Em meados de agosto, o evento Sistema Financeiro Nacional e a Economia Verde lançou a prévia de um conjunto inédito de estudos acerca do alinhamento do sistema financeiro com o desenvolvimento sustentável. Realizado em São Paulo, com 480 participantes, o evento tratou da atual alocação de recursos na “economia verde” brasileira, do quadro institucional e regulatório do País, e da relação entre finanças e sustentabilidade em setores estratégicos, como agropecuária e energias renováveis (mais nas duas notas abaixo).
Trata-se de uma contribuição à “Inquiry on the Design of a Sustainable Financial System” (em tradução livre, Consulta sobre o Desenho de um Sistema Financeiro Sustentável). Essa iniciativa, lançada em janeiro pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), tem como objetivo estimular, em diversos países e também em nível global, inovações em políticas públicas que possam acelerar a alocação de recursos pelo sistema financeiro global rumo à economia verde e socialmente inclusiva.
No Brasil, o Pnuma encontrou como parceiro a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), que, por sua vez, escolheu o Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV-Eaesp (GVces), em parceria com a Resultante Consultoria Estratégica, para executar esse conjunto de estudos.
Além de mostrar o panorama dos recursos investidos na economia verde brasileira, entre financiamentos, empréstimos, investimentos e seguros, os estudos traçam uma linha do tempo com os principais marcos de regulação e autorregulação da indústria financeira voltados para a sustentabilidade e ainda apresentam um conjunto de recomendações para uma agenda financeira verde até 2020.
A partir desse passo inicial, será possível, por exemplo, criar históricos e bases internacionais de comparação em relação a alocação de recursos. Confira as apresentações completas.
Brasil perde espaço em renováveis
Apesar de as fontes alternativas de energia serem estratégicas em um cenário de crescente incerteza climática e tendência à descarbonização da economia, o Brasil tem ficado para trás: ocupa o pífio 1,4% do bolo mundial de investimentos, em comparação a 2,8% da Índia e 26% da China. Os US$ 3,1 bilhões investidos pelo País nessas fontes em 2013 mostram considerável queda em relação a 2012 (US$ 6,7 bilhões) e a 2011 (US$ 9,5 bilhões): é o valor mais baixo investido pelo Brasil desde 2005. O baixo aporte em energia solar também chama atenção. Esses e outros dados constam no relatório Global Trends in Renewable Energy Investment 2014 (ou Tendências Globais em Investimentos em Energias Renováveis), produzido pela Frankfurt School-Unep Centre.
Embora a matriz elétrica brasileira se destaque pelos 79,3% em renováveis (principalmente grandes hidrelétricas), na matriz energética as fontes fósseis predominam com 55% (em especial petróleo e gás natural), ante 45% de renováveis. Para reverter essa situação e atrair investimentos, o estudo sobre o papel do SFN no desenvolvimento da economia verde faz uma série de recomendações, com foco no mercado e na agenda pública.
Crédito rural: mudança de cultura
Financiar o setor que contribui para grande parte das emissões brasileiras de gases-estufa e ao mesmo tempo combater a mudança climática: apesar da proposta inovadora do Programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC), a sua taxa de execução é de apenas de 57%. Com base em dados do Observatório ABC, o estudo O Papel do SFN no Desenvolvimento da Economia Verde identificou obstáculos como os significativos custos de transação dos bancos privados junto ao BNDES e falta de base de dados sobre a regularidade ambiental e fundiária das propriedades rurais, gerando insegurança jurídica e financeira.
Entre os ajustes que o estudo recomenda, destaca-se a mudança cultural na concessão do crédito rural – que tradicionalmente é voltado para itens concretos e específicos, como máquinas, sementes e fertilizantes. Já o Programa ABC propõe uma mudança de paradigma, pois financia processos de instalação de tecnologias e práticas que auxiliam na redução de emissões, atendendo a um objetivo de forma sistêmica e não isolada.
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Em meados de agosto, o evento Sistema Financeiro Nacional e a Economia Verde lançou a prévia de um conjunto inédito de estudos acerca do alinhamento do sistema financeiro com o desenvolvimento sustentável. Realizado em São Paulo, com 480 participantes, o evento tratou da atual alocação de recursos na “economia verde” brasileira, do quadro institucional e regulatório do País, e da relação entre finanças e sustentabilidade em setores estratégicos, como agropecuária e energias renováveis (mais nas duas notas abaixo).
Trata-se de uma contribuição à “Inquiry on the Design of a Sustainable Financial System” (em tradução livre, Consulta sobre o Desenho de um Sistema Financeiro Sustentável). Essa iniciativa, lançada em janeiro pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma), tem como objetivo estimular, em diversos países e também em nível global, inovações em políticas públicas que possam acelerar a alocação de recursos pelo sistema financeiro global rumo à economia verde e socialmente inclusiva.
No Brasil, o Pnuma encontrou como parceiro a Federação Brasileira de Bancos (Febraban), que, por sua vez, escolheu o Centro de Estudos em Sustentabilidade da FGV-Eaesp (GVces), em parceria com a Resultante Consultoria Estratégica, para executar esse conjunto de estudos.
Além de mostrar o panorama dos recursos investidos na economia verde brasileira, entre financiamentos, empréstimos, investimentos e seguros, os estudos traçam uma linha do tempo com os principais marcos de regulação e autorregulação da indústria financeira voltados para a sustentabilidade e ainda apresentam um conjunto de recomendações para uma agenda financeira verde até 2020.
A partir desse passo inicial, será possível, por exemplo, criar históricos e bases internacionais de comparação em relação a alocação de recursos. Confira as apresentações completas.
Brasil perde espaço em renováveis
Apesar de as fontes alternativas de energia serem estratégicas em um cenário de crescente incerteza climática e tendência à descarbonização da economia, o Brasil tem ficado para trás: ocupa o pífio 1,4% do bolo mundial de investimentos, em comparação a 2,8% da Índia e 26% da China. Os US$ 3,1 bilhões investidos pelo País nessas fontes em 2013 mostram considerável queda em relação a 2012 (US$ 6,7 bilhões) e a 2011 (US$ 9,5 bilhões): é o valor mais baixo investido pelo Brasil desde 2005. O baixo aporte em energia solar também chama atenção. Esses e outros dados constam no relatório Global Trends in Renewable Energy Investment 2014 (ou Tendências Globais em Investimentos em Energias Renováveis), produzido pela Frankfurt School-Unep Centre.
Embora a matriz elétrica brasileira se destaque pelos 79,3% em renováveis (principalmente grandes hidrelétricas), na matriz energética as fontes fósseis predominam com 55% (em especial petróleo e gás natural), ante 45% de renováveis. Para reverter essa situação e atrair investimentos, o estudo sobre o papel do SFN no desenvolvimento da economia verde faz uma série de recomendações, com foco no mercado e na agenda pública.
Crédito rural: mudança de cultura
Financiar o setor que contribui para grande parte das emissões brasileiras de gases-estufa e ao mesmo tempo combater a mudança climática: apesar da proposta inovadora do Programa Agricultura de Baixo Carbono (ABC), a sua taxa de execução é de apenas de 57%. Com base em dados do Observatório ABC, o estudo O Papel do SFN no Desenvolvimento da Economia Verde identificou obstáculos como os significativos custos de transação dos bancos privados junto ao BNDES e falta de base de dados sobre a regularidade ambiental e fundiária das propriedades rurais, gerando insegurança jurídica e financeira.
Entre os ajustes que o estudo recomenda, destaca-se a mudança cultural na concessão do crédito rural – que tradicionalmente é voltado para itens concretos e específicos, como máquinas, sementes e fertilizantes. Já o Programa ABC propõe uma mudança de paradigma, pois financia processos de instalação de tecnologias e práticas que auxiliam na redução de emissões, atendendo a um objetivo de forma sistêmica e não isolada.