“Quando a escravidão deixou de ser uma instituição legal, o racismo avassalador passou a predominar como elemento da exclusão” Joseli Mendonça, Professora de história Unicamp
Relutei muito em assistir 12 anos de escravidão. Como mulher negra e como ser humano atuante do movimento de Valorização da Diversidade há anos, sabia que ficaria altamente impactada.
Por fim, não resisti e resolvi aproveitar o feriado prolongado para ver o filme. A história é marcante, chocante e certamente verdadeira. E nos faz pensar no grande abismo de direitos que nós, seres humanos, já deixamos existir entre diferentes pessoas, simplesmente nos baseando nas suas etnias, gêneros, preferências e culturas ao longo da história da humanidade.
E mais, nos faz pensar no grande abismo de direitos que possibilitamos que exista até hoje, bem em frente aos nossos olhos. O grande abismo de direitos que existe até hoje em nossa sociedade e normalizamos, naturalizamos, normatizamos, ou seja, tornamos normal e corriqueiro.
Segundo o Perfil Social, Racial e de Gênero do Ethos 2010 nas 500 maiores empresas brasileiras apenas 31% do quadro funcional delas é composto por negros. Quando subimos para o quadro executivo esse número despenca para 5,3%. Segundo o site Geledes em novembro de 2010 há uma epidemia de morte de jovens negros no Brasil, pois apesar de negros/as comporem pouco mais da metade da população brasileira, eles representam 75% dos casos de homicídio no país.
Na Carta Capital de fevereiro de 2014 vimos que ainda hoje no Brasil a renda dos negros chega a ser 60% menor do que a dos brancos. Segundo o IBGE 2012, do total de 16 milhões de brasileiros na extrema pobreza, a grande maioria é negra ou parda. “Na área urbana, quanto maior é a renda da população maior é o contingente de população branca. Quanto menor a renda, maior a população parda e negra. O mesmo acontece na área rural, quanto menor a faixa de renda, maior a proporção de cor negra ou parda”, disse o presidente do IBGE.
Enfim, nós brasileiros nos gabamos de nos viver no país da miscigenação e de uma pretensa equidade, mas será que todos estão mesmo tendo as mesmas oportunidades de acesso. Já se passaram 126 anos desde a abolição da escravidão, mas mesmo hoje quando vemos esse filme, apesar dos avanços, com um pouco de análise critica sabemos o quanto estamos longe de uma verdadeira equidade racial no país.
E o futuro? Certamente para termos um futuro diferente, precisamos construir hoje um presente diferente. Saber que não estamos em um país com equidade racial, mas que podemos, com empenho, dedicação e ações direcionadas, construir um país realmente igual em oportunidades para todos, é o primeiro passo.
*Coordenadora Global (Brasil, Peru e Colômbia) de Responsabilidade Social na Votorantim Metais, com experiência em planejamento estratégico, implantação, gestão de programas, gestão de pessoas e orçamento. MBA Executivo em Gestão da Sustentabilidade na FGV, Extensão de Gestão Responsável para Sustentabilidade pela Fundação Dom Cabral, graduada em Relações Públicas na Cásper Líbero. Gestora com 10 anos de experiência na área de Responsabilidade Social em empresas de grande porte – tais como Philips, Banco Real-Santander e Walmart– e organizações do Terceiro Setor, tendo prestado consultoria para Pepsico, Votorantim e Grupo Pão de Açúcar