Nem só de aguerridos ambientalistas vive a defesa da energia solar. Recentemente, cidadãos comuns e – e nos EUA até políticos conservadores – saíram em defesa da geração de eletricidade por meio de painéis solares instalados em residências. Eles admitem o benefício ambiental que vem com a energia solar, mas o principal motivo por trás de seu insuspeitado ativismo é o custo.
Com a ameaça da energia solar ao setor elétrico convencional cada vez mais aparente, cresce o número de pessoas que preferem investir em painéis em vez de ficar à mercê das companhias elétricas, que em países como os EUA e a Austrália em geral queimam carvão para gerar eletricidade. Com isso, aumenta a pressão para que a solar abocanhe uma fatia cada vez maior da energia produzida e distribuída.
O caso que chama mais atenção é o do estado americano da Georgia, incrustado no Sudeste do país, região conhecida pelas tendências conservadoras e pouco afeita a políticas que favoreçam o meio ambiente.
Na Georgia, como na maioria dos estados americanos, uma única companhia elétrica – Georgia Power, subsidiária da Southern Company, a quarta maior empresa do setor elétrico americano – tem o direito de prestar serviços de eletricidade.
Apesar da falta de incentivos às energias renováveis no estado, em julho a Comissão de Serviços Públicos da Georgia determinou que a empresa adquira 525 MW de energia solar até 2016. O objetivo é agressivo e aumenta em 18 vezes a atual produção solar da empresa.
Por trás da decisão da Comissão esteve uma aliança inusitada entre grupos ambientalistas como o Sierra Club e o Tea Party, a facção mais radical do conservadorismo americano. A aliança foi batizada de “Green Tea Coalition”.
“Aqueles que acreditam no mercado livre precisam reexaminar a forma com que nosso país produz energia”, escreveu Debbie Dooley, líder do Tea Party da Georgia. “As empresas que detêm o monopólio elétrico merecem pelo menos um pouco de competição, e os consumidores deveriam ter escolha.”
Ela lembra que os preços da energia solar vêm caindo de 2008. “A energia solar é uma ótima aposta contra o aumento dos preços da energia, porque uma vez que você instala o sistema, o combustível – a luz do sol – será sempre de graça… Podemos dar aos consumidores a opção de escolher a energia solar e proteger o meio ambiente ao mesmo tempo”.
Aqui em Western Australia, os políticos conservadores estão bem longe da visão proposta por Debbie Dooley. O governo do estado, dias atrás, divulgou o orçamento para o próximo ano fiscal com um corte retroativo nas tarifas pagas às residências que geram energia solar e fornecem o excedente à rede (feed-in tariff). A medida gerou tamanha reação por parte de cidadãos e grupos como o Solar Citizens que em apenas dois dias o governo teve de voltar atrás.
“O governador e todos os governos australianos e partidos políticos devem aprender essa lição: os proprietários de painéis solares não são apenas amantes da energia solar. Eles são eleitores que reagem quando ameaçados por políticas de má qualidade”, disse o Solar Citizens, um grupo comunitário que representa as “residências solares”.
Segundo o grupo, há um milhão de residências na Austrália com painéis solares no telhado, e a indústria gera mais de 15 mil empregos. “Enquanto alguns gostariam de manter o controle da geração de energia nas mãos de algumas poucas empresas elétricas, se os cidadãos solares juntarem forças, podemos garantir que todos os australianos tenham aceso à energia limpa, segura e barata.”
Taí plataforma para político nenhum botar defeito.