Afinal, quanto vale o rio limpo, o ar puro, a floresta em pé, a biodiversidade, a cultura indígena? E quanto custam as externalidades? Sem um direito de propriedade estabelecido, esses bens não podem ser levados a mercado. O mercado, por sua vez, fica impedido de fazer seu papel natural, que é estabelecer comparabilidade entre as coisas e determinar valor. “Mercado não entende valores intrínsecos, só entende de demanda, oferta e escassez”, observa o doutorando em Economia Política e Governo na Universidade Harvard, Guilherme Lichand, aproveitando a deixa para citar o famoso paradoxo da água e do diamante: “Como pode a água tão fundamental para a vida custar tão menos que o menor dos diamantes?”
Segundo Lichand existem três métodos para fazer calcular valor onde não há nenhum. O primeiro é a “valoração contingente”, em que a partir da declaração das pessoas tenta-se inferir o preço de algo sem valor de mercado. Um entrevistador contextualiza o bem a ser avaliado para um grupo de entrevistados. Se for uma floresta, perguntará qual o valor máximo que pagaria para impedir que a derrubassem. E o valor mínimo que estaria disposto a receber para ficar indiferente à derrubada da floresta?
O segundo método também é autodeclaratório, mas traz uma inferência indireta de valoração. Para tentar medir a felicidade, pergunta-se a pessoa o quão feliz ela se sente em uma escala de zero a dez. Quando é feito em um determinado contexto pode determinar, por exemplo, que as pessoas mais ricas são mais felizes. Mas pode ser verdade também que, nos dias em que a qualidade do ar está pior, elas se declarem mais infelizes. Assim é possível determinar quanto de renda uma pessoa precisa ter a mais nos dias em que a qualidade do ar piora para que fique igualmente feliz ao dia em que a qualidade do ar estava boa. “Dessa maneira consegue-se calcular uma taxa de troca entre dinheiro e qualidade do ar, e isso dá um preço para o ar puro”, explica o acadêmico.
O terceiro método é o dos preços hedônicos ou preços sombra, baseado em decisões reais e não em declarações. Supondo que se queira avaliar o preço do ar puro, uma maneira é comparar vizinhanças idênticas em todas as dimensões, menos no fato de que em uma o ar é menos puro que na outra. Basta pesquisar os preços de mercado das casas nessas duas vizinhanças. Se houver uma diferença, deve ser atribuída à qualidade do ar. Como não é fácil encontrar duas vizinhanças exatamente iguais exceto no que se refere à qualidade do ar, os pesquisadores exploram o que chamam de experimentos naturais. Procuram, por exemplo, regiões em que a poluição vem do mesmo lugar, mas, por causa da direção dos ventos ou da dispersão de partículas, uma acabou sendo mais poluída do que a outra. A variação no preço das casas ajudará a inferir o valor que as pessoas daquela região dão à qualidade do ar.