Editorial
O Quinto Relatório de Avaliação do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática, divulgado no fim de setembro, foi assertivo sobre as alterações que a atividade humana tem imprimido ao sistema climático, com impactos severos sobre a vida no planeta. Com estudos cada vez mais consistentes sobre o que se passa em terra firme e na atmosfera, os cientistas começam a desbravar também a fronteira dos oceanos.
De acesso difícil e custoso, os mares, até pouco tempo atrás, eram um ator secundário, estudado superficialmente. Mas isso tem mudado de forma substancial. Como nos conta o especialista Edmo Campos, um dos autores do capítulo sobre oceanos do relatório do IPCC, estes começam a ser reconhecidos como um dos principais – se não o maior – componentes do clima. “Sem o conhecimento mais preciso sobre o oceano, não há muito o que acrescentar ao que sabemos sobre o sistema climático”, declara em Entrevista.
Ao mesmo tempo que atua como um grande regulador, o oceano sofre os impactos do excesso de carbono emitido pelo homem, com consequências de grande magnitude sobre a biodiversidade, o estoque pesqueiro e o nível do mar. Próxima fronteira também do ponto de vista econômico, onde o homem crescentemente buscará minérios, energia, alimento e rotas de transporte, as águas oceânicas impõem desafios de conservação ainda maiores que em terra. A começar pelo imbróglio jurídico que cerca a sua governança, pela dificuldade de monitoramento e fiscalização e pelo simples desconhecimento que se tem sobre a vida na imensidão azul.
Embora os oceanos respondam por 90% da biosfera, apenas 25% das espécies marinhas são conhecidas, enquanto o correspondente a mísero 1% da superfície encontra-se sob proteção. E, apesar de ter sido o berço da vida, é tratado sem qualquer respeito, como o depositório de todos os dejetos da sociedade. Símbolo de união entre os povos pela tradição religiosa afro-brasileira, o mar requer esforços conjuntos de conservação e uso sustentável. Mais que isso, o mar vem lançar um pedido de socorro, que não será plenamente atendido enquanto não forem construídas pontes entre o conhecimento científico e a implementação de políticas públicas. Boa leitura!