Cidade bem conhecida pelo espírito criativo, Barcelona deixa alguns pontos de inovação escondidos no período das férias, quando as portas se fecham e as pessoas viajam. De maneira teimosa busquei enfrentar as vacaciones e ‘visitar’ três lugares que estão no contexto da Cultura Maker: FabLab BCN, MOB e o Made.
O FabLab de Barcelona fica fechado durante todo o mês de agosto, mas passei lá, toquei a campainha e me deixaram entrar. Havia duas pessoas trabalhando e a Lala, designer da Jordânia que está fazendo um estágio ali, me mostrou um pouco do lugar. Ela participou do Fab Academy, um curso à distância em que se deve ter algum local próximo para acessar as máquinas (normalmente os próprios FabLabs) para aprender a trabalhar com os equipamentos.
O FabLab BCN está associado ao IAAC (Instituto de Arquitetura Avançada da Catalunha) e fica no bairro Poblenou, que abriga também o prédio do 22@, galpão de uma antiga fábrica que hoje reúne diversas máquinas diferentes, como impressoras 3d, cortadoras a laser, uma máquina para prensar materiais a vácuo, outra para cortar placas de madeira, outra que corta materiais, tipo uma lapidadora/escultora. Os projetos são muito variados, têm um pouco de tudo. Desde caixas de abelha feitas com madeira prensada para apiários urbanos, passando por um tear manual feito por uma cortadora a laser, experiências com novos materiais biodegradáveis, protótipos de carros, experiências com texturas (tipo elemento vazado), muitas maquetes … Foi uma visita meio rápida, mas valeu a pena!
Chamou atenção as fotos de um evento que eles realizaram em 2007, com algumas figuras importantes da cena Maker, o que mostra que estão nessa brincadeira há pelo menos sete anos. Uma iniciativa que pareceu bem interessante é a Smart Citizen, plataforma para estimular processos participativos reunindo dados, pessoas, conhecimento… até aí nada muito novo, certo? O diferencial são os instrumentos e recursos: geolocalização, internet, hardware e software livres para o levantamento e compartilhamento livre dos dados. O método é bem tecnológico, a placa para coletar os dados é baseada no Arduino. Voltarei ao Smart Citizen em outro post.
O segundo lugar que visitei foi o Made, que é basicamente uma associação sem fins lucrativos. Eles haviam se mudado para o novo lugar há um mês e as coisas ainda estavam bastante desorganizadas… Xavi, um dos responsáveis me recebeu e mostrou o lugar. A ideia é bem simples, cada membro paga uma mensalidade de 30 Euros para utilizar o espaço e as máquinas. Atualmente eles estão com 30 membros e imagino que devam ter outras atividades para conseguir fechar a conta…
A conversa com o Xavi foi bem bacana, tem uma pegada mais simples, mais professor pardal. Trouxe uma abordagem de reciclagem, reuso, recomposição das máquinas, pegar um motor velho de uma máquina tal, imprimir uma peça mais sofisticada numa 3d e criar um novo aparelho que tenha um diferente uso. Quando falei que era do Brasil, a ideia que lhe ocorreu seria das pessoas criarem mini PCHs, imprimindo turbinas com impressoras 3D, pegando motores e geradores de outras máquinas e fazendo microhidrogeração distribuída!!
Na visão dele, é fato que o movimento Maker é um caminho sem volta, que ainda crescerá muito e o desafio, assim como na maioria das vanguardas, é criar massa, criar os meios e modelos de negócio que viabilizem os estímulos para que o cidadão comum tenha acesso a isso e se aproprie destas ferramentas.
A última visita foi ao MOB – Makers of Barcelona, um coworking dentro do contexto da cultura dos “fazedores”. O MOB foi berço do Made, que após um tempo evoluiu o bastante para buscar seu próprio espaço. Uma ideia bem legal do MOB é o Fabcafe, que é basicamente um café onde é possível imprimir seu projeto, fazer um protótipo, etc. A intenção deles é justamente se aproximar de públicos que ainda desconhecem esta cena. Como todo espaço de trabalho colaborativo, eles também promovem eventos para a comunidade e se esforçam para amplificar a cultura Maker.
Olhando pelo lado high touch – as interações sem intermediação de dispositivos de alta tecnologia – vê se que a cultura maker também tem se desenvolvido, em especial no bairro do Born em Barcelona com muitas lojinhas customizadas de artigos variados – roupas, calçados, jóias, acessórios, tecidos, coisas de casa, cadernos… alimentos! O que reforça a tendência de cada vez mais pessoas buscam um consumo mais personalizado, mais editado para si mesmo. E quando possível ainda imprimir um toque de sua autoria. Isto contribui com condições para que talentos high touch com instrumentos high tech possam criar novos mercados, relações, serviços…
Isso me faz lembrar um pouco este trabalho do MIT, que busca tratar desta relação high touch, high tech.
Por fim, é nítido que cada vez mais Barcelona busca se aproximar do rótulo “cidade criativa, do conhecimento, da inovação, para pessoas…”. Em muitas ruas relevantes da cidade, bandeirolas penduradas nos postes anunciam conquistas como a quarta cidade mais criativa do mundo, hub logístico europeu, primeira cidade europeia em qualidade de vida para seus trabalhadores…
Aproveito o post para encaminhar alguns links curiosos:
Espaço para pensar e hacer a Cidade do México – http://labplc.mx/hacedorescdmx/
Projeto para cultura Maker e DIY no contexto de Biotecnologia – http://www.diysect.com/
Laboratório de computação quântica e inteligência artificial do Google – https://plus.google.com/u/1/+QuantumAILab/posts?hl=pt-BR
http://www.fliescollective.com/GOOGLE-QUANTUM-AI-LAB
http://www.nature.com/news/quantum-boost-for-artificial-intelligence-1.13453