Diante de um possível aumento na taxa de desmatamento no Brasil, Izabella Teixeira, ministra do Meio Ambiente, será homenageada pelo Campeões da Terra, principal prêmio ambiental da ONU
Nesta quarta-feira, dia 18 de setembro, o Museu de História Natural de Nova York receberá os vencedores do Campeões da Terra de 2013, o principal prêmio ambiental da ONU. E será pelas mãos da modelo Gisele Bündchen, Embaixadora da Boa Vontade do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), que o troféu será entregue pela segunda vez consecutiva a um brasileiro. Izabella Teixeira, ministra do Meio Ambiente, foi eleita na categoria Liderança Política e está entre os sete homenageados. Em 2012, Fábio Barbosa, executivo da editora Abril, foi o premiado.
Ao anunciar Izabella Teixeira como Campeã da Terra na semana passada, em Brasília, o coordenador residente do PNUMA no Brasil, Jorge Chediek, se referiu ao papel conciliador exercido pela ministra em um setor marcado por disputas históricas. Para as Nações Unidas, Izabella tem exercido um papel chave na construção de uma agenda internacional que alia as bases da preservação do meio ambiente com o desenvolvimento econômico. “Tem que se fazer um grande esforço para compatibilizar a posição dos diferentes setores e a ministra tem sido muito bem sucedida nesse tipo de implementação, por exemplo, com o Código Florestal”, afirmou.
Por meio de nota, Achim Steiner, diretor-executivo do PNUMA, disse que os vencedores do Campeões da Terra de 2013 se destacam por colocar em prática ações e políticas de transição para a economia verde. “Izabella tem feito uma abordagem baseada em princípios e pragmatismo e, ao mesmo tempo, construindo pontes para outras questões”, declarou.
Para o órgão da ONU, a ministra também teve um papel fundamental durante a preparação do documento final da Rio+20, apesar da avaliação geral negativa da Conferência por parte de ativistas, que cobravam metas mais ambiciosas, como a criação de um fundo para a preservação ambiental.
O júri do prêmio Campeões da Terra também diz ter levado em conta as políticas de controle e prevenção do desmatamento no Brasil sob a gestão da ministra. Segundo dados do governo, houve queda de 84% na taxa de desmate nos últimos oito anos e criou-se 250 mil km² de áreas verdes protegidas. Já em 2013 é provável que os números sejam menos favoráveis, rompendo o ciclo de queda no desmatamento. Dados preliminares obtidos por imagens de satélites do sistema Deter, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), apontam que entre agosto de 2012 e julho deste ano houve um aumento de 35% nos alertas de desmatamento e degradação da Amazônia Legal na comparação com o período de agosto de 2011 a julho de 2012.
Desafios
A ameaça à Floresta Amazônica não é o único tema preocupante para o governo da presidente Dilma Rousseff na área ambiental. Entre as atuais polêmicas está a Proposta de Emenda à Constituição 215, lançada recentemente pela bancada ruralista. Se aprovado, o texto irá transferir do Executivo para o Congresso Nacional a prerrogativa de demarcação de terras indígenas e quilombolas (leia mais na reportagem “Sem apito, sem terra, sem voz“). Outro alvo de contestação por parte de povos indígenas e ativistas ambientalistas é a construção da hidrelétrica de Belo Monte. Desde 2001, o Ministério Público Federal do Pará já emitiu 19 processos judiciais contra irregularidades no projeto, como o uso de recursos hídricos sem regulamentação e o risco de violação aos direitos da natureza e das gerações futuras.
Ao comentar as críticas, Izabella Teixeira optou por um tom otimista. “A área ambiental tem uma diversidade de olhares sobre o verde. Se a gente quer construir um mundo sustentável, ele tem que ser inclusivo. Eu não posso trabalhar com grupos isolados”, afirmou. A ministra defendeu que muitas teses da agenda ambiental não são tão antagônicas como parecem. “O produtor rural precisa do meio ambiente preservado para assegurar sua produtividade de terras. Nós temos que mostrar resultados, não é só o discurso. As ações são absurdamente determinantes para mostrar onde as alianças são possíveis. A grande maioria irá para um processo de convergência, de diálogo e construção da sustentabilidade”, completou.
Bióloga com doutorado em planejamento ambiental, Izabella Teixeira assumiu o Ministério do Meio Ambiente em 2010. Foi secretária-executiva na gestão de Carlos Minc e tem quase 30 anos de carreira como funcionária do Ibama. Atualmente participa do Painel de Alto Nível do Secretário Geral da ONU para a Agenda de Desenvolvimento Pós-2015, responsável por dar suporte na definição dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável.
Premiados
Os outros Campeões da Terra de 2013 são Martha Isabel Ruiz Corzo, diretora da Reserva da Biosfera Sierra Gorda, do México; o software Google Earth; Carlo Petrini, fundador do Movimento Slow Food; Jack Dangermond, percussor do sistema GIS; Janez Potočnik, Comissário de Meio Ambiente da União Europeia; e Veerabhadran Ramanathan, professor no Scripps Institution of Oceanography.
Desde a criação do prêmio, em 2005, uma lista bastante eclética de instituições e personalidades já recebeu a homenagem. Entre os nomes, estão o ex-líder soviético Mikhail Gorvatchev, o Príncipe Albert II, de Mônaco, o vice-presidente dos EUA Al Gore, e a atriz chinesa e militante ambiental Zhou Xun. Em 2007, quando o prêmio ainda era segmentado por continentes, a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva foi escolhida na região da América Latina e Caribe.