A primeira impressão é a que fica”, diz o ditado. O que até pouco tempo atrás não sabíamos, entretanto, é quão pouco tempo levamos para formar essa primeira impressão. De acordo com pesquisas utilizando ressonância magnética funcional (fMRI), observar um rosto por um segundo é o bastante para que nossos cérebros façam inferências sobre a personalidade da pessoa em questão. Como isso se aplica na hora do voto?
Na última coluna (“Bilhete premiado”) abordei a questão do valor que atribuímos, ainda que de maneira inconsciente, às aparências, com consequências (em geral negativas) para outros valores caros para nós enquanto sociedade, como a igualdade de oportunidades — uma vez que a beleza não é igualmente distribuída entre a população. Em tempos de eleições, parece importante destacar o que aprendemos recentemente sobre critérios muitas vezes ocultos por trás das escolhas que fazemos sobre nossos representantes políticos.
Em 2005, pesquisadores da Universidade de Princeton testaram a capacidade que inferências instantâneas sobre rostos tinham para prever o resultado de eleições (ver estudo). O experimento expôs a voluntários, por apenas um segundo, fotos de candidatos ao Congresso americano desconhecidos por eles. Pediu-se que fossem avaliados em termos de competência, característica considerada muito importante na hora do voto. O candidato avaliado como o mais competente venceu em 72% das disputas para o Senado e 67% das disputas para a Câmara.
E mais: as inferências sobre competência não apenas previam o resultado do pleito, como estavam linearmente relacionadas com a margem de votos entre o vencedor e o perdedor (as eleições para a Câmara são majoritárias nos EUA).
Em 2008, pesquisadores da Universidade Northwestern, utilizando metodologia similar, encontraram uma diferença de critérios entre eleitores homens e mulheres na avaliação de candidatos hipotéticos (ver estudo). Embora todos valorizassem aqueles percebidos como mais competentes, eleitores homens preferiram candidatas mulheres mais atraentes, enquanto eleitoras mulheres demonstraram valorizar candidatos homens mais afáveis — segundo os autores, um “atalho mental” do comportamento reprodutivo remanescente de nosso processo evolutivo.
Os modelos tradicionais de explicação do voto enfatizam elementos como alinhamento ideológico e situação da economia (crescimento premia continuidade, crises incitam a troca de comando). Tudo isso permanece válido, mas um corpo crescente de estudos vem mostrando que também há muitos critérios subjetivos envolvidos na escolha de nossos representantes, desmistificando a ideia de um “eleitor racional”.
Isso diminuiria de alguma forma a importância do debate político e do confronto de ideias entre os candidatos? Decerto que não. Se para ser eleito a genética às vezes ajuda, para o exercício de governar, o poder está nas ideias.
*Doutor em Administração Pública e Governo