Conheça iniciativas das principais fabricantes de ônibus e caminhões para reduzir a emissão de poluentes
Por serem movidos em grande parte a diesel, caminhões e ônibus podem ser considerados vilões da poluição nas cidades. A aposta não é errada: apesar de emitir menos CO2 que a gasolina e o álcool, tem como subprodutos outras substâncias mais poluentes e nocivas à saúde, como o óxido de nitrogênio (NOx) e material particulado (a temida fuligem). Por outro lado, as principais montadoras brasileiras de veículos pesados investem em novas tecnologias para reduzir seu impacto negativo sobre a qualidade do ar.
O Brasil vem caminhando para melhorar os padrões de emissões por veículos movidos a diesel. Desde o começo de 2013, passou a ser oferecido o diesel S-10, pelo menos 50 vezes menos poluente que o S-500 vendido até 2008, para abastecer veículos produzidos a partir de 2012 (leia mais aqui). Os caminhões e veículos novos devem obedecer à legislação Proconve-7 (confira aqui), que ampliou as exigências de controle de emissão de poluentes. Desde então, montadoras tiveram que se movimentar para disponibilizar produtos que atendessem às novas normas, como o uso de tecnologias de pós-tratamento do gás de escapamento. A Proconve-7 exige a redução nas emissões de (60%) NOx e material particulado (80%) em relação ao exigido pela legislação anterior, a P5.
As principais montadoras nacionais mostram inovações para atender às novas exigências, alinhadas ao padrão europeu Euro-5, em vigor de 2008. Em alguns casos, a única mudança foi a importação de tecnologias já usadas no Velho Continente. Com as melhoras na eficiência e durabilidade do motor, os consumidores ganham também a vantagem da redução de custos operacionais.
No seminário “Desafios do Transporte Sustentável”, a Scania apresentou suas iniciativas alcançar a ambiciosa meta ambiciosa de reduzir em 50% as emissões de CO2 equivalente por quilômetro de seus veículos pesados entre 2008 e 2020. Para além dos investimentos no motor e no design da carroceria, é possível aumentar a eficiência com mudanças no uso dos automóveis, como por exemplo, educando os motoristas quanto ao uso da embreagem. Só esse treinamento poderia reduzir em 10% as emissões. “Para isso precisamos trabalhar dentro das empresas transportadoras e logísticas”, argumenta Per Olov, o presidente da Scania na América Latina.
Outra aposta da empresa é a parceria com a academia: em maio de 2013 foi assinado um convênio com a Escola Politécnica da Universidade de São Paulo para instalar um laboratório no parque tecnológico de Sorocaba. A parceria viabiliza uma pesquisa sobre o comportamento dos fluxos de ar na câmara de combustão do motor, que se relcaiona diretamente com o controle de emissão de poluentes.
A concorrente Ford, por sua vez, adota a tecnologia SCR (sigla em inglês para Redução Catalítica Seletiva) de pós-tratamento dos gases de escape, sistema ligado ao motor que utiliza sensores para controlar a emissão de gases e de material particulado.
Combustíveis alternativos
Na corrida para oferecer veículos pesados mais „limpos“ a seus clientes, as montadoras apontam o uso de biocombustíveis como principal aposta da área de Pesquisa & Desenvolvimento. Não é para menos: o uso de etanol e biodiesel pode representar diminuições drásticas na emissão de poluentes, principalmente de material particulado.
O etanol, entretanto, não é considerado competitivo em relação ao diesel, devido à política de controle de preços do último. “O impacto no custo é muito alto, porque a diferença de preço faz muita diferença para quem roda milhares de quilômetros todo ano, como as empresas de logística”, argumenta Rogério Rezende, diretor de Relações Governamentais da Scania. Apesar do obstáculo do valor do combustível, a fabricante sueca alega que o rendimento do motor, a potência e até os custos de manutenção não mudam com o uso do etanol. O motor da Scania a etanol é do mesmo do motor a diesel, o que permite que ambos tenham a manutenção executada pelo mesmo profissional, por exemplo.
A empresa explica que a diferença de preço é cerca de 10% superior em relação ao modelo diesel, mas que a opção é atraente para empresas ambientalmente responsáveis. A Natura, por exemplo, está testando dois caminhões da Scania movidos a etanol.
A Man, braço de veículos pesados da alemã Volkswagen, relata outras experiências com veículos movidos a biocombustíveis em empresas. A Coca-Cola está testando seis caminhões movidos a 100% de diesel de cana no Rio de Janeiro, que apresenta 70% de redução na emissão de material particulado. Enquanto isso, a sua concorrente Ambev faz um piloto com caminhões movidos a gás natural, que representam uma redução de 20% nas emissões de CO2 e uma drástica redução de ruídos ao dirigir.
Já a Ford aposta no biodiesel para a redução de emissão de monóxido de carbono e material particulado. Todos os caminhões da linha Cargo 2014 contam com motorização preparada para funcionar com combustível B20 (diesel com adição de 20% de biodiesel). O biodiesel brasileiro mostra-se uma opção mais competitiva em relação ao etanol por contar com incentivos do governo federal.
Os ônibus e caminhões da Mercedes-Benz também estão aptos a operar com o biodiesel B20 e o diesel de cana. Segundo informações de sua assessoria, os ganhos ambientais do uso do biodiesel são potencializados pelos motores padrão Euro5, que usam a tecnologia BlueTec5 de redução de emissões. A possibilidade de usar biodiesel é estendida aos ônibus híbridos que a companhia está desenvolvendo.
Híbridos e ônibus
Ônibus movidos a combustíveis alternativos fazem uma grande diferença na diminuição da poluição em grandes cidades, na opinião de Rezende, da Scania: “Veículos a etanol fazem muita diferença no setor urbano, porque é onde há menos dispersão de poluentes”. Se os ônibus de um corredor metropolitano fossem todos substituídos por veículos a etanol, em um dia já seria percebida a diminuição da concentração de material particulado.
Em cidades como Estocolmo ou Bogotá, políticas públicas estão obrigando o uso de combustíveis alternativos em ônibus. O gargalo para adotar essas medidas é a necessidade de subsídios às operações ou a oferta de biocombustíveis a preços competitivos. “Setenta por cento do etanol usado nos ônibus da Scania em Estocolmo vem do Brasil, mas lá há isenção ao imposto de importação”, afirma Rezende.
A Man também desenvolve um piloto que pode trazer muitos ganhos às cidades. A Companhia Municipal de Limpeza Urbana (Comlurb) do Rio de Janeiro está testando um caminhão híbrido hidráulico para fazer a coleta de lixo na cidade. Por utilizar um sistema de armazenamento da energia coletada durante a frenagem em acumuladores hidráulicos, o veículo permite a redução de 25% no consumo do combustível. A tecnologia é apropriada para operações como as da Comlurb, em que o veículo anda e para muitas vezes. Em dois turnos de trabalho, foram poupados cerca de 745 litros de diesel por mês, o equivalente a R$1.500 economizados pela companhia e duas toneladas de CO2 que deixaram de ser emitidas.