A notícia já havia sido dada algumas vezes antes, mas agora é oficial: em setembro deste ano, a sonda espacial Voyager 1 finalmente cruzou o limite do Sistema Solar. Lançada ao espaço em 1977 (quando eu nem sequer engatinhava), tornou-se o primeiro objeto construído pela humanidade a se aventurar no espaço interestelar. O disco de ouro que carrega consigo leva diversas fotos e sons do nosso planeta, que futuras civilizações poderão ver e ouvir bilhões de anos após o fim da vida na Terra (e talvez do próprio planeta).
Os programas de exploração espacial refletem o espírito curioso e aventureiro da humanidade. Além da ampliação de nosso conhecimento sobre o universo em que habitamos, a corrida tecnológica para viabilizar as missões espaciais trouxe também importantes inovações para a sociedade, em áreas tão distintas quanto medicina, engenharia, agricultura e transportes. Não resta dúvida quanto à imensa e positiva contribuição trazida pela exploração do espaço – a “última fronteira”. Mas talvez estejamos negligenciando a penúltima fronteira: os oceanos.
No mesmo ano de 1977, o oficial reformado da Marinha americana e professor de oceanografia Robert Ballard liderava a busca pelos destroços do Titanic, que acabou encontrando numa expedição oceânica posterior, em 1985. Após cinco décadas desvendando os oceanos do planeta, uma questão incomoda Ballard: por que a exploração oceânica não consegue obter o mesmo nível de atenção e de recursos que a exploração espacial? Enquanto dispomos hoje de um amplo mapa do universo, abrangendo astros a quase 100 bilhões de anos-luz da Terra, a maior parte dos nossos oceanos ainda é desconhecida: a NOAA, agência oceânica americana, estima que 95% do mundo subaquático permaneça inexplorado.
A importância da exploração oceânica, argumenta Ballard, dá-se em múltiplos aspectos. O primeiro é o dos recursos naturais: não é razoável supor que sua distribuição pelo planeta tenha se restringido aos continentes, que compõem menos de um terço da superfície terrestre. Em suas explorações, encontrou vastos depósitos de metal pesado, como cobre, chumbo, prata, zinco e ouro (mais sobre mineração no mar em “Oceanos S.A.“).
O arqueólogo marinho encontrou também formas inesperadas de vida, que floresciam, apesar da completa ausência de luz, ajudando a aprimorar também nosso entendimento sobre biologia e história natural.
O último aspecto é a história. Ballard conta que nas profundezas dos oceanos encontram-se dezenas de milhares de vulcões ainda ativos e formações rochosas em andamento, que podem nos ajudar a compreender melhor a formação geológica de nosso planeta. Os oceanos também guardam registros importantes de nossa atividade marinha ao longo da história, a exemplo dos navios encontrados por ele e sua equipe. Os oceanos, afirma Ballard, são o maior museu do planeta (veja aqui sua palestra TED).
Na mitologia grega, Poseidon (Netuno para os romanos) era o deus supremo dos mares. Antes dele, porém, havia o titã Oceano, que, com sua irmã e esposa Tétis, teve 3 mil filhos, deuses dos rios e córregos, e 3 mil filhas (as oceânides), ninfas das águas. Se soubermos protegê-los das ameaças provocadas pela atividade humana, veremos que nossos oceanos podem ser igualmente férteis.
*Fabio F. Storino é Doutor em Administração Pública e Governo