“Ameaça multiplicadora” é como o Pentágono qualifica a mudança climática, no recém-lançado relatório 2014 Climate Change – Adaptation Roadmap. O Departamento de Defesa da nação mais poderosa do mundo entende que os efeitos do aquecimento global exacerbam os desafios com os quais tem de lidar, do controle da epidemia do Ebola até as ações terroristas do Estado Islâmico. Para o Pentágono, o desequilíbrio climático tende a intensificar a seca, a fome e a pobreza, gerando mais instabilidade e conflitos. No Brasil, tem ficado mais clara a conexão entre a falta d’água sem precedentes e o desmatamento florestal.
Espera-se que constatações desse peso pressionem a assinatura de um acordo global em 2015, na Conferência das Partes em Paris, cuja costura se inicia na COP deste ano, em dezembro, em Lima. O comprometimento com metas ambiciosas de redução de emissões – sucedendo o Protocolo de Kyoto – é a chance que o mundo tem para se desviar da rota que o conduz a um futuro bem pouco promissor. Para se ter ideia do esforço necessário para atingir o menos pessimista dos cenários traçados pelos cientistas, o sistema global de energia terá de se tornar praticamente carbono-zero até o fim deste século.
A boa notícia é a crescente preocupação dos atores econômicos com o clima, o que pode funcionar como um impulsionador das novas regulações – no Brasil, por exempo, ainda não existe um mercado de carbono. Quando a família Rockefeller – cuja fortuna foi construída com base no petróleo – anuncia desinvestimentos bilionários em ativos fósseis, acena para um mundo de baixo carbono. Quando mais de mil empresários apoiam um manifesto do Pacto Global para a precificação do carbono, mais um recado é dado.
Além de mecanismos de mercado, a precificação que penaliza as emissões e premia a atividade limpa pode contar com poderosos instrumentos fiscais. A tributação é objeto de um especial, publicado nesta edição, com apoio do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), organização que tem contribuído para promover o debate sobre uma política fiscal verde no Brasil.
Boa leitura!