Segundo o pesquisador e ambientalista James Lovelock, todos nós temos responsabilidades individuais de manter o bem-estar da Terra, considerada, por ele, como um superorganismo vivo. Ou seja, há uma integração e interdependência entre todas as partes que a compõem, incluindo a sociedade.
Por isso, é impossível analisar problemas ambientais de forma isolada. A poluição ou qualquer outro dano apresentam reflexos em todo o mundo e não apenas em seus pontos de origem. Um exemplo é a aceleração do degelo das calotas polares, consequência de complicadores ambientais originados em várias cidades do mundo, que, por sua vez, refletem em um aumento do nível dos oceanos. Esse fenômeno deixa evidente a interconexão de eventos da Terra.
Outra situação, mais próxima do nosso cotidiano, são as enchentes que assolam boa parte das cidades brasileiras. Esse problema é uma responsabilidade de todos: governo, empresas e população. Isso é o que chamamos de corresponsabilidade ambiental.
Além disso, a mudança climática – e seus efeitos – impacta diretamente nos negócios das empresas, na própria economia de cidades e países, e no bem-estar e qualidade de vida da população. Para manter o sistema funcionando perfeitamente, todas as partes envolvidas precisam trabalhar de forma integrada e sustentável. Em uma companhia, por exemplo, o exercício começa internamente, com a conscientização de colaboradores e vai até a contratação de fornecedores preocupados com os aspectos e impactos sociais, ambientais e econômicos de seu negócio. Isso também é corresponsabilidade ambiental.
Um setor bastante envolvido com questões de cunho ambiental é o de geração de energia. Muito além de abordar a matriz energética, as empresas controladoras de usinas hidrelétricas, por exemplo, também são responsáveis por manter e monitorar reservatórios e suas bordas, consideradas por lei áreas de preservação permanentes (APPs).
Os reservatórios das hidrelétricas trazem inúmeros benefícios além da geração de energia limpa, que vão desde a captação da água para abastecimento das cidades até a garantia de sustento de famílias de pescadores artesanais. A represa também serve como hidrovia, escoando milhões de toneladas de riqueza produzida. Mas, antes de tudo, ela abriga peixes, plantas e animais. Dessa forma, a preservação dos reservatórios e das áreas de entorno, que protegem a represa, é fundamental e urgente.
Sendo assim, para garantir a sustentabilidade ambiental dessas áreas, as geradoras devem atuar de forma preventiva, buscando a conscientização da comunidade sobre a importância das APPs e alertando sobre os riscos que as ocupações irregulares acarretam ao meio ambiente e ao reservatório. Cabe também às empresas a regularização de ocupações indevidas.
Entretanto, sem a colaboração da sociedade e do poder público na manutenção dessas áreas, não será possível a extinção de irregularidades, como ocupações não permitidas, invasões agrícolas e de animais. Estes e outros problemas como o despejo de esgoto in natura nos reservatórios, os agrotóxicos que escorrem das lavouras, a pesca predatória e o descarte irregular de lixo ainda atingem grande parte dos rios onde estão instaladas as usinas hidrelétricas que abastecem o país.
Portanto, é fundamental que haja esforços por parte das empresas e do Estado para sua preservação. Mas, também é necessário que a população colabore com a manutenção destes reservatórios e de suas bordas. Responsabilidade ambiental não é algo isolado e deve envolver diferentes públicos. Essa conscientização tem de começar na base, dentro de casa ou na escola, e seguir para o mundo corporativo. Zelar pelo bem estar do meio ambiente começa em atitudes diárias, como uma evolução da própria educação e do próprio comportamento humano.
*Sonia Hermsdorff é Gerente de Meio Ambiente, Projetos Corporativos e Gestão de Programas Ambientais da AES Brasil, grupo detentor das empresas AES Eletropaulo, AES Tietê, AES Sul e AES Uruguaiana.