Nos EUA, empresários criticam o cerco à emissão de gases, embora haja evidências de que os benefícios socioambientais e os ganhos de eficiência compensam os custos
O anúncio de que a Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) dos EUA apertará o cerco contra a emissão de gases desencadeou uma temporada sem-fim de lamúrias. Em junho, a EPA divulgou que restringirá as emissões de carbono por parte das termoelétricas a carvão, responsáveis por 40% dos gases-estufa emitidos no país. O órgão também estuda reduzir o limite máximo de poluição atmosférica por ozônio [1].
[1] O ozônio é produzido pela exposição aos raios solares de compostos orgânicos voláteis e óxidos de nitrogênio, exalados por veículos e indústrias
Os dois anúncios provocaram alvoroço entre lideranças industriais que veem as normas ambientais como obstrução da economia. Antes mesmo do anúncio oficial, a Câmara de Comércio dos EUA saiu a público para dizer que a decisão do governo Obama de reduzir as emissões de carbono das termoelétricas custará, ao ano, US$ 51 bilhões. Principal representante dos interesses empresariais no país, a Câmara atribuiu os gastos exorbitantes a uma elevação no custo da eletricidade e a uma suposta perda de empregos e investimentos. O número foi contestado pela EPA, que considerou o cálculo inflacionado e descolado da realidade. Ele não levaria em conta, por exemplo, os benefícios associados ao ganho de eficiência energética ou à substituição de combustíveis.
A possível mudança das normas que regem o ozônio também causou revolta entre o empresariado. “Será a regulamentação mais custosa de que se tem notícia”, declarou Howard Feldman, diretor do American Petroleum Institute, um das principais lobistas dos setor do petróleo. Para reforçar seu ponto de vista, a API circulou um mapa em cores fortes alertando que áreas urbanas onde vivem 94% da população dos EUA teriam sua economia inviabilizada.
Sim, os gastos poderão ser elevados. A EPA calculou que padrões mais restritivos de emissões de ozônio representarão US$ 90 bilhões anuais em custos adicionais para os empreendedores. Normas ambientais geralmente impõem investimentos em conformidade, elevando custos – e isso precisa ser contabilizado pelas empresas.
Mas há crescentes evidências de que os benefícios socioambientais com frequência compensam esses custos. O controle ambiental cria empregos (da equipe encarregada da elaboração de estudos de impacto ambiental aos fabricantes de sistemas eólicos) e exige eficiência nos processos. E, mais importante, ele reduz as ocorrências de infecções, doenças respiratórias e cardíacas e uma série de outros males que consomem bilhões em gastos em saúde e perda de dias de trabalho.
Desde que a EPA estabeleceu suas primeiras normas antipoluição atmosférica, em 1970, houve uma queda de 72% na contaminação do ar por ozônio, monóxido de carbono, chumbo, material particulado e dióxidos de nitrogênio e enxofre. Em decorrência, o país diminuiu as perdas de dias trabalhados em 13 milhões e as hospitalizações em 86 mil ao longo de três décadas.
Há evidências, inclusive, de que as normas ambientais são melhores para a economia do que outras regulamentações. No ano passado, a Casa Branca fez uma análise da relação custo-benefício de centenas de medidas legais federais da década anterior. O estudo concluiu que as normas ambientais foram as que tiveram saldo mais positivo, apesar de seus custos elevados. A medida com melhor retorno por investimento foi uma decisão de 2012 que estabeleceu novos padrões de emissões de mercúrio, arsênico e chumbo em termoelétricas a carvão – elas, mais uma vez. Amplamente combatida pelo lobby das carvoarias, a norma teve um custo anual de US$ 8,1 bilhões, mas gerou benefícios estimados entre US$ 28 bilhões e US$ 77 bilhões por ano.
Quem não quiser se fiar apenas nos cálculos antagônicos das indústrias ou do governo americano – que, afinal, têm interesses bem claros – pode desempatar essa briga numa rápida consulta à academia. As evidências científicas de que o controle ambiental compensa de um ponto de vista financeiro tornam-se cada vez mais robustas. Robert Costanza, um dos pais da Economia Ecológica, acaba de lançar um estudo com pesquisadores de vários países em que estima as perdas econômicas associadas à destruição da natureza em US$ 20 trilhões anuais no período entre 1997 e 2011. Sem comando e controle o buraco seria, com certeza, bem maior.
*Jornalista especializada em meio ambiente, escreve para os blogs De Lá Pra Cá e Deep Brazil
[:en]Nos EUA, empresários criticam o cerco à emissão de gases, embora haja evidências de que os benefícios socioambientais e os ganhos de eficiência compensam os custos
O anúncio de que a Agência de Proteção Ambiental (EPA, na sigla em inglês) dos EUA apertará o cerco contra a emissão de gases desencadeou uma temporada sem-fim de lamúrias. Em junho, a EPA divulgou que restringirá as emissões de carbono por parte das termoelétricas a carvão, responsáveis por 40% dos gases-estufa emitidos no país. O órgão também estuda reduzir o limite máximo de poluição atmosférica por ozônio [1].
[1] O ozônio é produzido pela exposição aos raios solares de compostos orgânicos voláteis e óxidos de nitrogênio, exalados por veículos e indústrias
Os dois anúncios provocaram alvoroço entre lideranças industriais que veem as normas ambientais como obstrução da economia. Antes mesmo do anúncio oficial, a Câmara de Comércio dos EUA saiu a público para dizer que a decisão do governo Obama de reduzir as emissões de carbono das termoelétricas custará, ao ano, US$ 51 bilhões. Principal representante dos interesses empresariais no país, a Câmara atribuiu os gastos exorbitantes a uma elevação no custo da eletricidade e a uma suposta perda de empregos e investimentos. O número foi contestado pela EPA, que considerou o cálculo inflacionado e descolado da realidade. Ele não levaria em conta, por exemplo, os benefícios associados ao ganho de eficiência energética ou à substituição de combustíveis.
A possível mudança das normas que regem o ozônio também causou revolta entre o empresariado. “Será a regulamentação mais custosa de que se tem notícia”, declarou Howard Feldman, diretor do American Petroleum Institute, um das principais lobistas dos setor do petróleo. Para reforçar seu ponto de vista, a API circulou um mapa em cores fortes alertando que áreas urbanas onde vivem 94% da população dos EUA teriam sua economia inviabilizada.
Sim, os gastos poderão ser elevados. A EPA calculou que padrões mais restritivos de emissões de ozônio representarão US$ 90 bilhões anuais em custos adicionais para os empreendedores. Normas ambientais geralmente impõem investimentos em conformidade, elevando custos – e isso precisa ser contabilizado pelas empresas.
Mas há crescentes evidências de que os benefícios socioambientais com frequência compensam esses custos. O controle ambiental cria empregos (da equipe encarregada da elaboração de estudos de impacto ambiental aos fabricantes de sistemas eólicos) e exige eficiência nos processos. E, mais importante, ele reduz as ocorrências de infecções, doenças respiratórias e cardíacas e uma série de outros males que consomem bilhões em gastos em saúde e perda de dias de trabalho.
Desde que a EPA estabeleceu suas primeiras normas antipoluição atmosférica, em 1970, houve uma queda de 72% na contaminação do ar por ozônio, monóxido de carbono, chumbo, material particulado e dióxidos de nitrogênio e enxofre. Em decorrência, o país diminuiu as perdas de dias trabalhados em 13 milhões e as hospitalizações em 86 mil ao longo de três décadas.
Há evidências, inclusive, de que as normas ambientais são melhores para a economia do que outras regulamentações. No ano passado, a Casa Branca fez uma análise da relação custo-benefício de centenas de medidas legais federais da década anterior. O estudo concluiu que as normas ambientais foram as que tiveram saldo mais positivo, apesar de seus custos elevados. A medida com melhor retorno por investimento foi uma decisão de 2012 que estabeleceu novos padrões de emissões de mercúrio, arsênico e chumbo em termoelétricas a carvão – elas, mais uma vez. Amplamente combatida pelo lobby das carvoarias, a norma teve um custo anual de US$ 8,1 bilhões, mas gerou benefícios estimados entre US$ 28 bilhões e US$ 77 bilhões por ano.
Quem não quiser se fiar apenas nos cálculos antagônicos das indústrias ou do governo americano – que, afinal, têm interesses bem claros – pode desempatar essa briga numa rápida consulta à academia. As evidências científicas de que o controle ambiental compensa de um ponto de vista financeiro tornam-se cada vez mais robustas. Robert Costanza, um dos pais da Economia Ecológica, acaba de lançar um estudo com pesquisadores de vários países em que estima as perdas econômicas associadas à destruição da natureza em US$ 20 trilhões anuais no período entre 1997 e 2011. Sem comando e controle o buraco seria, com certeza, bem maior.
*Jornalista especializada em meio ambiente, escreve para os blogs De Lá Pra Cá e Deep Brazil