PRATA DA CASA
Faca de dois gumes
Manipular o clima com mecanismos artificiais e em larga escala (geoengenharia) amenizaria o aquecimento global, mas a um preço que pode não compensar. As pesquisas sobre a viabilidade de se desenvolver novas tecnologias e aplicá-las em larga escala ainda precisam avançar muito. “Mas cada método pesquisado deve levar em conta os efeitos colaterais”, ressalta o professor Paulo Artaxo, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo. Ele é um dos autores de um estudo científico sobre os impactos da geoengenharia, encomendado pelo Programa Internacional da Geosfera-Biosfera (IGBP) e publicado na revista Ambio.
Resultado rápido, mas paliativo
Entre as possibilidades de manipulação cogitadas, as de resultado mais rápido são as que agiriam para refletir os raios solares, mandando-os de volta para o espaço antes que chegassem à superfície. Isso resfriaria a Terra em poucos meses. Poderia ser feito com a instalação de espelhos gigantes no espaço ou pela melhora do albedo (medida de refletividade das nuvens) ou ainda com a pulverização de partículas refletivas de sulfato na estratosfera. Também fala-se em pintar de branco superfícies como tetos de prédios e cobrir o deserto com plantas refletivas.
Nem todas essas teorias foram testadas cientificamente – caso dos espelhos –, e as que foram carecem de novos experimentos para precisar as condições ideais para surgir efeitos positivos (local exato e extensão da região escolhida etc). Porém, como a natureza é um sistema interdependente e complexo, é impossível prever todas consequências dos projetos dessa magnitude. Mas é sabido que a manipulação dos albedos e a intensificação dos aerossóis alterariam os ciclos de chuva, o que pode impactar na produção de alimentos.
Todos métodos de Gerenciamento da Radiação Solar (SRM, na sigla em inglês) são paliativos. Se interrompidos, o mundo voltaria a aquecer, e rápido, o que ameaçaria a sobrevivência de muitas pessoas e espécies, que não teriam condições ou tempo hábil para se readaptar ao novo clima.
Resultado perene, mas lento
Esse problema relatado acima não se repetiria nas tecnologias voltadas para a Remoção do Dióxido de Carbono (CDR, na sigla em inglês), que agem diretamente na causa. Assim, em algumas décadas, a concentração de CO2 voltaria aos patamares da era pré-industrial. Fertilizar os oceanos com ferro ─ uma das alternativas nesse sentido ─ estimularia o crescimento de fitoplânctons (microalgas que consomem gás carbônico), mas alteraria a cadeia alimentar das espécies, o que prejudicaria o ecossistema marinho. No caso das técnicas de captura e armazenamento do carbono no solo (CCS, na sigla em inglês), há dúvidas sobre a capacidade de retenção do carbono no longo prazo.
Quanto aos impactos específicos de cada medida, no que diz respeito ao reflorestamento, eles dependem do tipo de espécies plantadas e da quantidade necessária de fertilizante e de água para acelerar a captura de carbono. Porém, mesmo que se encontre a fórmula ideal para tais fatores, o equilíbrio hidrológico e o albedo das nuvens seriam afetados, influenciando os padrões de precipitação regional. Como alternativa, cogitou-se em utilizar máquinas que fizessem as vezes de árvore, ou seja, uma fotossíntese artificial. Segundo o professor Artaxo, não há qualquer demonstração prática a esse respeito.
“Algumas soluções são eficientes na pequena escala, não na grande”, observa o físico, reforçando a necessidade de considerar prós e contras sempre. Ele lembra que investir na queima da biomassa (resíduos orgânicos) para gerar energia implicaria no uso de terras agrícolas que seriam para a produção de alimentos. Além disso, a monocultura (caso do investimento na biomassa de cana-de-açúcar, proveniente da produção do etanol) prejudica a biodiversidade.
Longo caminho a percorrer
Categórico, o professor afirma que hoje a geoengenharia não é um caminho. “As alternativas atuais trazem mais problemas que soluções”. Significa que reduzir as emissões mundiais de gases poluentes continua sendo o plano A.
Anos atrás, o físico John Shepherd, estudioso do tema e ligado a instituição britânica Royal Society, defendeu a importância de se ter um plano B, caso a redução obtida não seja suficiente. Shepherd faz parte do grupo internacional que, juntamente com Artaxo, elaborou o estudo entregue ao IGBP.
No documento, além de ressaltar a necessidade de amadurecimento das pesquisas ambientais de manipulação climática, eles ressaltam a importância do debate internacional sobre questões éticas, políticas e de gestão, uma vez que as medidas adotadas envolveriam espaços e consequências interterritoriais.
MUNDO AFORA
Manguezais ameaçados
A degradação dos manguezais caminha em um ritmo até cinco vezes maior que a florestal. Em setembro, um relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) alertou que mais de 25% desse ecossistema já foi perdido. Agricultura, aquacultura e poluição são algumas das causas. Só a mudança climática ameaça uma perda de 10% a 15% da área até 2100. Além de absorver carbono e abrigar espécies – esse ecossistema beneficia 100 mil pessoas próximas a ele –, 7% dos manguezais do planeta estão no Brasil. Saiba mais na Rádio ONU.
VALE O CLICK
MAPA DO CARBONO
Uma ferramenta atualizada recentemente pelo jornal The Guardian ajuda a entender as relações entre os países e o efeito estufa. Dinâmico, o mapa “infla” ou “murcha” o país conforme a intensidade de suas ações. Mostra, por exemplo, quem são os mais poluentes, os mais vulneráveis e o volume de emissão de gases de cada local. Com legendas e narração em português, inglês e espanhol.
APP COM PEGADA
Carbon Footprint Calculator é um aplicativo que calcula a pegada de carbono do usuário e o ajuda a determinar uma meta de redução. Basta digitar informações como consumo mensal de luz, gás natural e óleo, além do tempo médio gasto que os aparelhos eletrônicos ficam ligados. Disponível gratuitamente para aparelhos do sistema Android.
COMPOSTAGEM CASEIRA
Fazer compostagem doméstica é um jeito de reciclar os resíduos orgânicos e transformá-los em adubo para plantas. Contribui também para a redução das emissões de gás metano, um poderoso causador do efeito estufa. No site, há um vídeo que ensina a técnica. Procurando por esse mesmo nome no Facebook, é possível encontrar um grupo criado para troca de experiências entre os praticantes.[:en]PRATA DA CASA
Faca de dois gumes
Manipular o clima com mecanismos artificiais e em larga escala (geoengenharia) amenizaria o aquecimento global, mas a um preço que pode não compensar. As pesquisas sobre a viabilidade de se desenvolver novas tecnologias e aplicá-las em larga escala ainda precisam avançar muito. “Mas cada método pesquisado deve levar em conta os efeitos colaterais”, ressalta o professor Paulo Artaxo, do Instituto de Física da Universidade de São Paulo. Ele é um dos autores de um estudo científico sobre os impactos da geoengenharia, encomendado pelo Programa Internacional da Geosfera-Biosfera (IGBP) e publicado na revista Ambio.
Resultado rápido, mas paliativo
Entre as possibilidades de manipulação cogitadas, as de resultado mais rápido são as que agiriam para refletir os raios solares, mandando-os de volta para o espaço antes que chegassem à superfície. Isso resfriaria a Terra em poucos meses. Poderia ser feito com a instalação de espelhos gigantes no espaço ou pela melhora do albedo (medida de refletividade das nuvens) ou ainda com a pulverização de partículas refletivas de sulfato na estratosfera. Também fala-se em pintar de branco superfícies como tetos de prédios e cobrir o deserto com plantas refletivas.
Nem todas essas teorias foram testadas cientificamente – caso dos espelhos –, e as que foram carecem de novos experimentos para precisar as condições ideais para surgir efeitos positivos (local exato e extensão da região escolhida etc). Porém, como a natureza é um sistema interdependente e complexo, é impossível prever todas consequências dos projetos dessa magnitude. Mas é sabido que a manipulação dos albedos e a intensificação dos aerossóis alterariam os ciclos de chuva, o que pode impactar na produção de alimentos.
Todos métodos de Gerenciamento da Radiação Solar (SRM, na sigla em inglês) são paliativos. Se interrompidos, o mundo voltaria a aquecer, e rápido, o que ameaçaria a sobrevivência de muitas pessoas e espécies, que não teriam condições ou tempo hábil para se readaptar ao novo clima.
Resultado perene, mas lento
Esse problema relatado acima não se repetiria nas tecnologias voltadas para a Remoção do Dióxido de Carbono (CDR, na sigla em inglês), que agem diretamente na causa. Assim, em algumas décadas, a concentração de CO2 voltaria aos patamares da era pré-industrial. Fertilizar os oceanos com ferro ─ uma das alternativas nesse sentido ─ estimularia o crescimento de fitoplânctons (microalgas que consomem gás carbônico), mas alteraria a cadeia alimentar das espécies, o que prejudicaria o ecossistema marinho. No caso das técnicas de captura e armazenamento do carbono no solo (CCS, na sigla em inglês), há dúvidas sobre a capacidade de retenção do carbono no longo prazo.
Quanto aos impactos específicos de cada medida, no que diz respeito ao reflorestamento, eles dependem do tipo de espécies plantadas e da quantidade necessária de fertilizante e de água para acelerar a captura de carbono. Porém, mesmo que se encontre a fórmula ideal para tais fatores, o equilíbrio hidrológico e o albedo das nuvens seriam afetados, influenciando os padrões de precipitação regional. Como alternativa, cogitou-se em utilizar máquinas que fizessem as vezes de árvore, ou seja, uma fotossíntese artificial. Segundo o professor Artaxo, não há qualquer demonstração prática a esse respeito.
“Algumas soluções são eficientes na pequena escala, não na grande”, observa o físico, reforçando a necessidade de considerar prós e contras sempre. Ele lembra que investir na queima da biomassa (resíduos orgânicos) para gerar energia implicaria no uso de terras agrícolas que seriam para a produção de alimentos. Além disso, a monocultura (caso do investimento na biomassa de cana-de-açúcar, proveniente da produção do etanol) prejudica a biodiversidade.
Longo caminho a percorrer
Categórico, o professor afirma que hoje a geoengenharia não é um caminho. “As alternativas atuais trazem mais problemas que soluções”. Significa que reduzir as emissões mundiais de gases poluentes continua sendo o plano A.
Anos atrás, o físico John Shepherd, estudioso do tema e ligado a instituição britânica Royal Society, defendeu a importância de se ter um plano B, caso a redução obtida não seja suficiente. Shepherd faz parte do grupo internacional que, juntamente com Artaxo, elaborou o estudo entregue ao IGBP.
No documento, além de ressaltar a necessidade de amadurecimento das pesquisas ambientais de manipulação climática, eles ressaltam a importância do debate internacional sobre questões éticas, políticas e de gestão, uma vez que as medidas adotadas envolveriam espaços e consequências interterritoriais.
MUNDO AFORA
Manguezais ameaçados
A degradação dos manguezais caminha em um ritmo até cinco vezes maior que a florestal. Em setembro, um relatório do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma) alertou que mais de 25% desse ecossistema já foi perdido. Agricultura, aquacultura e poluição são algumas das causas. Só a mudança climática ameaça uma perda de 10% a 15% da área até 2100. Além de absorver carbono e abrigar espécies – esse ecossistema beneficia 100 mil pessoas próximas a ele –, 7% dos manguezais do planeta estão no Brasil. Saiba mais na Rádio ONU.
VALE O CLICK
MAPA DO CARBONO
Uma ferramenta atualizada recentemente pelo jornal The Guardian ajuda a entender as relações entre os países e o efeito estufa. Dinâmico, o mapa “infla” ou “murcha” o país conforme a intensidade de suas ações. Mostra, por exemplo, quem são os mais poluentes, os mais vulneráveis e o volume de emissão de gases de cada local. Com legendas e narração em português, inglês e espanhol.
APP COM PEGADA
Carbon Footprint Calculator é um aplicativo que calcula a pegada de carbono do usuário e o ajuda a determinar uma meta de redução. Basta digitar informações como consumo mensal de luz, gás natural e óleo, além do tempo médio gasto que os aparelhos eletrônicos ficam ligados. Disponível gratuitamente para aparelhos do sistema Android.
COMPOSTAGEM CASEIRA
Fazer compostagem doméstica é um jeito de reciclar os resíduos orgânicos e transformá-los em adubo para plantas. Contribui também para a redução das emissões de gás metano, um poderoso causador do efeito estufa. No site, há um vídeo que ensina a técnica. Procurando por esse mesmo nome no Facebook, é possível encontrar um grupo criado para troca de experiências entre os praticantes.