Em tempos eleitorais, os candidatos repetem o rol de itens que pretendem garantir aos cidadãos, caso vençam nas urnas. É um momento especialmente propício para pensar em aspirações. O que desejamos? Do que precisamos? A lista pode ficar ainda mais extensa se forem incluídos os bens que gradativamente perdemos no trecho recente da linha do tempo da civilização.
Muitas das aspirações mais simples nem sequer seriam lembradas, encobertas pelo avanço tecnocientífico que dita o desenvolvimento desde a Era Moderna. Essa evolução pouco a pouco afastou o homem de sensações primordiais que o conectavam com o ambiente à sua volta, especialmente nas grandes cidades. Prazeres singelos, mas marcantes, foram literalmente ofuscados pelos excessos de luz, ruído, conectividade, estímulos de toda ordem. Perdemos em quietude, contemplação e valorização do essencial. Obviamente cada um é livre para formar seu código de valores e ter opiniões distintas sobre o que é precioso, mas falamos aqui de aspirações fundamentais, de mínimos denominadores comuns ao ser humano.
Geoffrey Miller, professor de Psicologia Evolutiva da Universidade do Novo México, dedicou as últimas páginas de seu livro Darwin Vai às Compras, de 2009, a divertidos testes para o leitor. Um deles especifica o quanto nossas vidas equivalem às de nossos ancestrais mais felizes. Entre os itens estão “Sentiu o sol nascente esquentar seu rosto”, “Satisfez uma sede genuína bebendo água fresca”, “Ninou um bebê recém-nascido até ele dormir”, “Consolou alguém que estava morrendo”, “Trabalhou com terra, barro, pedra, madeira ou fibra”, “Aqueceu-se junto a uma fogueira sob as estrelas”, “Sustentou um contato visual silencioso com alguém para demonstrar afeto”.
A lista do teste é grande e muitos itens pouco condizem com a vida contemporânea. O que nos faz perguntar: por que seguimos outro caminho? Dizem que somos cúmplices, não vítimas: o excesso de estímulos e o ritmo acelerado nos ajuda a não procurar sentido nem a perceber as imperfeições da vida.
Boa leitura!