de ser um jornalismo sob demanda]. Ao contrário: nunca tive mais liberdade. Pesquiso tudo o que quero e escrevo sobre o que quero também.” Natália acredita que a notícia começará a adquirir um caráter de aplicabilidade, reunindo a necessidade dos receptores com o know-how dos emissores (mais uma peça para o quebra-cabeça da comunicação hoje).
ALAVANCA PARA O MERCADO
Jovens que se decepcionaram ou até mesmo nunca chegaram ao mercado de trabalho da comunicação vislumbraram o cenário perfeito para o nascimento da Alavanca, a empresa social dos jovens da Brasilândia e região, formados no Instituto Sala 5. Essa história nos leva de volta à edição 24 da PÁGINA22, há cinco anos, quando buscávamos iniciativas cidadãs em regiões periféricas de São Paulo (leia aqui) e nos deparamos com a formação propiciada pelo Instituto Sala 5.
Pois bem, os jovens capacitavam-se nas oficinas culturais de fotografia, produção de texto, mobilização, mas acabavam trabalhando como operadores de telemarketing ou eternos estagiários, conta Luiz Flávio Lima, sócio-diretor da Alavanca (foto no topo da matéria).
“Tínhamos o canal de entrada dos jovens com a formação em criatividade, técnicas, informação e precisávamos dos canais de saída para potencializar os talentos”, diz Lima. A Alavanca Projetos e Comunicação surgiu para cumprir esse papel, valorizar os talentos formados ali e mostrar ao mercado ferramentas e serviços bastante testados e aprimorados internamente.
Os serviços são facilitação gráfica, fotografia institucional, planejamento estratégico, mediação de encontros, publicações, formação e processos, tudo aproveitado das vivências com os jovens no instituto e que encontraram rapidamente muitos clientes no mercado.
O carro-chefe é a facilitação gráfica – painéis visuais feitos em tempo real durante reuniões de planejamento de empresas como Coca-Cola e Petrobras, que estão entre os clientes da Alavanca. Também a assessoria técnica para desenvolver projetos de comunicação para comunidades é bastante acionada. O grupo desenvolve todo o processo de seleção e colaboração e entrega uma publicação, cartilha ou manual para a empresa.
Todo lucro é reinvestido nos processos de formação da Sala 5 para manter o círculo funcionando, gerando trabalho e renda para os jovens. A Alavanca tem sido chamada para levar seus serviços a outros Estados e este ano foi até o México. Lima pretende ampliar a atuação e até mesmo abrir liais pelo Brasil se as ideias se encontrarem. Ter e espalhar muitas vozes é mais uma pista para os jornalismos que se apresentam.[:en]Conheça experiências de quem se desencantou dos grandes meios, nem os conheceu ou partiu direto para a prática quando o Brasil resolveu ocupar as ruas
A eclosão da “Primavera Brasileira” (ou Nosso Outono!) no último mês fez surgir junto um número de produtores de notícias e imagens levando a um pé de igualdade entre emissores e receptores na teoria da comunicação. Manifestantes e produtores de notícias se confundiram, pulverizando as informações das centenas de cidades em que ocorriam os protestos, e publicando-as em tempo real nos sites e redes sociais. A grande mídia, não raro, lançou apelos para que o leitor/espectador colaborasse com a cobertura dos movimentos, pavimentando o terreno dos jornalismos possíveis que estão a despontar: seremos todos jornalistas?
Um dos grupos que se vinham articulando fora dos holofotes e, diante da surpresa das marchas, decidiu mostrar e testar sua potência foi o Ninja – Narrativas Independentes, Jornalismo e Ação. A página no Facebook rapidamente alcançou mais de 47 mil fãs (até o fechamento dessa edição) ávidos pela série de fotos inéditas de protestos tanto nas capitais como em cidades menores, em tempo real, onde a grande mídia ignorou ou chegou tarde demais. Textos telegráficos (ou “tuíticos”) acompanhavam as imagens com o reforço da cobertura da PosTV, a webtevê do grupo Fora do Eixo[1].
[1] Fora do Eixo é uma rede de coletivos culturais estabelecidos em 25 estados brasileiros que se sustenta a partir de atividades culturais e de educação independentes
Os “ninjas” – conforme relata um dos articuladores desse movimento e também do ExisteAmorEmSP, Bruno Torturra – aproveitaram a estrutura dos coletivos vinculados ao Fora do Eixo pelo Brasil e acionaram essa força-tarefa durante as manifestações. “Percebemos que os coletivos são potenciais sucursais do grupo de comunicação independente que estamos formando”, diz o jornalista, que trabalhou por 11 anos na revista Trip e como freelancer em diversos veículos nacionais “convencionais”.
Da sua experiência profissional e vivência com os colegas, Torturra publicou um texto-chave da crise do jornalismo em que anunciava os propósitos e o nascimento do Ninja. Em “O ficaralho”, ele alerta para a insatisfação e a sobrecarga de trabalho dos que ficam nas redações depois das demissões em massa promovidas pelos grandes grupos. Sofre quem sai, sofre quem fica e o que resta é um modelo comercial de jornalismo que não se sustenta mais.
“Creiam… não é necessariamente uma tragédia ter tantos, e bons, jornalistas na rua sem muita chance de voltar a um emprego formal tão cedo. Pode ser, ao contrário, uma excelente notícia. O ambiente perfeito, na ausência de gabinetes e editores, para o jornalismo se reencontrar na rede e nas ruas. Há o potencial de uma idade de ouro da reportagem hoje em dia”, afirma Torturra, em seu artigo.
O Ninja teve de se apresentar às pressas, pois a convocatória aberta aos jornalistas desempregados ou “a fim de se desempregar” acabou cancelada por conta da emergência dos protestos. E foi às ruas quem era ninja. O projeto da mídia independente nunca esteve tão aceso e coincidente com o processo histórico. Torturra avalia que as transformações políticas exigem mudanças nos meios de comunicação. É a chance de pensata e de ação em prol de um modelo que ofereça trabalho aos tantos que saem das faculdades de jornalismo e de um sistema social complexo, sedento por diferentes formas de articulação e de comunicação.
O grupo que se desenha a partir do Ninja quer embaralhar gerações de jornalistas: os experientes, menos plugados nas novas mídias e recém-afastados das redações, podem treinar e qualificar os jovens dos coletivos, craques das tecnologias, em uma lógica de retrocontaminação. O vírus do coletivo e as vozes da experiência juntos em ideais de compartilhamento, autogestão, copyleft (leia mais aqui), financiamento aberto, tudo isso conformando um modelo de comunicação distante da verticalidade dos organogramas vigentes.
INTERNET COM CREDIBILIDADE
Um grupo de 30 a 40 repórteres que já se vinha reunindo havia alguns meses também aproveitou o ensejo para dar forma ao projeto Repórter da Internet (RI). Com presença nas principais redes sociais, o grupo quis ser um contraponto à boataria que inunda as redes. “Durante os protestos nós nos dividimos, com alguns profissionais na rua e outros na central, e ali recebíamos as informações e as replicávamos. A intenção era fazer algo diferente da imprensa e ao mesmo tempo mais confiável do que os relatos na internet”, explicou um dos integrantes do RI ao Estado de S. Paulo, que acabou por publicar a história em suas páginas analíticas.
A dessacralização do repórter – em que cada um pode ser um produtor de notícia – seria mais uma característica dos novos tempos? Bruno Torturra pensa que sim. “As pessoas já apuram por conta própria. Na hora certa, ela pode ser repórter, qualificar essa capacidade de texto, fotografia. A gente acha que muda a lógica do jornalismo rapidamente”, afirma o articulador do Ninja, que no fim do mês passado lançou uma convocação nacional para correspondentes fotógrafos, repórteres de texto e cinegrafistas. Mais de 400 pessoas se ofereceram, informa o movimento na página do Facebook.
Então vem aquela pergunta que não quer calar: “Como pagar essa gente?” Ou: “Como os novos modelos vão se sustentar?”
Essa página da história é ainda um desafio para as experiências que estão surgindo. Os colaboradores ninjas na cobertura do protesto, por enquanto, vivem nas estruturas financiadas pelas atividades do Fora do Eixo. Moram em casas coletivas, compartilham carro, estruturas tecnológicas de trabalho e viajam pelo País para eventos e palestras se hospedando nas casas da rede. Torturra acredita que, quando as vozes disponíveis se apresentarem, surgirão modelos de financiamento e de suporte tecnológico para o que está por vir.
O crowdfunding tem se mostrado a melhor ferramenta até aqui. Vários projetos ligados a comunicação e jornalismo conseguiram viabilizar-se através do financiamento horizontal colaborativo. Um exemplo é o Cidades para Pessoas, projeto da jornalista Natália Garcia (foto abaixo), que também acredita tanto na mudança da figura do jornalista como na imagem do emprego.
“O emprego não é mais a resposta certa. Hoje eu defino como usar meu tempo e procuro conselheiros para fazer o que quero”, ou seja, Natália constrói projetos ouvindo e buscando experiências sobre os temas que interessam a ela.
Depois de passagens pelos grandes veículos e pela angústia que isso tem provocado especialmente para uma geração mais jovem, Natália colocou na plataforma Catarse, de financiamento colaborativo, o projeto de investigação de boas práticas urbanas ao redor do mundo. “Tinha R$ 2 mil no segundo dia. Não sabia o que esperar desse modelo que eu mal conhecia. Levantei R$ 25 mil na primeira fase, viajei durante seis meses por sete cidades europeias”, conta.
A partir daí surgiram convites para palestras, reportagens e um blog semanal sobre urbanismo. Na segunda etapa do crowdfunding, mais R$ 17 mil levaram Natália e a ilustradora Juliana Russo, que se juntou ao projeto, a cinco cidades dos EUA e do México para documentar as boas histórias de cidades sustentáveis para seus moradores.
O projeto agora pretende dar um novo passo, revela a jornalista. “Queremos nos transformar em uma espécie de agência de notícias, mas não no modelo tradicional. Criar uma rede de informações de conteúdo urbanístico, incluindo jornalismo, educação, palestras”, diz.
Uma das possibilidades é produzir conteúdo sob demanda da sociedade – iniciativa privada, governos, instituições, terceiro setor etc. Natália explica que cada conteúdo do Cidades para Pessoas será financiado de uma maneira diferente, mas com diretriz editorial sempre comandada por ela. “Muitas vezes, escolho um eixo de pesquisa e faço entrevistas por algum tempo, até saber que reportagens aquele assunto rende. Em seguida ofereço para veículos que podem se interessar.”
Com isso, ela se alimenta de repertório para dar palestras, cuja remuneração financia a produção de conteúdo desses eixos de pesquisa para o site do Cidades para Pessoas. “É como um círculo de alimentação do projeto, uma rede mesmo. Por isso não vejo como perder liberdade editorial ou capacidade de investigação [pelo fato de ser um jornalismo sob demanda]. Ao contrário: nunca tive mais liberdade. Pesquiso tudo o que quero e escrevo sobre o que quero também.” Natália acredita que a notícia começará a adquirir um caráter de aplicabilidade, reunindo a necessidade dos receptores com o know-how dos emissores (mais uma peça para o quebra-cabeça da comunicação hoje).
ALAVANCA PARA O MERCADO
Jovens que se decepcionaram ou até mesmo nunca chegaram ao mercado de trabalho da comunicação vislumbraram o cenário perfeito para o nascimento da Alavanca, a empresa social dos jovens da Brasilândia e região, formados no Instituto Sala 5. Essa história nos leva de volta à edição 24 da PÁGINA22, há cinco anos, quando buscávamos iniciativas cidadãs em regiões periféricas de São Paulo (leia aqui) e nos deparamos com a formação propiciada pelo Instituto Sala 5.
Pois bem, os jovens capacitavam-se nas oficinas culturais de fotografia, produção de texto, mobilização, mas acabavam trabalhando como operadores de telemarketing ou eternos estagiários, conta Luiz Flávio Lima, sócio-diretor da Alavanca (foto no topo da matéria).
“Tínhamos o canal de entrada dos jovens com a formação em criatividade, técnicas, informação e precisávamos dos canais de saída para potencializar os talentos”, diz Lima. A Alavanca Projetos e Comunicação surgiu para cumprir esse papel, valorizar os talentos formados ali e mostrar ao mercado ferramentas e serviços bastante testados e aprimorados internamente.
Os serviços são facilitação gráfica, fotografia institucional, planejamento estratégico, mediação de encontros, publicações, formação e processos, tudo aproveitado das vivências com os jovens no instituto e que encontraram rapidamente muitos clientes no mercado.
O carro-chefe é a facilitação gráfica – painéis visuais feitos em tempo real durante reuniões de planejamento de empresas como Coca-Cola e Petrobras, que estão entre os clientes da Alavanca. Também a assessoria técnica para desenvolver projetos de comunicação para comunidades é bastante acionada. O grupo desenvolve todo o processo de seleção e colaboração e entrega uma publicação, cartilha ou manual para a empresa.
Todo lucro é reinvestido nos processos de formação da Sala 5 para manter o círculo funcionando, gerando trabalho e renda para os jovens. A Alavanca tem sido chamada para levar seus serviços a outros Estados e este ano foi até o México. Lima pretende ampliar a atuação e até mesmo abrir liais pelo Brasil se as ideias se encontrarem. Ter e espalhar muitas vozes é mais uma pista para os jornalismos que se apresentam.