O último verão não passou em branco e seus reflexos são e ainda serão vistos. A seca histórica que atingiu grande parte do Brasil acendeu a luz laranja em relação ao abastecimento de água da população, à produção de energia mais barata e limpa e à oferta destes dois insumos básicos ao desenvolvimento: água e energia.
O fenômeno passa ao menos três recados. Primeiro, retrovisores nunca foram tão obsoletos. Basear-se em séries históricas para projetar o futuro não é mais recomendável, considerando um novíssimo elemento na equação que é a mudança climática em curso. Eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes deixam de ser um ponto fora da curva para se tornar tendência. A incerteza é o novo padrão.
O segundo recado é que esse contexto exige urgentes ações de adaptação, assumidas desde o planejamento e a gestão de recursos como a água (mais em “Nó em pingo d’água“). Essas ações, que buscam reduzir os impactos da mudança do clima, precisam guiar as decisões dos governos, hoje tomadas por uma perspectiva de curto prazo influenciada pelo calendário eleitoral.
E a terceira mensagem é que não há riqueza ambiental que passe incólume à mudança do clima associada ao problema da gestão. Isso põe em xeque a visão do Brasil como país pródigo em recursos. Com o mito da abundância caído por terra, é hora de fazer desse desconforto o impulso rumo a um trabalho árduo, mas recompensador: o de jogar a favor da natureza e de fazer a natureza jogar a favor da economia e das pessoas.
Boa leitura!
Leia mais:
O que podemos aprender com a atual crise de abastecimento, em “Nó em pingo d’água“
A difícil relação da população urbana com seus rios, em “Os lados do rio“
Em que pontos a gestão pública pode ter errado, em “A pedagogia da crise“
O que empresas têm a ver com a preservação da água (e seu próprio futuro), em “A fonte secou“
Como usar melhor o recurso natural mais precioso, em “Saídas possíveis“
Tecnologias simples e baratas que fazem a diferença em regiões áridas, em “Tecnologias ancestrais“