Estudos apontam para crescimento nas emissões brasileiras
Na última década, o Brasil se destacou internacionalmente pela redução drástica de suas emissões de gases de efeito estufa (GEE), por meio da diminuição da taxa de desmatamento na Amazônia (queda de quase 70% entre 2004 e 2012). Essa situação colocou o País em uma posição particularmente vantajosa nas negociações internacionais do novo acordo climático global que deverá suceder o Protocolo de Kyoto, a partir de 2020.
No entanto, números apresentados pelo Observatório do Clima (OC) apontam que o aumento das emissões nacionais em setores-chave como energia, transporte, agropecuária, indústria e resíduos sólidos pode levar à reversão do quadro atual: o Brasil chegaria a 2020 com uma forte tendência de crescimento das emissões.
O documento Análise do Panorama Atual de Emissões Brasileiras – Tendências e Desafios, elaborado pelo OC a partir de seu Sistema de Estimativa de Emissão de GEE (Seeg), mapeou a trajetória das emissões nacionais entre 1990 e 2012. De acordo com o estudo, as emissões brutas brasileiras passaram de 1,39 bilhão de gigatoneladas de carbono equivalente (GtCO2e) em 1990 para 1,48 GtCO2e em 2012, um aumento de 7%. No mesmo período, as emissões globais cresceram 37% e passaram de 38 bilhões para 52 bilhões de GtCO2e.
Nesses 22 anos, o perfil das emissões brasileiras (ver gráfico) também mudou: a partir de 2004, as emissões associadas à mudança no uso da terra caíram vertiginosamente (42%). No entanto, nos outros quatro setores analisados pelos estudos, observou-se uma tendência nítida de aumento. O setor de energia foi o que apresentou maior pressão, com crescimento de 126% no período. Nos setores de processos industriais e resíduos, as emissões aumentaram respectivamente 65% e 64%. Já no setor agropecuário, a alta registrada foi de 45% entre 1990 e 2012.
A representatividade desses cinco setores dentro do inventário nacional de emissões mudou profundamente nesse período. Nos anos 1990, as emissões de mudança no uso da terra representavam quase 70% das emissões nacionais. Em 2012, esse valor tinha caído para 32%, equiparando-se aos setores de energia e agropecuária, com 30% cada. É exatamente essa mudança profunda no perfil das emissões brasileiras que impõe um desafio claro para as políticas públicas: reduzir emissões a partir da queda no desmatamento não é mais suficiente.
“O Brasil deverá cumprir a meta voluntária de redução de emissões fixada em 2010 para 2020, mas, seguindo a trajetória atual, é provável que nos próximos anos reduções adicionais do desmatamento sejam inferiores ao aumento de emissões nos demais setores, levando a um novo período de crescimento”, argumenta Tasso Azevedo, coordenador do Seeg.
É necessário planejar e investir em um modelo de desenvolvimento baseado em reduções progressivas de emissões, aponta Carlos Rittl, secretário-executivo do OC. “No Brasil, não temos ainda essa visão de longo prazo. O País está ficando para trás nos investimentos em uma economia de baixo carbono”, afirma.
SINTONIZANDO
RELATÓRIO GVces 2013
Confira os destaques do trabalho do GVces em 2013 em nosso Relatório de Atividades totalmente digital, trazendo desta vez uma linguagem mais artística e lúdica, alinhada com a transdisciplinaridade de nossos projetos e ações.
III FÓRUM MOBILIZE
O Mobilize Brasil realizou em setembro o III Fórum Mobilize, encontro que reuniu especialistas para debater o legado da Copa do Mundo e das Olimpíadas de 2016 e o potencial desses megaeventos para a transformação das cidades brasileiras. Realizado na FGV em São Paulo, o evento contou com apoio do GVces.
BIODIVERSIDADE E NEGÓCIOS
A Union for Ethical BioTrade (UEBT) realizou sua 5ª Conferência Anual na FGV em São Paulo, em agosto. O evento reuniu especialistas e convidados para debater os desafios e as possibilidades dos negócios em biodiversidade como um caminho para conservar os recursos naturais.